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Exportar a escola 

Importa ver o país e as cidades envolvidas num esforço direto de promoção do destino enquanto local de estudo, valorizando os nossos fatores mais competitivos.

O ensino superior enquanto actividade exportadora tem um invulgar potencial. A mobilidade internacional dos estudantes universitários é uma realidade imparável deste século XXI, quer no plano europeu (aliás um dos mais importantes e silenciosos instrumentos de desenvolvimento da identidade europeia), quer também, e cada vez mais, entre continentes.

 

Para responder a este movimento e nele construir-se uma posição competitiva, várias escolas portuguesas, e bem, têm procurado incrementar a sua qualidade e reputação medida e certificada através de acreditações internacionais e de presença nos principais "rankings". Ter escolas com boa reputação naturalmente prestigia o país, valoriza-nos na economia do conhecimento, atrai e retém talento, favorecendo o desenvolvimento empresarial. É, pois um resultado e uma aposta importante, mas apenas responde a uma parte deste movimento global de estudantes. Com efeito, circulam internacionalmente, todos os anos, muito bons alunos, bons alunos, razoáveis alunos e fracos alunos, todos procurando opções de escolas para realizarem um programa de intercâmbio ou um programa "full-time" (geralmente a nível de mestrado).

 

Há, pois um mercado bem mais vasto que pode ser conquistado por múltiplas instituições desde que se prepararem para este desafio que se centra muito em dois elementos: numa oferta de programas em língua inglesa e informação antecipada e fiável sobre esses programas nomeadamente em termos de calendários, candidaturas e propinas.

 

Acresce que enquanto país temos à partida condições excecionais para potenciar a oferta local de ensino vocacionada de modo a acolher alunos estrangeiros, a saber, um clima invejável durante todo o ano, níveis de segurança para o comum do cidadão elevados quando nos comparamos com outros países e outros continentes, um custo de vida, em contexto europeu, muito competitivo e sermos uma sociedade que acolhe e trata bem os visitantes. No essencial, o mesmo quadro que tem potenciado o extraordinário crescimento do turismo em Portugal.

 

A captação de alunos estrangeiros oferece ainda uma alternativa de crescimento às instituições de ensino superior perante a redução inexorável do número de alunos decorrente do envelhecimento da população. Promove também um ambiente mais cosmopolita nas nossas cidades e universidades, com as vantagens de proporcionar uma vivência internacional aos nossos alunos, em particular para aqueles que porventura não tenham possibilidades económicas de passar alguns meses a estudar no estrangeiro.

 

Noutra perspetiva nota-se já que este novo mercado, sobretudo em Lisboa e Porto, já está a ter impacto em termos imobiliários, com operadores privados que começam a desenvolver, segundo os melhores "standards" internacionais, uma oferta dedicada de alojamento para universitários, essencial para a sustentabilidade bem-sucedida desta atividade exportadora.

 

Mas há ainda que mobilizar diversas entidades e vontades. Continuam a existir dificuldades de obtenção de vistos por parte de alunos fora da UE, devendo a rede consular ser mais extensa (com a inclusão de outras entidades com representação externa e com uma ligação bem mais direta com as instituições universitárias na validação dos potenciais alunos e agilização da burocracia). De igual modo, importa ver o país e as cidades envolvidas num esforço direto de promoção do destino enquanto local de estudo, valorizando os nossos fatores mais competitivos.

 

Está-se perante um "cluster" com potencial anual na ordem das centenas de milhões de euros, que pode promover mais um elemento diferenciador e rumo a uma economia mais desenvolvida e competitiva.

 

Professor na ISCTE Business School

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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