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07 de Janeiro de 2018 às 21:05

Pagar impostos é bom

O Presidente da República também pensa que foi um ano estranho, mas aí ele engana-se ou então quis ser simpático. Os incêndios, o roubo de material militar em Tancos, a balbúrdia na associação Raríssimas… tudo isso não pode ser considerado bizarro ou inesperado.

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Foi realmente um ano contraditório, como disse Marcelo Rebelo de Sousa no discurso do ano novo. Boas notícias económicas - crescimento robusto, mais emprego - e até sólidos resultados financeiros, isto é, menos défice, menos dívida pública e privada em percentagem do PIB, juros mais baixos.

O Presidente da República também pensa que foi um ano estranho, mas aí ele engana-se ou então quis ser simpático. Os incêndios, o roubo de material militar em Tancos, a balbúrdia na associação Raríssimas… tudo isso não pode ser considerado bizarro ou inesperado.

 

A nossa desorganização coletiva é o contexto ideal para este género de desmandos e de crises agudas. A gravidade do tombo pode variar. Mas o risco, o risco estrutural, está sempre presente. A recente crise económica e o desinvestimento inevitável que lhe esteve associado acelerou seguramente a degradação que agora se manifestou sem clemência.

 

A maior ou menor competência dos servidores públicos, em especial nos cargos de chefia, pode também expor de repente os problemas ou, pelo contrário, pode evitar que eles venham ao de cima. O esforço imenso que vemos nos hospitais pelo país fora, o empenho de tantas pessoas nos mais diferentes serviços é umas das características que nos tem evitado males maiores.

 

Na realidade, o Estado e o setor privado funcionam mal ou já não funcionam o suficientemente bem para acorrer às exigências. Não somos o único país assim, é verdade, mas o nosso problema… teremos de ser nós a resolvê-lo. E é por isso que Marcelo Rebelo de Sousa definiu mal o ano de 2017 e me leva hoje a voltar ao assunto. Não, as desgraças que nos caíram em cima não foram estranhas. Não foi estranha a resposta desastrada da proteção civil. Mais cedo ou mais tarde, teria de acontecer assim como aconteceu, com violência.

 

O primeiro passo para a cura é, portanto, reconhecermos o problema. O Estado tem um problema, sim. Mas ele não começa e acaba aí. O Estado somos nós, os portugueses. O problema só se resolverá quando percebermos que não basta exigir aos outros. A mudança começa em cada um de nós, passo a passo, decisão a decisão.

 

Passa também por entendermos todos que nesta fase do país pagar impostos, por mais desagradável que seja, é mais importante do que nunca. É fundamental exigir qualidade, mais critério e transparência nas políticas púbicas, mas a ladainha instalada sobre o peso excessivo da fiscalidade, embuta natural, não traz nada de bom na asa. É um discurso tantas vezes mal fundamentado que rapidamente se torna populista e que tenderá a deixar os mais desfavorecidos para trás. Não é o que desejo para 2018. E é por isso que aceito pagar o meu quinhão.

 

Este artigo está em conformidade com o novo acordo ortográfico

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