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26 de Dezembro de 2016 às 20:10

Ironia natalícia

Não deixa de ser irónico, para não dizer revelador, que o Primeiro-Ministro tenha decido destacar na sua mensagem de Natal três áreas em que o seu Governo foi confrontado com evidências imparciais do acerto de políticas que herdou do anterior governo e que desmentem a narrativa das esquerdas: educação, combate à pobreza e emprego.

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Durante quatro anos ouvimos as esquerdas dizer que o Estado Social estava em risco com o anterior Governo: a escola estava em causa, a pobreza e a desigualdade eram escandalosas, as reformas laborais criavam uma via verde para o desemprego. Um cenário de horror, a maldade em forma de política, o fim do Estado Social como objetivo, o empobrecimento como método.

Foi nesse pressuposto que se criou a atual maioria de esquerda. Como o Estado Social estava em risco, havia que juntar forças que durante décadas se combateram entre si, de forma a eliminar a terrível ameaça. Mais quatro anos de PSD e CDS e não sobraria pedra sobre pedra do país social, só miséria e pobreza e uns quantos ricos.

Durante o último ano lá se fizeram os acordos e lá se aprovaram os Orçamentos e lá se reverteu tudo o que pudesse cheirar a reforma do anterior Governo, tudo o que pudesse ser entendido como abertura, flexibilização, liberalização, liberdade de escolha. Foi tudo a eito, ou prepara-se para ir a eito.

E eis senão quando surgem três dados que desmontam essa narrativa e, pior ainda, que apontam para acertos das políticas do anterior Governo (deixemos de lado a circunstância de não haver Estado Social com um Estado falido, uma verdade que convém recordar a quem encontrou o país sem Troika e com um défice de 3%).

Primeiro dado, o INE confirmou uma descida significativa da desigualdade em 2014 e 2015. Em 2015, diz o INE, estávamos já melhor do que em 2008, o ano da crise. Está tudo bem? Claro que não, mas devemos aproveitar o que foi feito para reduzir a desigualdade, reforçando e afinando, não deitando tudo para o lixo só porque vem da terrível direita que ama os ricos e despreza os pobres.

Segundo dado, dois importantes estudos, o PISA e o TIMMS, confirmaram melhorias na educação nos últimos anos, com alunos portugueses a registarem resultados históricos. Está tudo bem? Claro que não, mas temos de saber ao certo o que funcionou com estes alunos, mantendo e melhorando, não revogando e revertendo só porque a CGTP tem outra agenda e a direita só quer saber dos colégios dos meninos ricos.

Terceiro dado, um estudo da OCDE confirmou a qualidade da reforma laboral aprovada pelo anterior Governo, que tem contribuído de forma significativa para a redução do desemprego. Está tudo bem? Claro que não, mas se a flexibilização da legislação laboral se traduziu em mais emprego, se os seus resultados se estão a sentir, convinha não a reverter só porque não calha bem com o mantra das esquerdas.

As políticas devem medir-se pelos seus resultados, não pelas suas narrativas, e é isso, só isso, que deve pedir-se a um Governo de orientação política distinta. Com certeza que há espaço para políticas diferentes, conflituantes, mas não se mude o que está a resultar.

É neste contexto que a mensagem de Natal do Primeiro-Ministro se revela em toda a sua ironia. Quando quis distinguir-se do anterior Governo, com um maior pendor social, não soube senão destacar áreas em que são hoje reconhecidos os resultados das políticas anteriores. Isso não o obriga a seguir tudo, mas tínhamos tanto a ganhar se, ao menos, não se desatasse a reverter tudo só porque sim, só por preconceito. 

Este artigo está em conformidade com o novo acordo ortográfico

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