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A missão de dar o poder da linguagem a quem o perdeu

Catarina Farinha emocionou-se quando viu Luís, que sofria de Esclerose Lateral Amiotrófica, falar. Quer usar a inteligência artificial generativa para melhorar a vida das pessoas e o mundo a que pertence, estando profundamente envolvida no Center for Responsible AI.
José Vegar 07 de Novembro de 2024 às 11:30



Catarina Farinha
Senior AI Research Manager na Unbabel Labs

Catarina Farinha tem mestrado em Engenharia Biomédica pelo Instituto Superior Técnico e doutoramento em Psiquiatria Computacional pela Universidade de Lisboa.


Catarina Farinha chorou quando viu Luís a falar num ecrã colocado no palco da cimeira mundial da Organização das Nações Unidas (ONU) "AI For Good" (Inteligência Artificial para o Bem).

 

A emoção extrema que tomou conta da investigadora tem uma longa história de trabalho científico e de computação por detrás.

Catarina Farinha está envolvida no projeto "Halo", uma das principais linhas de trabalho da empresa portuguesa Unbabel.

Catarina está envolvida no projeto "Halo", uma das principais linhas de trabalho da empresa portuguesa Unbabel, dedicada ao que no meio em que opera é conhecido como Language Operations (LangOps).

 

No essencial, a Unbabel, que é hoje um operador empresarial global, usa os recursos tecnológicos existentes, incluindo os de inteligência artificial, para criar sistemas e produtos que possam ser empregues nos vários processos que envolvem uso de linguagem, como as traduções.

 

O "Halo" tem como fim habilitar pessoas incapacitadas, por doença ou por acidente, como por exemplo as que sofrem de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), de falar e de escrever, a comunicar em qualquer tipo de ambiente, com qualquer pessoa que desejem, e partilhando o que são no momento os seus pensamentos.

 

A emoção sentida por Catarina na cimeira tem a ver com o facto de que viu ao vivo que o seu trabalho e o dos seus colegas tinha feito um bom caminho.

 

Luís, incapacitado para falar por ter ELA, que faleceu recentemente, foi um dos indivíduos iniciais com que a equipa da Unbabel trabalhou para descobrir modos e processos para que ele e outras pessoas na sua condição consigam comunicar.

 

E Luís conseguiu.

 

A partir de casa, ligado à cimeira por um sistema de videoconferência, Luís respondeu oralmente às perguntas feitas no palco por Vasco Pedro, um dos fundadores e CEO da Unbabel.

 

Não foi um milagre, foi um resultado feliz de um trabalho de investigação assente em inteligência artificial.

 

Mas emociona.

 

Catarina Farinha aponta que o "Halo" é um ecossistema tecnológico que procura encontrar um modo de dar poder de linguagem a quem o perdeu.

 

Numa descrição extremamente básica, o "Halo" começa por trabalhar com pessoas com as incapacidades já referidas e as suas famílias para entender as suas necessidades, mas também para encontrar processos e ferramentas que lhes permitam comunicar.

 

A informação obtida é depois analisada pelos investigadores da Unbabel, que recorrem aos Large Language Models (LLM) disponíveis para criar uma entidade de inteligência artificial que permita à pessoa com incapacidade executar vários modos de linguagem, de fazer perguntas e a dialogar sobre temas do seu interesse.

 

Em paralelo com o uso dos LLM, a equipa do "Halo" recorre também a outros dispositivos tecnológicos, que permitem, por exemplo, que o utilizador inicie ou mantenha conversas com um franzir da sobrancelha.

 

No caso de pessoas com uma incapacidade igual a de Luís, a de não conseguir falar, são obtidos registos anteriores orais, se existirem, que depois, são transformados em voz artificial, mas mantendo, entre outras características, o tom e as expressões.

 

Ou seja, em tempo real, acionando um componente do sistema do "Halo", Luís registou a sua resposta, que depois foi transformada em discurso oral, com a voz do próprio.

 

Claro que as entidades tecnológicas que o "Halo" poderá vir a criar têm ainda muitas etapas de execução para que consigam ser construídas à medida de cada um dos futuros utilizadores e se tornem úteis para este em qualquer situação.

 

Mas naquele palco da ONU provou-se que o projeto já não é apenas teórico.

 

Catarina Farinha poucas vezes terá sentido uma emoção gerada por motivos profissionais como a referida, mas o seu percurso profissional é de intensidade constante.

Uma das descobertas da sua investigação foi a de que os humanos empregam muito mais esforço mental para evitar castigos.

A sua origem académica assenta na Engenharia Biomédica e na Psiquiatria Computacional e, nestes campos, onde fez mestrado e doutoramento, dedicou-se principalmente ao estudo e criação de modelos computadorizados moldados por princípios da biologia, destinados a perceber o processo de decisão de pessoas, especialmente jovens.

 

Uma das descobertas da sua investigação foi a de que os humanos empregam muito mais esforço mental para evitar castigos do que para obter recompensas pelas suas ações.

 

Na Unbabel, a par do "Halo", Catarina está envolvida na investigação e uso de código de Natural Language Process (NLP), inserido no projeto "Comet", concebido e desenvolvido pela Unbabel.

 

Mais uma vez partilhando de modo extremamente simples o processo e o objetivo, o "Comet" usa LLM e "transformers" para avaliar a qualidade de uma tradução de qualquer linguagem para qualquer linguagem.

 

A ferramenta métrica é, obviamente, extremamente útil para utilizadores que não conhecem a linguagem para que foi traduzido um documento, e é neste momento utilizada pela Google e pela Microsoft.

 

Olhando para o seu trabalho até agora, Catarina Farinha não tem dúvida alguma sobre o que a faz trabalhar.

 

Quer usar a inteligência artificial generativa para melhorar a vida das pessoas e o mundo a que pertence, estando profundamente envolvida no Center for Responsible AI, uma entidade portuguesa recente que trabalha para chegar aos objetivos que são também os da investigadora.

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