Catarina está envolvida no projeto "Halo", uma das principais linhas de trabalho da empresa portuguesa Unbabel, dedicada ao que no meio em que opera é conhecido como Language Operations (LangOps).
No essencial, a Unbabel, que é hoje um operador empresarial global, usa os recursos tecnológicos existentes, incluindo os de inteligência artificial, para criar sistemas e produtos que possam ser empregues nos vários processos que envolvem uso de linguagem, como as traduções.
O "Halo" tem como fim habilitar pessoas incapacitadas, por doença ou por acidente, como por exemplo as que sofrem de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), de falar e de escrever, a comunicar em qualquer tipo de ambiente, com qualquer pessoa que desejem, e partilhando o que são no momento os seus pensamentos.
A emoção sentida por Catarina na cimeira tem a ver com o facto de que viu ao vivo que o seu trabalho e o dos seus colegas tinha feito um bom caminho.
Luís, incapacitado para falar por ter ELA, que faleceu recentemente, foi um dos indivíduos iniciais com que a equipa da Unbabel trabalhou para descobrir modos e processos para que ele e outras pessoas na sua condição consigam comunicar.
E Luís conseguiu.
A partir de casa, ligado à cimeira por um sistema de videoconferência, Luís respondeu oralmente às perguntas feitas no palco por Vasco Pedro, um dos fundadores e CEO da Unbabel.
Não foi um milagre, foi um resultado feliz de um trabalho de investigação assente em inteligência artificial.
Mas emociona.
Catarina Farinha aponta que o "Halo" é um ecossistema tecnológico que procura encontrar um modo de dar poder de linguagem a quem o perdeu.
Numa descrição extremamente básica, o "Halo" começa por trabalhar com pessoas com as incapacidades já referidas e as suas famílias para entender as suas necessidades, mas também para encontrar processos e ferramentas que lhes permitam comunicar.
A informação obtida é depois analisada pelos investigadores da Unbabel, que recorrem aos Large Language Models (LLM) disponíveis para criar uma entidade de inteligência artificial que permita à pessoa com incapacidade executar vários modos de linguagem, de fazer perguntas e a dialogar sobre temas do seu interesse.
Em paralelo com o uso dos LLM, a equipa do "Halo" recorre também a outros dispositivos tecnológicos, que permitem, por exemplo, que o utilizador inicie ou mantenha conversas com um franzir da sobrancelha.
No caso de pessoas com uma incapacidade igual a de Luís, a de não conseguir falar, são obtidos registos anteriores orais, se existirem, que depois, são transformados em voz artificial, mas mantendo, entre outras características, o tom e as expressões.
Ou seja, em tempo real, acionando um componente do sistema do "Halo", Luís registou a sua resposta, que depois foi transformada em discurso oral, com a voz do próprio.
Claro que as entidades tecnológicas que o "Halo" poderá vir a criar têm ainda muitas etapas de execução para que consigam ser construídas à medida de cada um dos futuros utilizadores e se tornem úteis para este em qualquer situação.
Mas naquele palco da ONU provou-se que o projeto já não é apenas teórico.
Catarina Farinha poucas vezes terá sentido uma emoção gerada por motivos profissionais como a referida, mas o seu percurso profissional é de intensidade constante.
A sua origem académica assenta na Engenharia Biomédica e na Psiquiatria Computacional e, nestes campos, onde fez mestrado e doutoramento, dedicou-se principalmente ao estudo e criação de modelos computadorizados moldados por princípios da biologia, destinados a perceber o processo de decisão de pessoas, especialmente jovens.
Uma das descobertas da sua investigação foi a de que os humanos empregam muito mais esforço mental para evitar castigos do que para obter recompensas pelas suas ações.
Na Unbabel, a par do "Halo", Catarina está envolvida na investigação e uso de código de Natural Language Process (NLP), inserido no projeto "Comet", concebido e desenvolvido pela Unbabel.
Mais uma vez partilhando de modo extremamente simples o processo e o objetivo, o "Comet" usa LLM e "transformers" para avaliar a qualidade de uma tradução de qualquer linguagem para qualquer linguagem.
A ferramenta métrica é, obviamente, extremamente útil para utilizadores que não conhecem a linguagem para que foi traduzido um documento, e é neste momento utilizada pela Google e pela Microsoft.
Olhando para o seu trabalho até agora, Catarina Farinha não tem dúvida alguma sobre o que a faz trabalhar.
Quer usar a inteligência artificial generativa para melhorar a vida das pessoas e o mundo a que pertence, estando profundamente envolvida no Center for Responsible AI, uma entidade portuguesa recente que trabalha para chegar aos objetivos que são também os da investigadora.