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Álvaro Balseiro Amaro: "Palmela poderia abastecer Lisboa"

Apesar do peso esmagador da indústria automóvel, Álvaro Balseiro Amaro rejeita a dependência total do sector. Há muito para crescer noutras áreas, como a agroalimentar, defende.

30 de Outubro de 2018 às 12:00
Álvaro Balseiro Amaro presidente da Câmara Municipal de Palmela Bruno Colaço
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Com muitas vozes vaticinando a saída da Volkswagen Autoeuropa de Portugal pelas dificuldades nas negociações com os trabalhadores da fábrica, o presidente da Câmara de Palmela sempre foi emitindo sinais de confiança. "A uma dada altura parecia estar um bocadinho sozinho", diz.

As longas negociações na Autoeuropa não o têm feito pensar que o concelho está demasiado dependente da fábrica da Volkswagen?
Palmela é um território de oportunidades para investimentos de natureza muito diversificada. O que temos procurado fazer é estimar, incentivar e criar sinergias em torno do parque industrial automóvel, mas também de outras linhas de trabalho. Nós falamos da Autoeuropa mas também temos de falar da Visteon, da Faurecia ou da Hanon Systems, que está a fazer uma ampliação num investimento de 50 milhões de euros. Mas temos outro cluster, que é o da vinha e do vinho. São agentes que estão cá sempre, nos momentos menos bons e nos melhores, e com uma qualificação que o tornam determinante. Por outro lado, estamos numa fase de fixação de logística e de serviços, e também de atracção de start-ups. E não é por ser moda, é mesmo uma necessidade. Depois há o turismo de natureza, o património, o território… Há quem esteja a apostar no alojamento local, que é uma loucura. Num ano e meio, passámos de uma dúzia e meia [de alojamentos] para 139 [na semana de 15 de Outubro]. Os números do turismo são interessantes mas poderiam ser muito mais, porque o alojamento está esgotado em muitas épocas. Precisamos de mais investimento.

Mas as maiores empresas estão ligadas ao ramo automóvel e quase metade do volume de negócios do concelho vem da Autoeuropa.
É insofismável que há aqui uma grande dependência e se acontecesse algo não era apenas o concelho de Palmela que sairia empobrecido. Mas também encontramos, por exemplo, a Ermelinda Freitas [vinicultura] com um volume de exportação e de negócios muito importante.

Penso que o diálogo [na Autoeuropa] tem dado frutos, mas a dada altura parecia estar um bocadinho sozinho nesta confiança.

Alguma vez temeu a saída da Autoeuropa de Palmela?
Não. Todas as minhas declarações sempre foram no sentido de uma enorme confiança na negociação, compreendendo que assiste razão aos trabalhadores num conjunto de matérias e que há questões estratégicas e necessidades de produção da empresa. Penso que o diálogo tem dado frutos, mas a uma dada altura parecia estar um bocadinho sozinho nesta confiança. Já houve aí os velhos do Restelo todos a dizer que aquilo ia fechar, mas a produção não tem parado.

Falou também no sector agroalimentar. Que dimensão ele toma no concelho?
No meu entender, não se pode cingir aos vinhos e está ainda subaproveitado. Em todas as freguesias há investimentos interessantíssimos de uma nova geração de empreendedores, formados noutras áreas, que vêm para o mundo rural investir na maçã riscadinha ou nos frutos silvestres… O eixo Poceirão-Marateca, além de permitir ter ali uma grande plataforma logística, com possibilidades de ligação ao Porto de Sines, a Setúbal, a um futuro aeroporto em Alcochete/Benavente, ao Alentejo e a Badajoz, tem um potencial agrícola que não está devidamente explorado. Poderia abastecer Lisboa, como o Oeste.

O que têm feito para incentivar negócios agrícolas?
Discriminação positiva nas taxas [urbanísticas] no âmbito da regularização das actividades económicas, [em que os empresários] pagam só 50%; e também outras facilidades em taxas administrativas. Na indústria, fizemos o mesmo para as zonas ou parques industriais devidamente estruturados. Estamos cá para agilizar procedimentos e foi também isso que levou dois ou três grupos, como a Visteon ou a Hanon, que tinham investimentos previstos para outros países, a escolher Portugal. Naturalmente, houve influência do Estado central, mas o poder local fez o seu papel.

A morosidade dos processos de licenciamento não pode afastar investidores?
É verdade. Muitos empresários queixam-se e têm razões para isso. Aquilo que se apregoa hoje de licenciamentos zero e desmaterialização e desburocratização geralmente é propaganda. E digo isto com muita mágoa. Às vezes é fácil legislar, mas depois há plataformas que não interagem umas com as outras e procedimentos que não batem certo. É bastante desgastante.

Quanto ao turismo, vão nascer mais hotéis em Palmela?
Estamos em contacto com grupos hoteleiros que operam em todo o mundo e temos procurado trabalhar com médias empresas. O alojamento local é importante, mas a qualificação da oferta também tem de ser um factor distintivo. O município está a preparar um conjunto de incentivos que resulta numa redução na ordem dos 75% em diversas taxas para unidades hoteleiras que criem um número mínimo de camas. Poucas pessoas sabem que o golfe atrai ao concelho milhares de turistas, como é o caso do golfe do Montado [Montado Hotel & Golf Resort], que está a pensar em ampliar. Depois há o Palmela Village, que tem a sua capacidade por aproveitar; e temos outro projecto a arrancar, mas ainda não vale a pena falar nisso. Mas são projectos estratégicos para nós. 

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O presidente cantautor

Aos 57 anos, Álvaro Balseiro Amaro (CDU) cumpre o segundo mandato como presidente da Câmara de Palmela. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas e com o mestrado em Relações Interculturais, na área de Ciências da Educação, foi promotor editorial na Porto Editora, teve uma pequena empresa - a Abecedário Papelarias - e foi professor na Escola Secundária 3.º CEB de Pinhal Novo, freguesia onde foi presidente da junta entre 1997 e 2009. Em paralelo, é músico e compositor. Com o nome artístico Amaro, o presidente já pisou vários palcos. No ano passado, apresentou o mais recente álbum, "Amaro Máscaras".

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