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Oito.Um: Fitness brasileiro em corpo português

Queriam criar vestuário técnico para idosos, acabaram por apostar tudo no fitness. Criada em 2015, a Oito.Um encomenda roupa ao Brasil e vende 95% em Portugal.

30 de Outubro de 2018 às 12:30
A Clothing Concept escolheu Oito.Um como sua marca. Bruno Colaço
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Joana estava grávida de oito semanas e um dia. Manuel, o pai, estava desempregado com a cabeça cheia de ideias. Era preciso criar alguma coisa e, fosse o que fosse, iria chamar-se Oito.Um. Hoje, que a marca está criada e continua a servir de inspiração, Manuel Sousa reconhece que o nome não é o forte do negócio, sobretudo na comunicação com o estrangeiro, onde os ditongos são "non" gratos. Mas a linha de vestuário desportivo da Clothing Concept, que aposta (quase) tudo no comércio online, está a crescer.

"Não é fácil vender conforto; é preciso experimentar", enquadra Manuel Sousa, responsável da empresa, no armazém da Zona Industrial das Carrascas. Além disso, o conforto tem várias dimensões. No caso da Oito.Um, as roupas, assume, não descaem e não há transparências indesejadas, comuns no vestuário de baixa qualidade durante a prática de exercício físico. Eis onde Manuel Sousa, formado em electrotécnica e telecomunicações, e Joana Vitorino, "personal trainer" num ginásio, viram que poderiam ganhar vantagem. Dois anos e meio depois do lançamento da marca, "35% dos clientes compram mais do que uma vez", o que prova que, depois de testada a reputação dos tecidos e peças de fitness, mais de meio caminho está traçado, acredita o empresário.

Fitness? Brasil

A escolha deste segmento desportivo teve diferentes razões. Uma foi o "boom do fitness em Portugal", outra o facto de Manuel e Joana estarem ligados ao circuito dos ginásios e terem começado a receber pedidos de diferentes direcções numa fase ainda embrionária da empresa. "Conhecemos, à vontade, mais de 100 ginásios de Norte a Sul do país", contextualiza Manuel Sousa. O passo seguinte foi procurar quem os pudesse fornecer na medida exacta da sua imaginação. Encontraram uma fábrica no Brasil, "um país muito bem conotado relativamente à roupa desportiva", e testaram algumas peças junto do público-alvo. Por outro lado, era necessário trabalhar com um fornecedor capaz de responder a pequenas encomendas. Como diz o empresário, "há muitas marcas a trabalhar com grandes tecidos, mas normalmente em grande escala".


A empresa tem registado uma média de 350 encomendas mensais, a maioria via online.


Motivados pelos ginásios que conheciam, começaram pelo mercado físico, mas rapidamente se desviaram para o mundo online, por acreditarem que gerava mais possibilidades e por analisarem um mercado ainda verde em Portugal a esse nível. Hoje, é esta a principal via de vendas da empresa, que tem registado uma média de 350 encomendas mensais e prevê atingir 500 a curto prazo.

A Clothing Concept fechou o ano passado com uma facturação de 320 mil euros e, para já, o principal objectivo é equilibrar as contas, eliminando as dívidas à família e à banca, contraídas para fazer arrancar o sonho de um negócio próprio, sob um investimento inicial de 200 mil euros.

Tome nota

Experimentar sem medo

A estratégia da Oito.Um é tentar e, se for preciso, errar. Só assim - e sem capital para outra estratégia - se conhece o mercado com as próprias mãos.

Investir em tempo
A Oito.Um tem canalizado os fundos sobretudo para o stock, recursos humanos e marketing. Mas muito do investimento tem sido na aprendizagem. O tempo de investigação, análise de marcas e mercados, e as tentativas e erros que esta pequena empresa experimenta pesam nas contas.

Do ginásio ao vestuário
Primeiro, o casal pensou em abrir um ginásio, depois em criar "uma marca de vestuário para pessoas mais velhas, em que tivessem mais facilidade em vestir e despir", conta o fundador. Mas a dificuldade de financiar a investigação na área e a procura do mercado ditaram outro caminho.

Pasodoble: um para a frente, outro para trás
Embora o mercado online não seja delimitado por fronteiras físicas, a empresa tem encontrado outras barreiras. Numa tentativa de entrada em Espanha, no ano passado, o público-alvo terá percebido "nitidamente" que o produto não era nacional e surgiram entraves culturais. A Oito.Um viu-se obrigada a recuar.

Brasil não é pelo preço
"Há muitas pessoas que pensam que sai mais barato encomendar do Brasil, mas a verdade é que sofremos uma taxação bastante elevada na alfândega. Portanto, compramos ao mesmo preço do que se fosse em Portugal, só que a qualidade é outra", resume Manuel Sousa. 

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