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Por detrás de uma porta marcada pela palavra "armazém" está tudo menos um armazém. O grosso da produção da Introsys - fundada em 2002 para criar robôs móveis terrestres mas que mais tarde acabou por ceder aos ditames do mercado tornando-se fornecedora do sector automóvel - é, aliás, imaterial. Eles constroem o "sistema nervoso" dos braços armados que soldam peças de carroçaria, encaixam tejadilhos e capôs. Em cada movimento preciso, a tecnologia ajuda a subtrair centésimos de segundo. Todos somados, resultam em grandes ganhos de produtividade, uma das palavras preferidas dos alemães da Volkswagen, os seus principais clientes.
No ano passado, a empresa nascida na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Lisboa facturou 21 milhões de euros; em 2016, era a oitava maior exportadora de Palmela (segundo os dados que a Informa D&B forneceu ao Negócios); a cada mês paga mais de um milhão de euros em ordenados; e tem uma subsidiária no México, uma start-up na China e outra na Alemanha. Começaram pela Ford, quando ainda não havia empresa e os irmãos-fundadores Nuno e Luís Flores colaboravam em regime "freelancer" com a unidade de Valência; em 2004, entraram no barco Volkswagen através da Autoeuropa; e entretanto já apanharam as ondas da BMW, Audi e Mercedes.
"Robôs vivos"
Embora hoje possa não parecer, nada na Introsys se relacionava, inicialmente, com o mundo automóvel. A empresa surgiu instigada pelo universo dos robôs móveis. O primeiro, com quatro rodas que parecem ter vindo de uma bicicleta, está no tal "armazém" da empresa. André Silva, investigador, aproxima-se para explicar como é que o Introbot - "totalmente desenhado por nós" - "começou por fazer vigilância de perímetros, com a ajuda de tecnologia laser, câmaras estereoscópicas e câmaras de visão nocturna", mas depressa evoluiu para outros territórios. Se hoje ele pode ser o segurança permanente de uma fábrica, também pode ser utlizado na vertente militar ou florestal.
Nos primeiros tempos, a Introsys investiu sobretudo em investigação para desenvolver um robô de desminagem, até perceber que o lado humanitário não pagava as contas. Mas foram as investigações à volta do Introbot que "permitiram ganhar conhecimento para desenvolver outras inovações", afirma André Silva.
Entre as invenções da empresa, destaca-se, ainda, o AGV [Automated Guided Vehicle], um robô desenvolvido num consórcio de 17 parceiros (liderado pela Introsys) com o objectivo de tornar mais ágeis os procedimentos da indústria 4.0. "Queremos chegar à linha [de produção] e poder introduzir uma modificação rapidamente", explica André. São todos "robôs vivos" à volta dos quais os investigadores trabalham continuamente à procura de novas soluções.
Maçãs e matadouros
"Nós queríamos produzir robôs móveis. Eles nunca foram vendidos mas deixaram uma herança dentro da organização", explica o director-geral, Nuno Flores. Hoje, a Introsys investe 2,5 a 3% do volume de negócios em investigação e desenvolvimento. É uma necessidade. "Muitas vezes, as pessoas que estão exclusivamente focadas nas tarefas do dia-a-dia não têm a possibilidade de se reinventar, de reinterpretar a realidade ou de criar novos mecanismos. Mas nós pretendemos, através das tecnologias que desenvolvemos, atingir novos mercados", analisa.
Apesar de manter o foco numa das maiores indústrias mundiais, a empresa tem testado os seus conhecimentos noutros campos, tentando antecipar as tendências da indústria e a sua crescente dependência da robótica. Os robôs colaborativos estão no centro da estratégia. "Os desafios do futuro prendem-se com a capacidade de os robôs manipularem uma coisa tão complexa quanto um tecido. Ou, por exemplo, imagine-se um robô a desmanchar uma vitela num matadouro. Era uma coisa impensável há dez anos mas hoje já temos de equacionar, tanto porque há cada vez menos pessoas a querer trabalhar em matadouros como porque a tecnologia o permite. É na indústria de manufactura, que produz em termos unitários, de um carro a uma caixa de fruta, em que nos vamos continuar a focar", resume o director-geral.
Perguntas a Nuno Flores
Director-geral da Introsys
"Os robôs colaborativos serão a próxima ruptura"
Começaram pelos sistemas Ford, mas, com a saída da marca de origem americana de Palmela, rapidamente se adaptaram à Volkswagen, hoje o principal cliente. Focados na inteligência artificial, querem diversificar o negócio com a ajuda de "cobôs".
Por que dificuldades passaram nos primeiros anos?
Não gosto muito de recordar os primeiros anos. A empresa não era um prazer até 2008, 2009. Mas acho que isto é capaz de ser comum a todas as start-ups, que começam com uma grande paixão, mas depois o esforço é de tal forma grande e é tudo tão difícil… Mesmo as coisas que hoje parecem muito simples, na altura eram grandes feitos, como cobrar facturas, conseguir crédito bancário ou arranjar colaboradores. Não havia mecanismos para nada.
Hoje é fácil encontrar colaboradores?
É difícil. Por isso, vamos implementar um 'hub' de inovação digital [uma infra-estrutura representativa das tecnologias de inovação digital da península de Setúbal e do Alentejo]. Acreditamos que assim seremos muito mais reconhecidos junto dos nossos públicos-alvo, nomeadamente ao nível das engenharias e cursos técnicos. Também vai permitir promover as tecnologias da indústria 4.0 junto dos parceiros e oferecer serviços diferenciados de formação. A nossa Training Academy vai passar a estar integrada no 'hub', com formações de cariz técnico e tecnológico, em parcerias com a academia.
Estão a ampliar as instalações quase para o dobro. O que vai mudar em termos de produção?
Vamos começar a produzir soluções chave-na-mão para a aplicação de robôs colaborativos em ambiente industrial.
Ou seja…?
São robôs que podem trabalhar ao lado de seres humanos sem haver necessidade de equipamentos de segurança adicionais. Se lhes tocar, eles afastam-se. E podem ajudar a executar manobras. O robô pode auxiliar a transportar uma coisa muito pesada, acompanhando movimentos. Os robôs colaborativos - 'cobôs' - são uma nova tendência da robótica e provavelmente a próxima ruptura tecnológica a implementar na nossa indústria. Temos um robô capaz de meter fruta numa caixa, separando a fruta boa da restante, através da análise de um sistema de visão artificial. Algo impensável há cinco ou seis anos.
Isso quer dizer que vão entrar noutras áreas?
Sim. Já começámos a fazer coisas muito pequenas em áreas muito diferentes, mas ainda não gostava de revelar.
Da mesma forma que não sabemos como entrámos na trajectória do crescimento, também não sabemos como é que isto se pára.
Criar uma empresa na China é uma experiência. Se aqui se faz uma empresa na hora, lá faz-se num ano. Nuno Flores
Director-geral da Introsys
Criar uma empresa na China é uma experiência. Se aqui se faz uma empresa na hora, lá faz-se num ano. Nuno Flores
Director-geral da Introsys
No ano passado, a empresa nascida na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Lisboa facturou 21 milhões de euros; em 2016, era a oitava maior exportadora de Palmela (segundo os dados que a Informa D&B forneceu ao Negócios); a cada mês paga mais de um milhão de euros em ordenados; e tem uma subsidiária no México, uma start-up na China e outra na Alemanha. Começaram pela Ford, quando ainda não havia empresa e os irmãos-fundadores Nuno e Luís Flores colaboravam em regime "freelancer" com a unidade de Valência; em 2004, entraram no barco Volkswagen através da Autoeuropa; e entretanto já apanharam as ondas da BMW, Audi e Mercedes.
"Robôs vivos"
Embora hoje possa não parecer, nada na Introsys se relacionava, inicialmente, com o mundo automóvel. A empresa surgiu instigada pelo universo dos robôs móveis. O primeiro, com quatro rodas que parecem ter vindo de uma bicicleta, está no tal "armazém" da empresa. André Silva, investigador, aproxima-se para explicar como é que o Introbot - "totalmente desenhado por nós" - "começou por fazer vigilância de perímetros, com a ajuda de tecnologia laser, câmaras estereoscópicas e câmaras de visão nocturna", mas depressa evoluiu para outros territórios. Se hoje ele pode ser o segurança permanente de uma fábrica, também pode ser utlizado na vertente militar ou florestal.
35
Facturação
A Introsys calcula facturar 35 milhões de euros em 2022.
95%
De exportações
A maioria das vendas é para a Alemanha. O principal cliente é a Volkswagen.
230
Trabalhadores
A empresa tem 230 trabalhadores, 70 na unidade do México.
3
Investimento
Investimento total na ampliação das instalações de Palmela será de 3 milhões de euros.
Nos primeiros tempos, a Introsys investiu sobretudo em investigação para desenvolver um robô de desminagem, até perceber que o lado humanitário não pagava as contas. Mas foram as investigações à volta do Introbot que "permitiram ganhar conhecimento para desenvolver outras inovações", afirma André Silva.
Entre as invenções da empresa, destaca-se, ainda, o AGV [Automated Guided Vehicle], um robô desenvolvido num consórcio de 17 parceiros (liderado pela Introsys) com o objectivo de tornar mais ágeis os procedimentos da indústria 4.0. "Queremos chegar à linha [de produção] e poder introduzir uma modificação rapidamente", explica André. São todos "robôs vivos" à volta dos quais os investigadores trabalham continuamente à procura de novas soluções.
Maçãs e matadouros
"Nós queríamos produzir robôs móveis. Eles nunca foram vendidos mas deixaram uma herança dentro da organização", explica o director-geral, Nuno Flores. Hoje, a Introsys investe 2,5 a 3% do volume de negócios em investigação e desenvolvimento. É uma necessidade. "Muitas vezes, as pessoas que estão exclusivamente focadas nas tarefas do dia-a-dia não têm a possibilidade de se reinventar, de reinterpretar a realidade ou de criar novos mecanismos. Mas nós pretendemos, através das tecnologias que desenvolvemos, atingir novos mercados", analisa.
Apesar de manter o foco numa das maiores indústrias mundiais, a empresa tem testado os seus conhecimentos noutros campos, tentando antecipar as tendências da indústria e a sua crescente dependência da robótica. Os robôs colaborativos estão no centro da estratégia. "Os desafios do futuro prendem-se com a capacidade de os robôs manipularem uma coisa tão complexa quanto um tecido. Ou, por exemplo, imagine-se um robô a desmanchar uma vitela num matadouro. Era uma coisa impensável há dez anos mas hoje já temos de equacionar, tanto porque há cada vez menos pessoas a querer trabalhar em matadouros como porque a tecnologia o permite. É na indústria de manufactura, que produz em termos unitários, de um carro a uma caixa de fruta, em que nos vamos continuar a focar", resume o director-geral.
Perguntas a Nuno Flores
Director-geral da Introsys
"Os robôs colaborativos serão a próxima ruptura"
Começaram pelos sistemas Ford, mas, com a saída da marca de origem americana de Palmela, rapidamente se adaptaram à Volkswagen, hoje o principal cliente. Focados na inteligência artificial, querem diversificar o negócio com a ajuda de "cobôs".
Por que dificuldades passaram nos primeiros anos?
Não gosto muito de recordar os primeiros anos. A empresa não era um prazer até 2008, 2009. Mas acho que isto é capaz de ser comum a todas as start-ups, que começam com uma grande paixão, mas depois o esforço é de tal forma grande e é tudo tão difícil… Mesmo as coisas que hoje parecem muito simples, na altura eram grandes feitos, como cobrar facturas, conseguir crédito bancário ou arranjar colaboradores. Não havia mecanismos para nada.
Hoje é fácil encontrar colaboradores?
É difícil. Por isso, vamos implementar um 'hub' de inovação digital [uma infra-estrutura representativa das tecnologias de inovação digital da península de Setúbal e do Alentejo]. Acreditamos que assim seremos muito mais reconhecidos junto dos nossos públicos-alvo, nomeadamente ao nível das engenharias e cursos técnicos. Também vai permitir promover as tecnologias da indústria 4.0 junto dos parceiros e oferecer serviços diferenciados de formação. A nossa Training Academy vai passar a estar integrada no 'hub', com formações de cariz técnico e tecnológico, em parcerias com a academia.
Vamos implementar um 'hub' de inovação digital em Palmela. Nuno Flores
Director-geral da Introsys
Director-geral da Introsys
Estão a ampliar as instalações quase para o dobro. O que vai mudar em termos de produção?
Vamos começar a produzir soluções chave-na-mão para a aplicação de robôs colaborativos em ambiente industrial.
Ou seja…?
São robôs que podem trabalhar ao lado de seres humanos sem haver necessidade de equipamentos de segurança adicionais. Se lhes tocar, eles afastam-se. E podem ajudar a executar manobras. O robô pode auxiliar a transportar uma coisa muito pesada, acompanhando movimentos. Os robôs colaborativos - 'cobôs' - são uma nova tendência da robótica e provavelmente a próxima ruptura tecnológica a implementar na nossa indústria. Temos um robô capaz de meter fruta numa caixa, separando a fruta boa da restante, através da análise de um sistema de visão artificial. Algo impensável há cinco ou seis anos.
Isso quer dizer que vão entrar noutras áreas?
Sim. Já começámos a fazer coisas muito pequenas em áreas muito diferentes, mas ainda não gostava de revelar.