- Partilhar artigo
- ...
Manipular geneticamente no computador bactérias e outros microrganismos é uma tarefa diária na Silicolife. O objectivo é usar estes organismos em processos industriais que normalmente são feitos recorrendo a químicos. Isto permite, por exemplo, fabricar plásticos de uma forma mais sustentável e económica.
"Trabalhamos para a área da indústria química e tecnológica. São empresas normalmente de grandes dimensões, internacionais, sendo que muitas delas estão a substituir os processos químicos por biológicos. Por exemplo os processos para as mais diversas aplicações do petróleo", referiu Isabel Rocha, directora científica e uma das fundadoras da empresa, criada em 2010.
"O que nós fazemos é acelerar bastante as primeiras etapas do desenvolvimento, criando bactérias e microrganismos para que fiquem mais aptos para fazer esse processo", explica a empresária que é, simultaneamente, professora universitária.
Ainda que a Silicolife aproveite parcerias com a universidade para testar os seu produtos em laboratório, a empresa dedica-se sobretudo a elaborar modelos computacionais que depois vende a multinacionais. "Um microrganismo normalmente não tem as características para produzir os compostos em quantidades interessantes. A nossa actividade passa por desenvolver modelos computacionais do microrganismo. Depois dizemos que alterações genéticas devem sofrer". É possível, por exemplo, produzir plásticos com este método.
Directora Científica e fundadora da Silicolife
Os clientes são, sobretudo, multinacionais do sector químico, que chegaram à conclusão que era mais fácil e barato contratar os serviços da Silicolife do que desenvolver estes processos internamente.
"A nossa área é um nicho de mercado", refere Isabel Rocha. "A principal concorrência neste segmento provém dos departamentos das multinacionais, mas temos notado alguma diferença na forma deles trabalharem", explica a empresária, ou seja, estão mais abertos a subcontratar. Este tipo de serviço é cada vez mais procurado. "Os processos biológicos são feitos a uma temperatura mais baixa, gastam pouca energia e têm resíduos que são menos perigosos que os químicos. E cada vez mais, sobretudo na Europa e nos EUA, a energia e o tratamento de resíduos são muito caros", salienta Isabel Rocha.
Neste momento, a empresa conta com 15 pessoas a tempo inteiro e uma facturação que deverá ultrapassar os 500 mil euros este ano. Além dos modelos computacionais que faz a nível industrial, a Silicolife também está a apostar numa área de "mineração de textos" que Miguel Rocha, um dos administradores da empresa, explica consistir em procurar literatura científica e "retirar informação importante sobre patentes ou artigos". Ou seja, "o que for importante para uma determinada área".
Modelos computacionais
A Silicolife faz "modelos computacionais do microrganismo e depois dizemos que alterações genéticas esses organismos devem sofrer", segundo Isabel Rocha. Estas mudanças podem ser testadas pela própria empresa, mas a maioria das vezes é trabalhada depois pelas multinacionais que as compram e que transmitem os resultados (ou pedem alterações se necessário).
Organismos em vez de químicos
As alterações genéticas destes organismos, que podem ser bactérias, servem para produzir compostos em grande quantidade que, de forma natural, nunca conseguiriam. Em teoria, os derivados de petróleo podem ser criados a partir destes processos, incluindo os chamados "bioplásticos". Este processo substitui outros que são obtidos através de químicos que geram mais resíduos e gastam muita energia.
Aplicações são inúmeras
Além da produção de derivados e petróleo e outros processos industriais, este método pode também ser alargado à indústria farmacêutica. "Há muitos derivados de plantas com valor para a indústria farmacêutica que neste momento são muito caros e difíceis de extrair", explica Miguel Rocha. "Há uma família de compostos para protecção cardiovascular que são originados pelas plantas. Os que são actualmente usados constituem uma pequeníssima fracção dos que poderiam ser", realça o empresário. "Há uns que se sabe que são mais poderosos do que os já usados na indústria farmacêutica, mas para isso seria preciso ter uma floresta inteira a produzi-los". Este problema poderia ser colmatado pelo uso de microrganismos alterados geneticamente. Outro composto nesta situação é a artemísia, que é usada para tratar a malária.