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EDIA: "Em Alqueva, 153 estrangeiros exploram 25% da área"

O acesso a água em terras do Alqueva eliminou “o único factor restritivo num potencial produtivo fantástico”, transformando a paisagem agrícola e a economia da região, acredita Pedro Salema.

30 de Janeiro de 2017 às 21:11
Sara Matos
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No ano de 2016, ficou fechado o ciclo da infra-estruturação inicialmente planeado para o Alqueva, um esforço acumulado de 2,4 mil milhões de euros. Pedro Salema, presidente da EDIA, gestora da infra-estrutura da barragem e dos 120 mil hectares de perímetro de rega possibilitada pelas águas do "grande lago", afirma que houve uma "revolução" na região.

Um gestor da AICEP considerou, recentemente, que o Alqueva era um "íman" de captação de investimento estrangeiro ao país. Considera que a captação de IDE foi a maior das mudanças na zona?

Isso pode ser visto como um aspecto positivo ou negativo, não é? Há sempre pessoas que acham que o investimento estrangeiro é mau, porque o que era bom era que fosse feito por portugueses. O que é bom é termos investimento, seja espanhol, italiano, etc. Eu, desejavelmente, queria ter só empresários portugueses. Viemos eliminar o único factor restritivo num potencial produtivo fantástico. Não encontra, na Europa, no mundo civilizado, terra virgem com abastecimento de água sem restrições e de boa qualidade, num país com a segurança como a que Portugal tem, e com estas condições edafoclimáticas (relativo ao solo e clima). É normal que o radar dos investidores tenha detectado esta oportunidade.

Quais os exemplos mais significativos de investidores nas terras do Alqueva?

No último levantamento, identificámos 153 estrangeiros a operar em Alqueva, que exploravam cerca de 30.000 hectares. 25% da nossa área é explorada por estrangeiros. A grande maioria são espanhóis, em número e em área (22 mil hectares). Que se focam essencialmente no olival, e agora também na amêndoa.

"Não perspectivo que no curto ou médio prazo o Estado injecte mil milhões de euros. Não faz sentido que o faça também." Pedro salema, Presidente da EDIA 

Foi uma mudança muito grande, a provocada pela irrigação das terras junto às barragem, em termos de cultura agrícola? Ou foi voltar àquilo que era?

É uma revolução – não tem outro nome. Veja-se o que é uma herdade orientada para a produção de cereais de sequeiro – seria, talvez, o que teríamos aqui mais. Não havia água, fazia-se trigo. Gastavam-se 300 a 400 euros por hectare, em termos de custos, e geravam-se 100 euros por hectare. Imagine o que é pôr um olival, e gastar 3.000 ou 4.000 euros por hectare (só na operação diária), além do investimento, de oito ou nove mil euros por hectare. Mas vai estar a gerar mil euros por hectare, de margem. Isto é pôr um zero nas contas. E quem está habituado a ter 200 ou 300 mil euros de custos, de repente, tem três milhões de custos – isto, em termos de fundo de maneio, não é nada óbvio. A transição não é fácil.

2017 é o ano de funcionamento em pleno do projecto?

É. Em que tudo está a funcionar, em que a máquina está a funcionar como deve ser. Vamos inscrever todas as pessoas a tempo e horas, pomos a água a tempo e horas em todos os locais. E continuamos, ao mesmo tempo que estamos a pôr a máquina a trabalhar como ela deve funcionar, a pensar como é que a podemos aumentar.

Mas a EDIA continua a ter um problema de capitalização?

Sim. É crónico.

E o que poderá ser mudado?

Houve já boas decisões que estão a ser continuadas, com a reestruturação da dívida de curto prazo. Vamos reduzindo devagarinho. Tínhamos cerca de 190 milhões de euros a curto prazo, que foi convertido num empréstimo de sete anos. E não perspectivo que no curto ou médio prazo possa haver uma inversão, e o Estado injecte mil milhões de euros. Não faz sentido que o faça também. Os empréstimos que temos têm condições fantásticas. A nossa taxa é muito baixinha. Para quê ir pedir dinheiro mais caro para ir pagar empréstimos que estão mais baratos? Não vale a pena.

perfil

O gestor agrícola  

"Não falta trabalho, é óptimo poder estar na EDIA nesta altura", afirma José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva e um dos seus 180 empregados. Lidera a empresa 100% pública desde final de 2013, por decisão da antiga ministra da Agricultura Assunção Cristas. Luís Capoulas Santos, que a sucedeu dois anos depois na tutela do sector, manteve-o no cargo. Antes da EDIA, Pedro Salema esteve envolvido na criação e desenvolvimento da Agrogestão, tecnológica especializada em gestão agrícola. Com 42 anos, é licenciado em Engenharia Agronómica (Instituto Superior de Agronomia) e mestre em Gestão de Empresas (Universidade Católica).  

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