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Aeroporto de Beja: Região aguarda investimento que lhe dê outros voos

O terminal civil do aeroporto de Beja vai completar seis anos de existência. Inicialmente visto como um pólo de desenvolvimento da região, é hoje utilizado sobretudo para o estacionamento de aeronaves. Há projectos para o dinamizar, mas teimam em arrancar.

31 de Janeiro de 2017 às 10:00
Sara Matos
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A partir de uma pequena elevação junto à aldeia de S. Brissos, com um rebanho de ovelhas e de cabras em primeiro plano, avistam-se três aviões estacionados na placa do terminal civil do aeroporto de Beja e o edifício de ar moderno e sóbrio para embarque e desembarque de passageiros. Franqueadas as portas da pequena aerogare, o ar moderno e sóbrio é o mesmo. Só que um olhar mais atento transporta-nos para uma realidade estranha: as infra-estruturas estão lá, mas falta-lhes vida.

Ainda que estejamos num pequeno terminal de aeroporto de uma cidade, Beja, também ela pequena, por ali faltam pessoas. É verdade que há projectos na calha que podem ajudar a transformar a realidade com que nos deparamos, mas têm teimado em arrancar. Um deles é a instalação de uma empresa de manutenção, desmantelamento e certificação de componentes recuperáveis de aeronaves. Irá dar àquele espaço a vida que pede e que os bejenses reivindicam?

"O aeroporto de Beja é referido muitas vezes com alguma chacota. Este equipamento não foi construído de raiz. O que houve foi a adaptação de uma componente militar para que pudesse ser utilizada do ponto de vista civil. Foi uma obra relativamente barata em termos de erário público nacional. Foram investidos 33 milhões de euros e não houve derrapagens", observa Paulo Arsénio, dirigente local do PS, rejeitando as críticas que apontam para um investimento vultoso, mas que ainda não está a dar o retorno esperado.

Para já, e segundo José Natário, director do aeroporto, a principal utilização deste equipamento é o segmento de parqueamento de aeronaves. Em média, há na placa aeroportuária até cinco aeronaves por semana, maioritariamente das companhias Hi Fly e EuroAtlantic.

Por aqui, há vida

Estamos em plena placa do aeroporto, depois da necessária autorização junto ao guichet da PSP e da revista a mochilas e câmaras fotográficas pelas máquinas de raio X accionadas por elementos da segurança. Ali estão os três aviões estacionados. Cruzamo-nos com mais uma dezena de pessoas. Pelo menos por aqui, há vida.

O desenvolvimento do aeroporto de Beja [...] passa também pelo forte compromisso dos principais agentes turísticos da região do Alentejo. José Natário
Director do aeroporto de Beja

Funcionários da ANA preparam agora a chegada de uma segunda aeronave da companhia Hi Fly. Ao mesmo tempo, trabalhadores desta última empresa asseguram a manutenção de um avião que ali têm estacionado, enquanto outros esperam pela chegada do segundo, mas a tripulação terá de esperar até que quatro caças da Força Aérea aterrem numa das duas pistas e se desloquem para as instalações militares que se vêem ao longe.

Chega, por fim, o avião da Hi Fly. Alguns minutos depois, uma viatura "follow me" irá ajudá-lo a estacionar. E compor a ocupação da placa de estacionamento aeroportuária. A partir da mesma pequena elevação junto à aldeia de S. Brissos, com um rebanho de ovelhas e de cabras a recolher ao curral, vão poder avistar-se quatro aviões na placa do aeroporto.

Projecto de oito milhões

À data da inauguração, em Abril de 2009, o aeroporto foi apresentado por José Sócrates, então primeiro-ministro, como um dos pólos do futuro desenvolvimento do Alentejo. Com o Alqueva a mudar a paisagem e a criar condições para a existência de novos pólos turísticos, a expectativa era de que a economia da região pudesse ser dinamizada, com a chegada de novos passageiros. A crise económica bateu forte e adiou expectativas. Os projectos previstos no sector do turismo pararam por ali.

Director de uma exploração agrícola vizinha do aeroporto, a Herdade do Monte Novo e Figueirinha, Filipe Ramos é um apoiante convicto da infra-estrutura. Defende a sua utilização para o transporte de mercadorias, mas também acredita que existem condições para criar em Beja um pólo associado à aeronáutica.

O primeiro passo nesse sentido já foi dado e formalizado entre a ANA - Aeroportos de Portugal e a empresa Aeroneo. Já existe licença de ocupação e exploração para instalar uma unidade industrial para manutenção, desmantelamento e certificação de componentes recuperáveis de aeronaves. Serão investidos oito milhões de euros e criados 80 postos de trabalho directos. O projecto poderá dar ao aeroporto a vida de que precisa e que os bejenses reivindicam.

Esperamos que a tendência de crescimento em 2016 se mantenha este ano e que tal continue a dinami- zar a economia
da região.
José Natário
Director do aeroporto de Beja


perguntas a
José Natário Director do aeroporto de Beja - Director do aeroporto de Beja

"Projecto da Aeroneo vai avançar a curto prazo"

José Natário, director do aeroporto de Beja, revela que a Aeroneo deverá avançar em breve com um investimento de 8 milhões de euros nas imediações do terminal.

Qual é actualmente a actividade principal da operação desenvolvida no terminal civil do aeroporto de Beja?
O baseamento de aeronaves, sendo que a infra-estrutura funciona como plataforma giratória entre operações. Neste quadro,  e além das demais actividades de assistência em escala, a manutenção de linha assume uma relevância particular, dado que durante os períodos de permanência na infra-estrutura as aeronaves são sujeitas a diversos trabalhos de manutenção.

Que companhias aéreas recorrem a este aeroporto?
Neste momento, existem principalmente duas companhias aéreas que posicionam as suas aeronaves no aeroporto: Hi Fly e EuroAtlantic. Porém, a infra-estrutura já recebeu aeronaves de outras operadores aéreos, nomeadamente da PGA e da SATA Azores Airlines. Continuamos também a receber regularmente voos de aviação geral, maioritariamente de aviação executiva.
 
Diariamente, quantas pessoas trabalham no aeroporto?
Cerca de 20 pessoas, acrescido de um número variável de elementos ligados aos operadores aéreos, o qual pode atingir, em alguns dias e semanas, algumas dezenas. Durante o ano de 2017, e com o reforço das operações, é expectável que se venha a assistir a um aumento gradual deste número. Verificamos também com satisfação que a Hi Fly já procedeu ao recrutamento local de vários colaboradores e tem inclusive em curso, neste momento, um processo de recrutamento também local para assistentes/comissários de bordo para a sua base de operações em Beja [...].

Fala-se há muito de um projecto da Aeroneo associado ao aeroporto de Beja. Quando avança este projecto?
O projecto da Aeroneo vai avançar no curto prazo. O processo de licenciamento está concluído e estamos apenas a aguardar a comunicação oficial por parte da Aeroneo da data de início da obra.

Que expectativas há quanto à evolução da operação em Beja ao longo deste ano?
Na sua globalidade, o figurino de 2016, sendo de prever ainda assim algum crescimento. O baseamento da Hi Fly está consolidado e a EuroAtlantic está a reforçar a sua operação na infra-estrutura, sendo expectável que mais companhias aéreas passem a considerar o aeroporto de Beja como uma alternativa ao baseamento da sua frota. Por outro lado, estamos a antever que possam ser realizados vários voos charter ao longo deste ano, sendo que temos já uma operação confirmada para Fevereiro.

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