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O risco da cegueira

"Como oftalmologistas temos de ter a responsabilidade de proporcionar os melhores tratamentos e evitar a propagação da doença e da cegueira", diz João Figueira

15 de Outubro de 2018 às 15:45
José Henriques moderou a primeira mesa-redonda em que participaram João Figueira, José Manuel Boavida, Rita Flores e Marco Dutra Medeiros, e que se realizou no Epic Sana Lisboa Hotel a 29 de Setembro. David Martins
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"A retinopatia diabética é a manifestação oftalmológica mais importante na diabetes", considera Rita Flores, médica oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Central e professora na Nova Medical School, na mesa-redonda "Retinopatia Diabética e Respetivos impactos na saúde visual", moderada por José Henriques, presidente do Grupo de Estudos da Retina.

"A retinopatia diabética é um drama, porque continua a ser a principal causa de cegueira e perda de visão na população activa. Estas pessoas ficam incapacitadas para o trabalho e acabam por ser uma carga para o sistema de segurança social", refere João Figueira, médico oftalmologista no Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra.

A visão e o olho são, muitas vezes, subvalorizados porque é um órgão pequeno, não é considerado vital porque a vida de uma pessoa não depende dele. "Mas se perguntarmos a um diabético qual é a complicação que mais teme, responde que é a cegueira ou falta de visão", sublinha João Figueira. Segundo dados publicados em 2015 pela Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, pelo menos 25 mil indivíduos têm perda de visão devido à diabetes e 13 mil estão cegos por retinopatia diabética em Portugal.

O que a diabetes faz ao olho

Há vários tipos de diabetes, mas é o aumento de glicemia, do açúcar no sangue, que provoca as grandes complicações oculares ao atingir um tecido muito específico do olho, provocando a retinopatia diabética. "Tem um envolvimento mais central, em que predominam os fenómenos de edema macular, ou mais periférico, com as complicações da isquemia", explica Rita Flores.

No primeiro caso, "a incompetência dos vasos da retina, que deixam de funcionar correctamente, permitem o extravasar líquido do interior dos vasos para o espaço da retina, o que provoca o espessamento e o edema da retina", resume João Figueira.

No caso da isquemia dá-se a oclusão dos vasos, que ficam sem sangue e a retina sem nutrição, o que provoca a isquemia, a retinopatia diabética proliferativa. "O edema macular e a retinopatia diabética proliferativa são as principais causas de perda de visão nestes diabéticos", conclui João Figueira.

Este professor universitário e investigador alerta para o facto de que, muitas vezes , estes doentes poderem ter edema macular ou formas isquémicas, e não ter sintomas. "É importante identificar essas pessoas sem sintomas, para que se possa fazer atempadamente os tratamentos disponíveis, que se modificaram muito nos últimos tempos, e que dão a estes doentes esperança e resultados em termos funcionais", assinala João Figueira.

Na génese está a diabetes

"A diabetes é uma doença heterogénea, e complexa. Dizemos, até, que a diabetes não é uma doença mas um saco onde metemos hoje todo um conjunto de situações que se caracterizam pela glicemia elevada", explica José Manuel Boavida.

Para João Figueira, "a diabetes atinge uma larga população, é uma doença cruel porque não dói, e são as complicações da diabetes que trazem os grandes problemas como as amputações, os enfartes, os AVC, a insuficiência renal. É uma doença com um peso grande em termos sociais e económicos, e tem de ser abordada de forma multidisciplinar".

O diabético de tipo 1, mais jovem, pode ter uma acuidade visual, com uma mácula saudável, sem edema, mas com alterações proliferativas marcadas na retina periférica, na vertente isquémica.

O doente de tipo 2 é mais idoso, tem uma vertente edomatosa mais agressiva do que as complicações proliferativas, que podem aparecer mas que, de uma forma geral, não são tão agressivas.