Outros sites Medialivre
Notícia

O milagre dos fármacos injectáveis

Com o tratamento a laser tentava conter-se a perda de visão, com os fármacos injectáveis intravítreas pode recuperar-se a visão.

15 de Outubro de 2018 às 14:30
Rita Flores, Médica oftalmologista do Centro Hospitalar Lisboa Central David Martins
  • Partilhar artigo
  • ...
O primeiro passo no tratamento da retinopatia diabética foi a utilização do laser. "Era a arma terapêutica contra a retinopatia diabética", assegurou Rita Flores.

Provou-se eficaz no tratamento dos doentes diabéticos, tendo sido aplicada na periferia da retina, destruindo as áreas isquémicas. "Até há 10 anos, também se aplicava na região central para reduzir o edema, poupando os 500 micra centrais, que deve ser privada de fotocoagulação", explica Rita Flores.

"O laser era muito económico mas nos estudos mostram que, com laser, perdia-se menos visão mas raramente se ganhava visão. Dizíamos aos doentes: se não fizer laser vão cegar mais depressa", recorda João Figueira.

A mudança de paradigma

As injecções vieram mudar o paradigma, garante João Figueira. "Os doentes são injectados e muitos melhoram a sua visão."

A partir de 2005, surgiram fármacos injectáveis intravítreas de anti-VEGF, com a função de baixar os níveis e a redução do edema macular. O tratamento do edema macular, com intravítreo, foi eficaz e "trouxe a esperança no controlo a longo prazo no tratamento destes doentes", assinala Rita Flores.

Um plano de injecções, mesmo agressivo, implica, no primeiro ano, cerca de sete injecções, mas nos três anos seguintes, são suficientes uma a duas injecções por ano. Os doentes ficam relativamente controlados a partir do quarto ano.

Os novos fármacos injectáveis trouxeram uma nova esperança aos doentes.  Rita Flores
Médica oftalmologista do Centro Hospitalar Lisboa Central 

"Hoje deixou-se praticamente de utilizar o laser nos edemas, é marginal", refere Rita Flores. "O laser tem também alguma eficácia no controlo da isquemia periférica."

Para a doença proliferativa, o laser ainda é uma realidade, mas também pode ser feito com tratamentos de associação. Existem fármacos que têm um papel no tratamento do edema macular diabético que são os corticóides de aplicação intravítrea. E a cirurgia surge para as complicações do hemovítreo e o deslocamento de retina traccional.

Em termos de custos, os novos fármacos têm impacto no sistema de saúde. Segundo João Figueira, "o laser custa 15 mil euros e da para tratar os doentes todos de um hospital durante 15 anos. Mas com as injecções gasta-se 15 mil euros num mês em tratamentos no hospital."

Contudo compensa pois trata-se de "população activa que vai melhorar a sua capacidade de visão para trabalhar e pagar impostos, vai evitar mais casos de cegueira, com a carga familiar, social, psicológica que acarreta".

João Figueira insiste que se a retinopatia diabética "for tratada precocemente evita as cirurgias para coisas mais complexas que ainda vão ser mais caras".