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O rastreio é a chave para o tratamento

A tecnologia, nomeadamente com base na inteligência artificial, está a ajudar a melhorar o rastreio da retinopatia diabética. Como o Retmarker que foi desenvolvido em Coimbra.

15 de Outubro de 2018 às 14:45
David Martins
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"O tratamento de diabetes é um pouco como um icebergue. Metade da população diabética não sabe que é diabética, e a outra é silenciosa", diz João Figueira. "Por isso temos de encontrar fórmulas para encontrar precocemente as pessoas que são diabéticas e que não o sabem e trazê-los para o sistema de controlo e terapêutico para evitar mais tarde as complicações".

A retinopatia diabética é uma doença, muitas vezes, traiçoeira, porque se pode estar com visão e, meses depois, perder totalmente a visão. Como avisa José Manuel Boavida, "há situações de vista turva nos diabéticos, que não tem a ver com a retina, e que por vezes descansa as pessoas e por outro lado as pessoas podem ter lesões gravíssimas sem perda de visão. Por outro lado, 90% dos doentes, ao fim de quatro ou cinco anos de controlo em que não aconteceu nada, ficam à espera de que aconteça alguma coisa para voltar ao oftalmologista."

A retinopatia diabética é um continuum, pode ter fase assintomática, em que o doente já tem a doença mas ainda não tem os sintomas, até uma fase em que progressivamente se agrava e que depois precisam de tratamento, refere José Henriques.

Obrigação de rastreio

"A retinopatia diabética tem uma fase geral, que existe em muitos doentes e é a retinopatia diabética não proliferativa, que é uma fase inicial e que não tem consequências para a visão. Não tem sintomas, tem umas queixas vagas, e, por isso, é enganosa para o doente. De repente, pode, em qualquer altura da sua diabetes, aparecer o edema macular e a retinopatia proliferativa", descreve José Cunha-Vaz

Para João Figueira, "é uma obrigação do sistema de saúde encontrar essas pessoas". E este tem de encontrar modelos para fazer o rastreio.

A monitorização da retinopatia diabética consiste num controlo anual através de uma consulta oftalmológica, o que tem um carga e um custo elevado tanto para o doente como para o sistema.

Por outro lado, o rastreio tinha uma estrutura pesada, como recorda João Figueira. "Países como os escandinavos e o Reino Unido, por exemplo, desenvolveram um programa de rastreio de retinopatia diabética. Estes baseiam-se em visualizar a retina, tirar uma fotografia que depois é analisada por especialistas que classificam e avaliam quem tem retinopatia e necessidade de tratamento."

A tecnologia, nomeadamente a inteligência artificial, gerou os sistemas que analisam e classificam, de forma automática, as fotografias da retina dos doentes feitas para o rastreio e, que "são tão bons como a análise de especialistas humanos e até falham menos", considera João Figueira.

O Retmarker

Em Portugal existe o Retmarker, uma tecnologia de inteligência artificial que foi desenvolvida no AIBILI, e, num estudo independente inglês, foi comparada com outros sistemas, tendo a "melhor performance", referiu João Figueira.

Desde 2011 que está instalado em algumas ARS do Centro e Vale do Tejo (2016) e estão a aplicar este sistema de classificação automática. Faz a selecção de doentes e 85 a 90% dos rastreados, em média, não têm retinopatia. Os restantes 10 a 15% em que foi detectada a doença são tratados por especialistas e estes decidem os que têm de ser tratados devido a edema macular ou por motivos de retinopatia diabética proliferativa.

Como deve ser o rastreio

Em Setembro deste ano a Direcção-Geral Saúde emitiu as Normas de Orientação Clínica para a realização do rastreio da retinopatia diabética, que definem o esquema de seguimento e orientação até ao tratamento, que implica a criação de centros de diagnóstico e tratamento integrado (CDTI). "A NOC é um documento estruturante e pilar do tratamento da diabetes e da retinopatia diabética", acentuou João Figueira que juntamente com José Henriques, participou na sua elaboração. "Define quem faz e quem tem de ir ao rastreio, onde se fazem os rastreios, tentar levar os rastreios para junto das pessoas para ser mais fácil o acesso, a proximidade ao doente."

Refere que os exames devem ser realizados por profissionais de saúde treinados na técnica de retinografia, preferencialmente técnicos de diagnóstico e rastreio. Compreendem a realização de duas fotografias, uma centrada na mácula e outra na pupila. O retinógrafo deve ter câmara não midriática, para que não seja necessária a dilatação da pupila, e os dados devem ser colocados na plataforma digital da gestão da retinopatia diabética.

O programa nacional da diabetes tem como objectivo que em 2020 todos os diabetes em Portugal, independentemente da sua residência tenham acesso ao rastreio da retinopatia diabética e esta pode ser uma forma de ajudar a cumprir a meta.