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25% da população de diabéticos pode ter retinopatia diabética

As políticas públicas na diabetes e na retinopatia diabética não têm resultados a curto prazo, mas a médio e longo prazo.

15 de Outubro de 2018 às 15:15
Marco Dutra Medeiros, Médico oftalmologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central e professor na NOVA Medical School David Martins
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Hoje no mundo existem mais de 450 milhões de diabéticos e a diabetes é a doença mais mortal, com 5 milhões de mortos por ano. Se a mortalidade é elevada, "é relevante pela morbilidade associada de outras doenças e a complicações, como a retinopatia diabética", referiu Marco Dutra Medeiros.

"A nível mundial com base em dados entre 1980 a 2008, a prevalência global de retinopatia diabética foi de 35%, mas o estudo baseia-se em estudos com métodos de inclusão diferentes nos quatro continentes, tanto em idades como na duração da doença. A retinopatia diabética proliferativa, que se não for tratada, leva à cegueira, tem uma prevalência total de 7% e o edema ocular diabético de 6,8%", referiu Marco Medeiros.

Em relação a Portugal, Marco Dutra Medeiros citou vários estudos como o Retinodiab, que liderou e foi publicado em 2015, e apresentava uma prevalência de 16,3% ao nível de retinopatia diabética global. Um outro estudo feito no âmbito da APDP chegava-se a uma prevalência em torno dos 20%. Nas previsões do GER - Grupo de Estudos da Retina, a prevalência cifra-se em torno dos 25%.

"A diabetes é uma pandemia por isso devia ser falada todos os dias em todos os órgãos de comunicação social", afirmou Marco Dutra Medeiros, médico oftalmologista. Marco Dutra Medeiros
Médico oftalmologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central e professor na NOVA Medical School

O estudo da Retinodiab juntou a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e a Faculdade de Ciências Médicas, para aferir a prevalência da retinopatia diabética em Lisboa e Vale do Tejo.

Foi feito a partir de 103 mil retinografias feitas entre 2009 e outubro de 2014, que correspondem a cerca de 53 mil pessoas rastreadas através do programa de rastreio da retinopatia diabética implementado pela APDP desde 2008, tendo sido validadas 96 mil retinografias, "o que demonstra a qualidade do rastreio", refere Marco Dutra Medeiros. A retinopatia diabética foi referenciada em 6,1% das pessoas, que "foram a uma consulta da especialidade no hospital central".

Foi feito um estudo de incidência de progressão, nesse mesmo rastreio, que envolveu 110 mil retinografias validadas de 57 mil doentes. A incidência cumulativa começou em 4,6% e, no final de cinco anos, era de 15%. "É uma patologia que, de ano para ano, aumenta de risco de agravamento, por isso os doentes têm de estar sensibilizados para a doença e para o rastreio", concluiu Marco Dutra Medeiros.

O Reino Unido começou, nos anos 60, a fazer o rastreio da retinopatia diabética de forma nacional e transversal. Um estudo comparou os biénios 1990-2000 e 2009-10 e conclui que, no segundo biénio, pela primeira vez, a retinopatia diabética não foi a primeira causa para o atestado de incapacidade para cegueira visual em idade activa em Inglaterra e País de Gales, 40 anos depois do rastreio. "As políticas públicas ao nível da diabetes e da retinopatia diabética não têm resultados imediatos, mas a médio e longo prazo", conclui Marco Medeiros.