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Os novos meios de diagnóstico

"Com estes métodos derivados do OCT podemos identificar muito bem as lesões de oclusão capilar, se estão na superfície capilar, se na rede superficial ou profunda da retina. A informação que se obtém é muito mais detalhada do que a angiografia" concluiu José Cunha-Vaz.

15 de Outubro de 2018 às 15:00
José Cunha-Vaz, professor catedrático emérito da Faculdade de Medicina de Coimbra, é referência da oftalmologia europeia. David Martins
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Existe uma tendência para o aumento global de prevalência de diabetes, mas existe, por outro lado, "uma diminuição de perda de visão por retinopatia diabética proliferativa", disse José Cunha-Vaz, coordenador da secção de Retinopatia Diabética e de Doenças Vasculares da Retina do EVICR.net, professor catedrático emérito de Oftalmologia da Universidade de Coimbra, e presidente da AIBILI - Associação para Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem, na sua comunicação "O Problema Global da Retinopatia Diabética. Avanços recentes no seu conhecimento".

A causa para este resultado positivo, segundo José Cunha-Vaz, está num acompanhamento mais precoce e a capacidade de tratamento das primeiras alterações que se encontram e um melhor acompanhamento dos doentes. "São mais observados pelos oftalmologistas, há mais acesso, e como o edema macular pode surgir em qualquer altura, a detecção precoce é fundamental. A incidência do edema macular diabético é, segundo um estudo de 2014, de 4%/4,5% num período de dez anos", explica José Cunha-Vaz.


A incidência do edema macular diabético é, segundo um estudo de 2014, de 4%/4,5% num período de dez anos. 


A sua intervenção centrou-se no diagnóstico e na forma de "encontrar alterações que levem a este edema macular e a retinopatia proliferativa, e novos métodos para verificar essas alterações , do ponto de vista imagiológico".

OCT combinada

A OCT (Optical Coherence Tomography) foi uma tecnologia que mudou a compreensão da incidência, evolução e taxas de progressão do edema macular. Para José Cunha-Vaz veio modificar radicalmente "a nossa perspectiva da retinopatia diabética porque estamos a ver de uma forma imediata, simples, rápida, e, em minutos, ficamos com um quadro das camadas da retina, quais as que estão afectadas, as que têm as células alteradas, e quais as que, embora não seja célula a célula, mas por camada, por região, permitem saber o que esta a acontecer na retina".

A OCT combinada com outros métodos permite caracterizar muito melhor a retinopatia diabética. José Cunha-Vaz
Coordenador da secção de Retinopatia Diabética e de Doenças Vasculares da Retina do EVICR.net 

Depois passou-se para o mapeamento multimodal, que é o uso de vários métodos como o OCT, imagem de autofluorescência, imagem de alteração da barreira, imagens de profusão capilar. Passou a haver uma série de métodos, que usados em conjunto, permitem caracterizar muito melhor a retinopatia diabética.

Hoje "temos a OCT com angiografia que permite fazer a angiografia não invasiva, e dá uma informação sobre a profusão capilar. Com estes métodos derivados do OCT podemos identificar muito bem as lesões de oclusão capilar, se estão na superfície capilar, se na rede superficial ou profunda da retina. A informação que se obtém é muito mais detalhada do que a angiografia" concluiu José Cunha-Vaz.

O futuro com medicina mais personalizada

José Cunha-Vaz falou sobre uma investigação em curso em Coimbra em que se procura fazer uma caracterização dos diferentes fenótipos de retinopatia diabética. Pode, pela primeira vez, vir a identificar os doentes cuja retinopatia diabética oferece risco de progressão e podem desenvolver complicações, edema e/ou proliferação vascular.

"Há olhos em que a retinopatia diabética nunca progride ou fá-lo com pouca intensidade, enquanto os outros progridem rapidamente. E são estes e que estão em risco de ter complicações como o edema macular ou a proliferativa e que é preciso colocar, conhecer, acompanhar de perto", disse José Cunha-Vaz. São cerca de um quarto, os pacientes, que com lesões de retinopatia diabética, desenvolvem estas complicações num período de cinco anos.

"Vislumbra-se a possibilidade de ter uma medicina personalizada para a retinopatia diabética", concluiu José Cunha-Vaz.