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O papel das ópticas e dos optometristas no rastreio

Em Portugal, as ópticas com serviços de optometria têm muitos anos e prestam um serviço de cuidados primários da saúde da visão ao nível da retinopatia diabética, do glaucoma e de outras patologias.

15 de Outubro de 2018 às 13:45
David Martins
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"Saúde Visual: Proteger a Visão para o futuro", que foi moderada por André Veríssimo e contou ainda com a presença de Arnaut Lambert, CEO da aiVision health, Elísio Lopes, optometrista, e Sérgio Cabanas, vice-presidente da Associação Nacional de Ópticas (ANO). 

"Hoje a rede de ópticas, com mais de 2 mil optometristas espalhados pelo país, tem uma capilaridade interessante, de fácil acesso à população em geral, que pode ser um meio fundamental, rápido, simples, fácil acesso, para este rastreio e para um diagnóstico muito precoce", refere Elísio Lopes, optometrista na Optivisão Marinha Grande, durante a mesa-redonda "Saúde Visual: Proteger a Visão para o futuro", que foi moderada por André Veríssimo.

O optometrista é um profissional de cuidados básicos de saúde visual. "Além de prescrever e executar as próteses visuais como os óculos também faz uma despistagem e o rastreio de outros problemas. Se estes existirem deve encaminhar obrigatoriamente para os médicos especialistas, os oftalmologistas", considera Elísio Lopes.

A proximidade e a facilidade com que se chega a um optometrista ou óptico-optometrista para fazer um exame optométrico até pela capilaridade da rede de ópticas.

"Actualmente cerca de 20% a 25% dos consultórios de Optometria em Portugal têm retinógrafos, e aproximadamente metade deste já fazem a avaliação das imagens obtidas com recurso a inteligência artificial, através de um protocolo estabelecido entre três entidades portuguesas a AIBILI, a Retmarker e a I3O", refere Sérgio Cabanas, director tecnologias de informação e vice-presidente da Associação Nacional de Ópticas (ANO).

Optometrista mais próximo

Adianta que: "Os optometristas conseguem cada vez mais, a nível nacional, ter ferramentas modernas, exactas e eficazes para fazer uma boa avaliação dos pacientes."

Os privados podem ter um papel nas campanhas de sensibilização para rastreio da retinopatia diabética e de outras doenças do olho. Mas é necessária uma maior articulação entre optometristas e oftalmologistas, e a integração da rede de optometristas na rede de cuidados de saúde primários da visão. Como diz Elísio Lopes, "dos 13% de diabéticos em Portugal, um terço foi ao oftalmologista, mas se calhar mais de metade já foi ao optometrista".


Os números

20% a 25%
dos consultórios de optometria em Portugal têm retinógrafos

3 mil
lojas na rede nacional de ópticas

2 mil
optometristas

2 milhões
de consultas feitas pelos optometristas

200 mil
consultas de oftalmologia em lista de espera


"A retinopatia diabética tem de ser diagnosticada por um médico oftalmologista, mas o rastreio da população no que se refere à retinopatia diabética tem de ser alargada e não ficar apenas focada nos oftalmologistas", defende Arnaud Lambert.

No entanto, José González-Méijome, optometrista e professor e investigador da Universidade do Minho, tem uma ideia muito diferente. Em entrevista por e-mail, explicou que "a implementação de rastreios não tem porque passar pelas ópticas".

Acrescentou que não exclui "nenhuma alternativa desde que beneficie o aceso dos utentes ao rastreio, mas os optometristas deveriam estar no Sistema Nacional de Saúde para se poder articular melhor com toda a rede de cuidados primários e especializados da visão e poder assim desenvolver o seu máximo potencial na luta contra esta patologia que pode prejudicar muito severamente a visão".

Optometristas não contam na saúde visual 

Optometristas não contam para a Estratégia Nacional para a Saúde Visual ao contrário do que acontece em Espanha, Estados Unidos ou Reino Unido.

Para José González-Méijome, optometrista e professor e investigador da Universidade do Minho, "a educação para a saúde deve estar muito presente na interacção de qualquer profissional de saúde visual com a população e os optometristas devem estar na linha da frente".

O optometrista, que está muito próximo da população, pode ter um papel não só na "detecção mas também de sensibilização dos doentes diabéticos para as consequências dramáticas que a patologia pode ter nos seus olhos e em outros órgãos vitais". Deve, ainda, o optometrista, "perante qualquer mínima dúvida ou se detectar alterações que não foram avaliadas ainda pelo especialista em oftalmologia, referenciar o paciente para esse profissional".

A rede de cuidados primários de saúde visual em Espanha conta com o contributo essencial dos 17 mil optometristas existentes, tal como no Reino Unido, com os 15 mil, e nos Estados Unidos, com os 35 mil. No entanto, como assinala José González-Méijome, em Portugal os mais de dois mil optometristas não foram considerados na Estratégia Nacional para a Saúde Visual, que esteve recentemente em discussão pública.

Este investigador considera que os optometristas poderiam libertar os especialistas em oftalmologia de muitas das tarefas rotineiras como os testes de diagnósticos básicos e avançados, refracção, prescrição e ajudas ópticas, etc., e "concentrar todo o seu potencial de tratamento médico-cirúrgico na atenção a estes e outros pacientes que tanto precisam deles".