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Portugal tem energia para o carro eléctrico?

Sócrates sonhou em criar um “cluster” do carro eléctrico em Portugal, mas o projecto não teve energia para andar. Cinco anos depois, e com a tempestade Volkswagen ainda a passar, tem Portugal capacidade para se afirmar a nível global?

Pedro Elias
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O escândalo Volkswagen ressuscitou o carro eléctrico. Com o petróleo a sofrer uma queda abismal no último ano, os carros amigos do ambiente foram um pouco esquecidos. Mas a polémica com as emissões da marca alemã deram um grande impulso ao automóvel verde.


Esta tendência foi identificada pelo presidente da petrolífera Partex apenas duas semanas depois da polémica ter disparado. "Todos os fabricantes automóveis vão procurar alternativas ao gasóleo, esta é uma das lições do escândalo", afirmou António Costa Silva, sublinhando que a electricidade é uma das alternativas reais ao petróleo.

Mas seis anos depois de José Sócrates ter dado os primeiros passos – com a rede de carregamento Mobi.E e a tentativa falhada de instalar uma fábrica de baterias da Nissan em Cacia – existem condições em Portugal para criar um "cluster" do carro eléctrico? O Governo acredita que sim e dá o exemplo do que tem vindo a ser feito nos últimos anos. "Portugal chegou a ter dias deste ano com 100% de electricidade renovável, sem qualquer tipo de dificuldade nas nossas casas ou  empresas. Ninguém sentiu qualquer tipo de volatilidade ou de interrupção na rede. E isso conseguiu-se com tecnologia e com engenharia portuguesa", disse Jorge Moreira da Silva, ministro do Ambiente, numa visita ao salão automóvel em Lisboa.

A Associação Portuguesa de Veículos Eléctricos (APVE) também aponta que há trabalho a ser feito no terreno. "Portugal é já um produtor e um exportador de tecnologia e serviços para a mobilidade eléctrica", começa por explicar o presidente Jorge Vasconcelos. "E há vários anos que também é exportador de equipamentos e serviços para o combustível que alimenta os veículos eléctricos – a electricidade verde".

Portugal poderia já estar ao volante da mobilidade eléctrica, mas perdeu  algum tempo. "Infelizmente, as políticas de ‘pára-arranca’ que temos vivido na última década não só não ajudam a indústria, como prejudicam, injustamente, a sua imagem internacional", lamenta Vasconcelos.

Apesar deste "atraso", vários projectos estão a fazer o seu percurso, colocando o país no bom caminho (ver caixa). A Efacec é uma destas empresas, com "uma aposta industrial muito significativa na área dos sistemas de carregamento rápidos de veículos eléctricos, virada para a exportação e com uma forte afirmação lá fora", destaca o professor do INESC, João Peças Lopes.

As próprias universidades estão também a desenvolver esforços na área. É o caso do Instituto Politécnico de Setúbal em parceria com a Autoeuropa, responsável por 1% da criação de riqueza no país, todos os anos.

"Portugal é um laboratório vivo de tecnologias limpas e o facto de termos uma grande adesão às questões verdes tem uma grande vantagem: faz de Portugal um país de atracção de investimento", defende o ministro Moreira da Silva.

O sector automóvel nacional está em movimento. Como avançou o Negócios, as empresas da área uniram-se para criar um "cluster" automóvel. O mesmo terá 40 milhões de euros para investir, não esquecendo projectos na área da mobilidade eléctrica.

Em 2010, José Sócrates inaugurou o primeiro ponto de carregamento eléctrico da rede Mobi.E. Já em 2015, no salão automóvel de Lisboa, a Fuso Canter E-Cell, um camião ligeiro eléctrico totalmente "made in Portugal" mereceu a atenção de Moreira da Silva.

São cinco anos a separar as duas fotografias políticas, de cores diferentes, mas a ditar uma tendência: o momento parece propício para o país se tornar num actor global da mobilidade eléctrica.
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