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Lagarde acredita que manter atuais taxas por um período "suficientemente longo" vai domar inflação

A presidente do Banco Central Europeu (BCE) sinalizou que a decisão de subir as taxas de juro pela décima vez consecutiva - que não foi consensual - poderá ser a última deste ciclo.

Ronado Wittek / EPA
Leonor Mateus Ferreira leonorferreira@negocios.pt 14 de Setembro de 2023 às 14:22
O ciclo de subidas das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE) poderá ter chegado ao fim após 14 meses e 450 pontos base. Depois de anunciar o décimo aumento consecutivo - que não foi consensual dentro do grupo de decisores -, a presidente Christine Lagarde indicou que poderá seguir-se uma pausa. Mas avisou que os juros não irão descer tão cedo.

"Com base na sua atual avaliação, o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras atingiram os níveis que – se forem mantidos durante um período suficientemente longo – darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo", disse Lagarde.

Os níveis a que se refere estarão em vigor a partir de 20 de setembro e refletem a subida de 25 pontos base. 
A taxa de juro dos depósitos vai avançar para 4% - um novo máximo de sempre -, enquanto a aplicável às operações principais de refinanciamento sobe para 4,5% e a de cedência de liquidez para 4,75%.

Christine Lagarde explicou, contudo, que a duração desse período suficientemente longo não está definida e irá depender da evolução dos dados económicos. Até porque o BCE está mais pessimista e atirou o regresso à meta da inflação de 2% para o verão de 2025, deixando a porta aberta a voltar a subir juros se necessário.

"Não estou a dizer que atingimos o pico. [A expressão] por quanto tempo for necessário não pode ser fixada", advertiu a líder francesa, acrescentando: "Não mudo nada do que disse em Sintra", numa referência ao discurso no Fórum BCE, em junho, quando afirmou que seria preciso juros elevados por um longo período de tempo para domar a inflação.

Após as declarações da presidente do BCE, as principais praças europeias encheram-se de otimismo, com várias bolsas do bloco a negociar com ganhos superiores a 1%, estando o "benchmark" europeu Stoxx 600 a valorizar 1,09% para 458,91 pontos.

No mercado obrigacionista, as "yields" das principais dívidas soberanas da Zona Euro aliviam, estando os juros das Bunds alemãs – referência para a região - a subtrair 3 pontos base para 2,616%. Pelo mercado cambial, o euro perde terreno, estando a desvalorizar 0,66% para 1,0659 dólares.

Decisão foi tomada por "sólida maioria"

Em sentido contrário àquele que tem sido levado a cabo pelo BCE, Christine Lagarde garantiu que um corte nos juros de referência não foi sequer referido durante as discussões, que decorreram entre quarta e quinta-feira.

A presidente do BCE relatou que os 20 governadores e os seis membros do concelho executivo tiveram muitos dados para analisar e que o economista-chefe Philip Lane fez a habitual apresentação. "No final das sessões, tínhamos uma opinião partilhada sobre os dados", avançou.

Ainda assim, "nem todos os membros" concordaram em subir juros. "Alguns governadores preferiam uma pausa e reservar [uma eventual subida] para futuras decisões", apontou. "Uma sólida maioria concordou com a decisão que tomámos. Tivemos de nos contentar com esse resultado", acrescentou.

Lagarde não especificou de quem vieram as opiniões contrárias. Contudo, na semana passada, num artigo publicado esta segunda-feira intitulado "Encruzilhada de políticas", o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, alertou para que o risco de o BCE "fazer de mais" na subida das taxas de juro começar a "materializar-se".

O líder do banco central nacional defendeu que a inflação se tem reduzido mais rapidamente do que subiu e a economia está a ajustar-se às novas condições financeiras pelo que acredita que o objetivo de puxar a inflação para a meta desejada está ao alcance num horizonte próximo.


(Notícia atualizada às 15:25)


* A jornalista viajou para Frankfurt a convite do Banco Central Europeu.
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