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Marcelo: Decisão do BCE é dor de cabeça para governos e favorece radicalismos

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que falta na mensagem do Banco Central Europeu (BCE) "um sinal de esperança" e qualificou a sua posição como "muito rígida".

Presidente da República diz que optou por não adiar as expectativas de oito mil professores.
Pedro Nunes/Reuters
15 de Setembro de 2023 às 01:34
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O Presidente da República considerou hoje que a decisão do BCE de subir novamente as taxas de juro "é uma dor de cabeça para todos os governos" e que no plano político favorece os radicalismos e populismos.

Em declarações aos jornalistas à entrada do Centro Canadiano de Arquitetura, em Montreal, durante a sua visita oficial ao Canadá, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que falta na mensagem do Banco Central Europeu (BCE) "um sinal de esperança" e qualificou a sua posição como "muito rígida".

Segundo o chefe de Estado, "isto é penalizador para todos os governos, todos os governos", e "o Governo português tem feito o que pode em termos de ajudas sociais neste colete de forças, mas sempre com o BCE a dizer em geral aos governos para fazerem menos de ajudas sociais".

O Presidente da República apontou a linha seguida pelo BCE como "um colete de forças europeu" que "é uma dor de cabeça para todos os governos e para todos os cidadãos europeus".

Sobre eventuais novas medidas a adotar pelo Governo português, o Presidente da República referiu que "o senhor primeiro-ministro ainda nestes últimos dias disse que estava a estudar, nalgumas das áreas em que tudo é consequência desta situação de dar prioridade ao combate à inflação por parte do BCE, nas rendas, como noutros domínios, a estudar fórmulas de acomodação deste colete de forças".

Porém, no seu entender, "não se pode pedir aos governos que só por si tragam esse sinal de esperança - muito têm feito - se o BCE não for sendo consistente com a sua posição abrindo horizontes de esperança".

"As pessoas precisam de uns sinaizinhos de esperança, é só isso", reforçou.

Marcelo Rebelo de Sousa reiterou a sua preocupação com os efeitos da política do BCE no crescimento económico dos países da União Europeia e criticou que a subida das taxas de juro seja acompanhada "de pedidos aos governos para diminuírem as ajudas sociais".

Por outro lado, advertiu para os efeitos da política do BCE nos sistemas políticos europeus, realçando que no próximo ano há eleições para o Parlamento Europeu.

No seu entender, "objetivamente isto favorece um bocadinho posições mais radicais do ponto de vista político, para não dizer mais populistas, e isso é preocupante".

"Não conviria que a Europa ficasse muito fraquinha na retoma económica, por causa das consequências sociais na vida das pessoas e por causa das consequências políticas. Os sistemas políticos pagam por isso -- não os economistas teóricos, mas aqueles que lidam com a realidade política e social pagam por isso. Vamos ver se isto muda para o mês que vem, mas ainda não foi deste. É uma pena", acrescentou.

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje um novo aumento - o décimo consecutivo - das três taxas de juro diretoras, em 25 pontos base.

"A inflação continua a descer, mas ainda se espera que permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo. O Conselho do BCE está determinado a assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de médio prazo de 2%", justificou o banco central, em comunicado.

Em conferência de imprensa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, referiu que o Conselho de Governadores considera que "as taxas de juro diretoras atingiram os níveis que, se forem mantidos durante um período suficientemente longo, darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo".

No entanto, segundo Christine Lagarde, "é demasiado cedo para dizer se as taxas de juro do BCE atingiram o seu pico".
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