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Governo aposta nas famílias para compensar Novo Banco
O FMI será o principal "afectado" pela ausência do encaixe com a venda da instituição, cabendo às famílias o maior "esforço" para compensar o "buraco" no financiamento do Estado.
As famílias portuguesas financiaram em cinco mil milhões de euros a dívida do país, no ano passado. Deveriam, este ano, contribuir em mais três mil milhões, mas o "esforço" exigido vai ser um pouco superior. As poupanças destas são a maior aposta do governo para tentar compensar a ausência da receita com a venda do Novo Banco. O Estado espera mais 800 milhões dos particulares em certificados, mas também através das OTRV.
É o FMI o principal "afectado" pelo adiamento do processo de venda da instituição financeira que resultou da resolução do BES. Deveria receber mais 2.200 milhões de euros este ano (elevando-se o total da amortização antecipada para 10.600 milhões), mas isso já não vai acontecer, segundo a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP). Mas só poupar estes 2.200 milhões não chega. São precisos mais 1.700 milhões para chegar aos 3.900 milhões. Quase metade desse montante (47%) virá das famílias.
Os portugueses aplicaram milhares de milhões de euros em títulos de dívida pública de retalho no primeiro mês deste ano na corrida às taxas altas – os juros dos certificados de aforro e dos CTPM foi revisto em baixa em Fevereiro. Desde então, o fluxo de entradas ressentiu-se, mas começa a dar novamente sinais positivos nos CTPM: entraram 164 milhões em Agosto. O total, este ano, vai em 2.760 milhões, nos dois produtos. O previsto era de 2.500 milhões, mas o IGCP já assumia 3.000 milhões. Agora estima em 3.800 milhões.
Nestes 800 milhões de euros está dinheiro que o IGCP prevê que seja aplicado nos certificados nos quatro meses até ao final do ano. Considerando a média de entradas nos últimos três meses, as famílias poderão contribuir com mais 550 a 600 milhões de euros para a dívida pública através dos certificados. Contudo, Dezembro é, em regra, um mês forte devido aos subsídios de Natal, o que poderá elevar ainda mais o saldo.
Só com os certificados seria, potencialmente, possível ao Estado obter o montante que procura das famílias para saldar o "buraco" pela não venda do Novo Banco. Contudo, há ainda outro produto que poderá dar um impulso à captação de recursos junto das famílias: as obrigações do tesouro rendimento variável (OTRV) cuja emissão ainda não está definida. Estes títulos foram anunciados no último Conselho de Ministros, tendo prazos entre 5 e 10 anos.
Mais obrigações, menos depósitos
Enquanto às famílias o Estado está a pedir 800 milhões, aos grandes investidores a exigência é bem menor: 500 milhões de euros, de acordo com a actualização ao programa de financiamento publicada pela agência liderada por Cristina Casalinho. "O montante total de emissão de dívida de médio e longo prazo irá, provavelmente, ascender a 20.000 milhões (mais 500 milhões mais do que o previsto anteriormente)".
Esta alteração, diz o comunicado, "não altera significativamente a estratégia de financiamento do IGCP para o que resta de 2015". Nem tem grande impacto, diz o IGCP, "na projectada posição de caixa no final do ano". É que além do retalho, dos grandes investidores, o Novo Banco obriga também o IGCP a utilizar já este ano parte da almofada financeira que foi criando com o regresso aos mercados.
O nível de depósitos vai reduzir-se em 400 milhões de euros, de 9 mil milhões para 8,6 mil milhões. O IGCP nota que esta "almofada" ficará, ainda assim "bem acima dos 8 mil milhões de euros", sendo que o plano apresentado prevê que esta liquidez extra que deve servir para acomodar eventuais momentos de tensão nos mercados financeiras, deverá voltar a aumentar no próximo ano para os 9.000 milhões. Cairá, depois, em 2017 para 7.000, para 5.000 milhões em 2018 e para 4.000 em 2019, estima o IGCP.