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Mario Monti pede "atenção" para juros de Itália acima de Portugal

O antigo governante italiano diz que o facto de os juros da dívida portuguesa estarem abaixo dos da italiana "não é razão para alarme". Mas pede que se monitorize a evolução, para o caso desta tendência poder "sugerir alguma coisa."

Mario Monti, primeiro-ministro de Itália
Paulo Zacarias Gomes paulozgomes@negocios.pt 22 de Dezembro de 2017 às 12:41
O antigo primeiro-ministro italiano Mario Monti manifestou-se preocupado pelo facto de o valor exigido pelos investidores para comprarem obrigações italianas em mercado secundário estar acima do que é pedido para a dívida portuguesa, sublinhando que esta situação exige "monitorização".

"[O spread de Portugal tem sido] historicamente elevado, ainda assim está agora abaixo do nosso. (…) Não é razão para alarme, mas para muita atenção, caso isso possa sugerir alguma coisa," afirmou o senador esta sexta-feira, 22 de Dezembro, perante a comissão parlamentar sobre o sector financeiro em Roma.

O antigo governante (2011-2013) referia-se, segundo a Bloomberg, ao facto de as ‘yields’ da dívida soberana de Roma terem superado, em 15 de Dezembro, os juros das obrigações portuguesas a 10 anos pela primeira vez desde 2010.

Uma situação verificada horas antes de a Fitch tomar a decisão inédita de melhorar em dois patamares o "rating" de Portugal, elevando-o à categoria de investimento. Mas não só. A determinar esta inversão de papéis entre os dois países está o que Monti refere como o "risco normal" associado à incerteza em torno da situação política no país transalpino e que conduziram os juros das obrigações a agravamentos.

Após o Natal espera-se que o parlamento italiano seja dissolvido e sejam agendadas eleições em Março. Se se cumprirem as últimas projecções, o país pode ficar num limbo, já que a maioria absoluta parece longe de ser alcançada por qualquer partido, o que pode desencadear nova ida às urnas.

Ainda assim, o antigo governante esperaria que situação semelhante de incerteza política – desta feita em Espanha, onde esta madrugada as eleições na Catalunha desaguaram em nova maioria para os independentistas – pudesse penalizar mais os juros de Madrid em relação aos pares da periferia do euro.

"[Espanha] está numa situação que não é insignificante e seria de se esperar que a incerteza em Espanha se reflectisse nos mercados com um ‘spread" mais elevado disseminação – mas [a ‘yield’] continua abaixo da Itália," acrescentou.

Apesar de nas últimas sessões a distância entre as 'yields' portuguesas e italianas se ter dilatado (para o maior 'spread' em oito anos), nas duas últimas sessões o intervalo encurtou-se, fruto da apreciação generalizada nos juros na Zona Euro, em negociações marcadas pela incerteza catalã.

Esta sexta-feira os juros de Portugal a dez anos continuam abaixo dos de Itália (-13,1 pontos base). Já o 'spread' entre Espanha e Itália chegou a estar em mínimos de Outubro, estando agora em -46 pontos base. Face à Alemanha, Itália tem agora o segundo maior prémio de risco na Zona Euro (diferença face aos juros da Alemanha), ainda assim a uma distância assinalável da Grécia.



Questionado por um deputado sobre se os seus comentários a propósito dos mercados de dívida seriam um aviso, Monti respondeu: "Sim, sim, embora seja - felizmente - feito por um cidadão particular e não por uma autoridade política ou monetária".

Na sexta-feira, os juros a dez anos de Portugal atingiram pela primeira vez em quase oito anos um nível inferior às “yields” de Itália. O juro de Portugal atingiu um novo mínimo de 2015.

A retoma do investimento (público e privado) não foi a mais forte em Portugal, mas a aceleração este ano colocou-o a crescer bem mais do que o italiano. Para 2018, a previsão também é de um reforço maior em Portugal.

Depois de ter atingido valores muito mais elevados do que em Itália, o desemprego em Portugal tem recuado a um ritmo forte e já voltou a estar abaixo do italiano.

Embora sejam duas economias a quem são identificados entraves ao crescimento, desde 2013 que Portugal tem crescido mais rápido do que Itália.

O perfil de crescimento das exportações até é semelhante entre os dois, mas desde a entrada da troika que a venda de bens e serviços tem avançado muito mais rápido em Portugal.

Portugal tem hoje um défice orçamental mais baixo do que Itália. Desde 1997 que o nosso saldo orçamental vinha sendo sempre mais negativo.

A subida da dívida portuguesa foi muito mais fulgurante do que a italiana. Contudo, já entrou numa trajectória descendente, enquanto a italiana está quase estagnada.
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