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Juros a 10 anos acentuam subida
As taxas de juro implícitas da dívida portuguesa estão a subir no mercado secundário em todos os prazos, devido essencialmente aos receios em torno da DBRS. Os juros estão a subir no dia em que o IGCP voltou ao mercado e emitiu dívida de curto prazo a juros negativos.
A taxa de juro implícita na dívida portuguesa a 10 anos está a subir 11,8 pontos base para 2,957%, tendo ontem subido quase 15 pontos base, naquela que foi a subida mais acentuada desde o Brexit, de acordo com os preços genéricos da Bloomberg.
Em sentido contrário está a dívida alemã, com as bunds a 10 anos a descerem 1,3 pontos para -0,043%, elevando para mais de 298,8 pontos base o "spread" da dívida portuguesa face à alemã (a referência).
A subida está a ser generalizada, com subidas entre 8,2 pontos e 14,1 pontos base nos diferentes prazos. Nos períodos mais curtos, a três e seis meses, as taxas continuam negativas, ainda que estejam a subir.
Negativos foram também os juros conseguidos pelo IGCP no leilão realizado esta quarta-feira. De realçar que as taxas de juro conseguidas no leilão do IGCP não são as mesmas que negoceiam no mercado secundário. Este último é onde negoceia a dívida que já foi emitida e serve de referência para emissões que possam estar a ser realizadas ou pensadas.
A taxa de juro da dívida a três meses, por exemplo, está a negociar nos -0,103% no mercado secundário. Já o IGCP conseguiu colocar 400 milhões de euros a três meses com uma taxa igualmente negativa de -0,108%. Este valor a que Portugal se financiou esta quarta-feira é ainda inferior ao conseguido em Dezembro de 2015, altura em que conseguiu um juro de -0,023%.
No mercado secundário, os juros da dívida nacional sobem assim pelo segundo dia consecutivo, depois de ontem terem registado a maior subida desde o dia 24 de Junho, um dia depois do referendo que ditou o sim da saída do Reino Unido da União Europeia.
A contribuir para esta subida esteve essencialmente as declarações do responsável pela análise de ratings soberanos da DBRS, em entrevista à Reuters . Fergus McCormick afirmou que "as pressões [sobre o rating português] parecem aumentar", apesar do rating de Portugal continuar com uma perspectiva "estável". As palavras do analista surgem depois de na sexta-feira, 12 de Agosto, ter sido revelado que o produto interno bruto (PIB) de Portugal cresceu 0,8% no segundo trimestre, quando comparado com igual período do ano passado, e 0,2%, quando comparado com o primeiro trimestre.
Estes números levam a que Portugal possa crescer menos de 1% este ano, desacelerando face aos 1,5% do ano anterior e ficando distante da previsão do Governo de um crescimento de 1,8% inscrita no Orçamento do Estado e no Programa de Estabilidade.
Para a DBRS o baixo crescimento da economia portuguesa e os elevados níveis de dívida pública e privada, a que se juntam ainda as dificuldades da banca nacional, estão a contribuir para o elevar da pressão sobre Portugal.
As declarações do responsável da DBRS assumem uma importância maior porque esta é a única das quatro agências de rating a que o Banco Central Europeu (BCE) recorre para avaliar a dívida pública dos países que atribui grau de investimento à dívida portuguesa. Ou seja, é a única que não tem um rating de "lixo". Caso retire Portugal deste grau, o BCE deixa de poder comprar dívida soberana no âmbito do programa de compra de activos de 1,7 biliões de euros.