Notícia
Juros de Portugal superam os 2% arrastados por Itália
As propostas do próximo governo italiano estão a assustar os mercados. Os juros das obrigações portuguesas sobem 14 pontos base.
A perspectiva de um governo populista em Itália continua a assustar os investidores e é no mercado de dívida soberana onde se sente o maior impacto.
As obrigações italianas estão em queda acentuada, elevando os juros para máximos de quase três anos no prazo a dois anos. Uma evolução que está também a condicionar os títulos de dívida dos países periféricos do euro, como é o caso de Portugal e Espanha.
A "yield" das obrigações do Tesouro de Portugal a 10 anos estão a subir 14,3 pontos base para 2,01%, superando a fasquia dos 2% pela primeira vez desde 5 de Março. Em Espanha a subida é mais contida, com a "yield" a avançar 5 pontos base para 1,49%, mas este é também o nível mais elevado desde 6 de Março.
Os juros da dívida portuguesa estão a acentuar a tendência de alta que já registavam de manhã (registando já a maior subida diária desde 17 de Janeiro), acompanhando a tendência das obrigações italianas. A "yield" dos títulos de dívida italiana a 10 anos avançam 16,7 pontos para 2,395%, o que representa o nível mais elevado desde Julho de 2017. No prazo a 2 anos, o aumento é 12,3 pontos base para um máximo de quase três anos nos 0,23%.
Com os juros da Alemanha e queda (-5 pontos base a 10 anos), o risco da dívida está em alta em todos os periféricos. Em Itália o "spread" está em 186 pontos base e em Portugal aumentou para perto de 150 pontos base, o nível mais elevado desde meados de Janeiro.
A tendência de subida dos juros em Itália acentuou-se na semana passada, depois do 5 Estrelas e da Liga terem encetado negociações para formar governo. Apesar de ter saltado do programa a proposta para o BCE anular a dívida de 250 mil milhões de euros em obrigações italianas, os investidores temem que um governo populista implemente medidas anti-Europa e que coloque em risco as já debilitadas finanças públicas do país.
Os dois partidos populistas vão esta segunda-feira, 21 de Maio, anunciar ao presidente Sergio Mattarella quem escolheram para chefiar o próximo executivo, sendo que os media do país adiantam que a escolha recaiu em Giuseppe Conte, um pouco conhecido e discreto professor de direito da Universidade de Florença.
"A credibilidade orçamental do programa de governo está longe de estar garantida", afirmou Richard McGuire, do Rabobank, citado pela Bloomberg.
Segundo a agência de notícias norte-americana, o que mais está a assustar os investidores é a possibilidade do próximo Governo avançar para a emissão de títulos de dívida de muito curto prazo – conhecidos por "mini-BOTS" e denominados em euros – que muitos consideram ser uma espécie de antecâmara de uma moeda paralela que poderia fazer disparar o endividamento do Estado transalpino, que detém já a segunda maior dívida da Zona Euro em função do PIB.
Matteo Salvini, líder da Liga, considerou "inaceitáveis" as advertências do ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, sobre a importância do respeito dos compromissos de Itália para a estabilidade do euro.
Os dois partidos anunciaram na sexta-feira um "contrato de governo" que rejeita a austeridade e as "ordens" de Bruxelas e promete "firmeza" na luta contra a corrupção, o crime e a imigração.
Reagindo a princípios enunciados nesse contrato, o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, advertiu hoje que a estabilidade da zona euro seria "ameaçada" se o próximo governo de Itália não respeitar os compromissos do país em relação à dívida e ao défice.
(notícia actualizada às 16:28 com novas cotações)