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Juros das dívidas públicas na OCDE subiram ao ritmo mais rápido em três décadas

A análise da organização indica que a forte subida das "yields", iniciada em 2021, é mais rápida desde a verificada em 1994 e 1995 na crise do mercado obrigacionista.

Reuters
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Os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) viveram a mais rápida e forte subida das "yields" das dívidas públicas em três décadas. E com o reforço das necessidades de financiamento devido à pandemia, os governos vão enfrentar agora condições menos favoráveis para se refinanciarem.

"As condições de mercado e de financiamento alteraram-se consideravelmente" desde 2022, explica a OCDE na mais recente edição do relatório "Sovereign Borrowing Outlook" divulgado esta segunda-feira. "No ano que passou desde que começou a aceleração do ritmo de aperto da política monetária, o apetite financeiro global pelo risco mudou e a confiança dos investidores caiu", refere.

A análise da organização indica que a forte subida das "yields", iniciada em 2021, é mais rápida desde a verificada em 1994 e 1995 na crise do mercado obrigacionista. Ultrapassou assim o período de 1999 e 2000 na bolha das "dotcom", entre 2004 e 2007 na crise do mercado imobiliário e em 2016 a 2018 na tentativa de normalização da política monetária.
O fim do longo período de condições de financiamento benignas para emitentes de dívida soberana deve-se ao ajustamento dos bancos centrais a novas realidades. A escalada da inflação levou à subida dos juros de referência dos maiores bancos centrais do mundo, a par da inversão dos programas de aquisição de dívida - nalguns casos com a suspensão das compras líquidos e, noutros, até mesmo com venda.

"Com as taxas de referência em tendência ascendente, as 'yields' das obrigações tendem a seguir-se", lembra a OCDE. Entre dezembro de 2021 e o final de 2022, a "yield" média das obrigações a dois anos dos países da OCDE subiu de 0,5% para 3,3%. A dez anos o agravamento foi de 1,1% para 3,3%.

A evolução não só revela um agravamento como indica a inversão da curva, um sinal de alarme para os mercados, apesar de ser um padrão comum em períodos de aperto monetário que as "yields" de curto prazo sejam mais afetadas do que as de longo prazo. A redução média do "spread" face à maturidade foi de 0,6 pontos percentuais. A Grécia e o Japão foram exceções.

Outro "importante desenvolvimento", segundo os especialistas da organização, tem sido o alargamento dos "spreads" entre países, especialmente na parte final da curva de rendimentos. No caso da Zona Euro, cujos países estão sujeitos à mesma política monetária, houve um aumento no "spread" entre a Alemanha e Grécia (1,1 pontos percentuais), Itália (0,7), Portugal (0,5) e Espanha (0,4).

Risco de refinanciamento é "elevado"

A alteração das condições traz desafios aos país. "Os custos dos empréstimos para os soberanos da OCDE mais do que duplicaram desde 2021 e deverão subir ainda mais a curto prazo. Como resultado, os países enfrentam elevados riscos de refinanciamento e vários governos irão gastar uma parcela mais elevada dos seus orçamentos no serviço da dívida - e enfrentar maiores constrangimentos orçamentais - nos próximos anos", avisa a OCDE.

A covid-19 levou as necessidades de financiamento dos países da OCDE para máximos históricos, sendo que houve uma em 2022, tendo-se fixado 20% abaixo desse pico. Já a dívida viva também se reduziu de 90% do PIB em 2020 para 83% em 2022. No entanto, a guerra perturbou estes planos e vários Estados têm precisado de mais dinheiro para acomodar os apoios às famílias e empresas.

"Em parte devido aos desenvolvimentos geopolíticos, o 'outlook' para o financiamento dos governos é incerto", diz a organização. Além disso, apesar da tendência geral de diminuição nos últimos dois anos, os níveis de financiamento e endividamento mantêm-se "substancialmente elevados" face aos níveis pré-pandemia, sendo que esta dívida terá de ser reembolsada ou refinanciada. Do total, 23 biliões de dólares vai atingir a maturidade nos próximos três anos.
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