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Investidores emprestam a 30 anos à Alemanha com juros negativos

Pela primeira vez na sua história, a Alemanha emitiu dívida a 30 anos com juros negativos. É o "novo normal" no mercado de obrigações.

Reuters
21 de Agosto de 2019 às 10:56
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O apetite dos investidores por obrigações soberanas com juros baixos (ou mesmo negativos) conheceu um novo capítulo esta quarta-feira, 21 de agosto. A Alemanha foi ao mercado para se financiar a 30 anos, mas desta vez, em contrapartida, ofereceu... nada.

Aliás, os investidores decidiram emprestar dinheiro à Alemanha sem receber nada em troca e, pelo contrário, pagando. A emissão foi finalizada com um juro de -0,11%, o que significa que, se os investidores mantiverem a obrigação até ao fim da sua maturidade, vão receber menos do que o valor emprestado. Ou seja, na prática, "pagam" para emprestar.

Esta é a primeira vez no mundo que um país emite dívida a 30 anos no mercado primário a juros negativos, de acordo com a Bloomberg.

A oferta era de dois mil milhões de euros em obrigações com maturidade em 2050 que, pela primeira vez, foram oferecidas ao mercado com cupão de 0% nesta maturidade. Anteriormente, Berlim já tinha ido ao mercado para se financiar a 10 anos sem pagar juros. 

Os investidores têm apostado as suas fichas nas obrigações alemãs (as 'bunds') por estas serem consideradas as mais seguras da Zona Euro, um ativo de refúgio a que os mercados recorreram numa altura em que se fala cada vez mais do risco de recessão a nível mundial.

A expectativa que o Banco Central Europeu (BCE) baixe os juros em setembro para mínimos históricos e potencialmente relance o programa de compra de ativos (incluindo dívida pública dos países da Zona Euro) está a determinar também o comportamento dos investidores.

Reflexo disso é que, recentemente, no mercado secundário, os juros da dívida alemã em todos os prazos até 30 anos passaram a negociar em terreno negativo. Tal significa que, caso os investidores mantenham essas obrigações até ao final da maturidade, irão receber menos do que pagaram em vez de receber mais de forma a compensar o "risco" do empréstimo de capital.

Contudo, é de assinalar que esta emissão teve menos procura do que as anteriores, tal como temiam alguns analistas. Na realidade, apenas foram colocados 870 milhões de euros face aos dois mil milhões oferecidos. 

O analista Ralf Preusser, do Bank of America, recordava o episódio de 2015 em que houve pouca procura por obrigações alemãs num leilão semelhante, levando a uma subida dos juros em mercado secundário. O risco é que com este nível de cupão, o Tesouro alemão encontre os "compradores em greve", avisou Ralf Preusser, citado pela Bloomberg.

Já Pooja Kumra, analista da TD Securities, citada pelo Financial Times, considera que o apetite continuará uma vez que "toda a gente sabe que o BCE" vai atuar em setembro. Além disso, a expectativa de que a Alemanha avance com um pacote de estímulos de 50 mil milhões de euros poderá obrigar o país a voltar ao mercado para emitir 'bunds'. 

A Alemanha vai regressar aos mercados na próxima semana com uma emissão a dois anos de cinco mil milhões de euros a 27 de agosto, outra emissão a 10 anos de três mil milhões de euros a 28 de agosto e ainda uma emissão a cinco anos de quatro mil milhões de euros a 4 de setembro. O BCE só reúne-se a 12 de setembro.

(Notícia atualizada às 11h17 com o montante de obrigações colocado)

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