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Shale oil dos EUA a braços com vaga de falências
Os analistas da Rystad Energy estimam que 250 empresas do petróleo de xisto nos EUA possam estoirar até ao final do próximo ano, a menos que os preços do petróleo subam de forma suficientemente rápida para começarem a gerar dinheiro para os produtores endividados.
No passado dia 1 de abril, a norte-americana Whiting Petroleum pediu proteção contra credores, ao abrigo do Capítulo 11 da lei de falências dos EUA, tornando-se a primeira grande produtora independente de petróleo de xisto ("shale oil" – petróleo extraído a partir das rochas de xisto betuminoso) a sucumbir à queda dos preços do crude num contexto de oferta excedentária agravada pela pandemia do novo coronavírus.
Este pedido da empresa de fraturamento hidráulico (o chamado ‘fracking’ – injeção de um fluido a alta pressão, no subsolo, para facilitar a extração destes hidrocarbonetos) aconteceu numa altura em que muitas outras prospetoras norte-americanas se viam também já em apuros para conseguirem reembolsar aos bancos e obrigacionistas a dívida que emitiram para fazer dos EUA o maior produtor mundial de petróleo e gás.
O facto de muitas destas empresas estarem a sofrer cortes na sua notação financeira por parte das agências de "rating", com a dívida de muitas delas já classificada como "lixo", contribuiu para agravar este problema.
Hoje, o Financial Times avança que este ano já houve 17 pequenas produtoras norte-americanas de shale oil a pedirem proteção ao abrigo do Capítulo 11 [com uma dívida total em torno de 14 mil milhões de dólares], mas que muitas mais estão perto de o fazer. Os analistas da Rystad Energy estimam que esse total possa elevar-se a 73 antes de este ano terminar, podendo seguir-se mais 170 no próximo ano se os preços permanecerem nos atuais níveis.
Estes analistas estimam então que 250 empresas possam estoirar até ao final do próximo ano, a menos que os preços do petróleo subam de forma suficientemente rápida para começarem a gerar dinheiro para os produtores endividados.
Com efeito, apesar de o "fracking" já ser menos dispendioso com o evoluir das técnicas nos últimos anos, as empresas do setor não conseguem continuar a operar aos atuais preços.
Nas últimas quatro semanas, o saldo semanal das cotações do petróleo foi positivo, mas, ainda assim, os preços estão demasiado baixos para os produtores.
A menos de 40 ou 50 dólares por barril, a perfuração de petróleo não convencional (como o shale oil) não é rentável, sublinhava recentemente o Libération.
Os maiores grupos independentes do petróleo de xisto nos EUA reportaram perdas conjuntas de 26 mil milhões de dólares no primeiro trimestre, refere o FT, acrescentando que o setor se depara com um cenário de falências ao longo dos dois próximos anos.
A forte redução da procura – e se bem que esteja agora a começar a retomar, fruto das medidas de desconfinamento, ainda está longe dos níveis habituais para esta época do ano – obrigou a mais de 37 mil milhões de dólares em amortizações com perdas por parte dos principais produtores, segundo os dados da Rystad Energy. Isto levou a que os prejuízos líquidos destas empresas caíssem para níveis bastante abaixo da média de 2,9 mil milhões dos últimos seis anos.
"Os grupos de energia norte-americanos foram apanhados no olho do furacão, uma vez que os lockdowns destinados a conter a propagação da covid-19 cortaram drasticamente a procura e levaram à derrocada do mercado petrolífero", destaca o FT.
As fortes imparidades reportadas pelas 39 cotadas do shale oil nos EUA que são analisadas pela Rystad – que exclui as grandes empresas e as que se focam exclusivamente no gás – mostra a pressão que está a ser vivida por esta indústria em resultado da pandemia, diz ainda o jornal britânico.
"O resultado final é que vai haver uma vaga de insolvências e de reestruturações", comentou àquela publicação Regina Mayor, responsável pelo departamento de energia da KPMG.
Atualmente os preços do petróleo em Londres e em Nova Iorque transaccionam na casa dos 30 dólares, mas é um valor ainda baixo para quem opera no setor – pelo menos nos EUA.
"Não creio que o crude a 30 dólares salve muitos dos produtores que estão deitados numa maca nos cuidados intensivos à espera de um transplante de coração. Há mais insolvências para chegar", disse ao FT um advogado da Haynes & Boone, Buddy Clark.