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Revolução da energia verde enfrenta teste com crise do petróleo

O preço do barril de petróleo ainda é um importante indicador económico. Mas o impulso incansável de diminuir o uso de combustíveis fósseis sugere que o impacto geopolítico deve ser mais suave do que no passado, já que o imperativo de combater o aquecimento global entra em cena.

14 de Março de 2020 às 12:00
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Em 2014, quando se deu o último choque nos preços do petróleo, os governos não tinham um pacto para combater as alterações climáticas. No ano seguinte, os líderes mundiais assinaram o Acordo de Paris.

 

Desde então, os investimentos verdes dispararam. Cerca de 1,2 biliões de dólares foram investidos em energias renováveis, e as vendas globais de veículos elétricos atingiram dois milhões de unidades no ano passado. A Bloomberg NEF estima que 10 biliões de dólares sejam investidos em energia limpa até 2050.

 

O acordo também marcou um ponto de viragem importante, com metas de emissões agora policiadas por um movimento ambiental cada vez mais forte que tem moldado a política de vários países. Naquele que é um sinal dos tempos, a ativista Greta Thunberg e o fundador da Tesla, Elon Musk, são agora duas das pessoas mais famosas do mundo.

 

Mas a 8 de março a Arábia Saudita e a Rússia entraram numa guerra de preços que sacudiu os mercados globais já abalados pelo coronavírus, com os maiores produtores de petróleo a parecerem reafirmar a sua supremacia no curto prazo. No entanto, a medida pode representar mais um passo numa tendência de longo prazo para acabar com o poder do petróleo.

 

O preço do barril de petróleo ainda é um importante indicador económico. Mas o impulso incansável de diminuir o uso de combustíveis fósseis sugere que o impacto geopolítico deve ser mais suave do que no passado, já que o imperativo de combater o aquecimento global entra em cena.

 

"O impacto do preço do petróleo no crescimento económico geral tem-se dissociado desde os anos 80", disse Shane Tomlinson, vice-presidente executivo do think tank ambiental E3G. "Poderemos ver movimentos excepcionais no preço do petróleo nos próximos meses, mas não acho que isso mude a necessidade fundamental de abordar as alterações climáticas", acrescentou.

 

Mas a queda do petróleo nos últimos dias, de 55 para 35 dólares por barril, tem implicações importantes na abordagem das alterações climáticas. Os preços baixos incentivam mais uso de petróleo; encolhem os orçamentos das petrolíferas, colocando em dúvida projetos de energia limpa; e alguns governos sentem-se pressionados a apoiar as petrolíferas em dificuldades. Tudo isso aumenta as emissões, o que é uma má notícia para o aquecimento global.

 

No entanto, se os preços baixos se mantiverem desta vez, podem surgir importantes pontos positivos no combate às alterações climáticas.

 

A energia renovável é uma indústria mais madura do que há cinco anos. Ao tornar-se um investimento menos arriscado, atraiu grandes investidores que têm aplicado muito dinheiro e construído alguns projetos que rivalizam com a capacidade das centrais elétricas convencionais. Ao mesmo tempo, a exploração de petróleo torna-se menos viável economicamente, com maior risco de que mesmo os projetos em andamento já não produzam bons retornos e com um intensificar dos receios de que haja um aumento de ativos não rentáveis.

 

"Agora não faz sentido reduzir o investimento em renováveis se o preço do petróleo cair", sublinhou Mark Lewis, chefe de sustentabilidade do BNP Paribas Asset Management. "É mais lógico reduzir o investimento em petróleo".

 

(Artigo original: Green Energy’s $10 Trillion Revolution Faces Oil Crash Test)

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