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Preço do petróleo é controlado actualmente por apenas três homens

Bin Salman, Trump e Putin estão a ditar as regras no mercado. O príncipe pode debater-se para defender cortes na produção de petróleo contra um Trump hostil e um Putin indiferente.

Reuters
25 de Novembro de 2018 às 14:00
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A OPEP perdeu o controlo que tinha sobre o mercado de petróleo. As acções (ou tweets) de três homens - os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin e o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman - determinarão o rumo dos preços do petróleo em 2019 e depois também. Mas é claro que cada um deles quer algo diferente.

 

Enquanto a OPEP se esforça para encontrar um propósito comum, os EUA, a Rússia e a Arábia Saudita dominam a oferta mundial. Juntos, estes países produzem mais petróleo do que os 15 membros da OPEP. Os três estão a extrair a taxas recorde e cada um deles poderá aumentar a produção novamente no próximo ano, embora talvez nem todos optem por fazê-lo.

 

A Arábia Saudita e a Rússia lideraram o esforço em Junho para que a OPEP e os seus aliados aliviassem as restrições à produção que estavam em vigor desde o início de 2017. Depois, ambos elevaram a produção para patamares recorde ou quase recorde. A produção dos EUA disparou inesperadamente ao mesmo tempo, quando as empresas que extraem da bacia do Permiano, no Texas, superaram os gargalos nos oleodutos para transportar o seu petróleo para a costa do Golfo.

 

Estes aumentos, juntamente com pequenas reduções nas projecções de crescimento da procura e a decisão do presidente Trump de isentar das sanções os compradores de petróleo iraniano, mudaram o sentimento do mercado, que temia uma escassez de oferta e passou a recear um excesso no espaço de três meses. As reservas de petróleo nos países desenvolvidos da OCDE, que estavam a cair desde o início de 2017, voltaram a subir e provavelmente excederão o seu nível médio dos últimos cinco anos quando os dados de Outubro forem finalizados, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

 

Perante a queda dos preços do petróleo, a Arábia Saudita anunciou que reduzirá as exportações em 500.000 barris por dia no mês em Dezembro e advertiu os colegas produtores que estes precisarão de eliminar cerca de um milhão de barris por dia dos níveis de produção de Outubro. Isto provocou uma resposta morna de Putin e uma reacção imediata de Trump pelo Twitter.

 

Bin Salman precisa da receita do petróleo para financiar os seus ambiciosos planos de transformar a Arábia Saudita sem inquietar os que sofrem neste processo. O Fundo Monetário Internacional projecta que o reino precisará de um preço do petróleo na ordem dos 73,3 dólares por barril em 2019 para equilibrar o seu orçamento. O Brent está a ser negociado cerca de 5 dólares abaixo deste valor, e as exportações da Arábia Saudita são negociadas com um desconto em relação à referência do Mar do Norte. Prolongar os cortes de produção pelo terceiro ano consecutivo é a única maneira de Bin Salman concretizar o preço de que precisa.

 

O príncipe herdeiro enfrentará mais desafios de Putin e Trump. O presidente russo não demonstra muito entusiasmo em restringir novamente a produção do seu país. O orçamento de Moscovo está muito menos dependente dos preços do petróleo do que quando a Rússia concordou em aderir aos esforços liderados pela OPEP para reequilibrar o mercado de petróleo, em 2016, e as empresas de petróleo do país querem produzir nos campos em que investiram.

 

Talvez Putin decida que preservar a melhoria do seu relacionamento político com MBS, como o príncipe herdeiro é conhecido, vale um pequeno sacrifício. Mas ainda não há certeza de que a Rússia concordará em prolongar os cortes de produção quando os produtores se reunirem em Viena em Dezembro. Putin diz que os preços do petróleo em torno dos 70 dólares por barril são "completamente" aceitáveis para si.

 

A oposição de Trump será - naturalmente - muito mais barulhenta e chega num momento em que ele e MBS tentam preservar o seu relacionamento político, enquanto senadores americanos estudam sanções mais severas à Arábia Saudita em resposta à guerra no Iémen e ao assassinato do jornalista dissidente Jamal Khashoggi.

 

Uma ameaça dos EUA aos planos da Arábia Saudita, maior do que os tweets de Trump, virá do sector de petróleo do Texas. Os produtores americanos adicionaram um volume equivalente a toda a produção da Nigéria, membro da OPEP, nos últimos 12 meses. A produção americana pode chegar a 12 milhões de barris por dia até Abril, segundo o Departamento de Energia dos EUA. Seis meses mais cedo do que o previsto há apenas um mês e 1,2 milhão de barris por dia a mais do que o previsto em Janeiro.

 

A Arábia Saudita terá que enfrentar a ira de Trump, a indiferença de Putin e a prosperidade do sector de xisto dos EUA se quiser equilibrar o mercado de petróleo em 2019.

 

Esta coluna não reflecte necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

 

(Texto original: The Oil Price Is Now Controlled By Just Three Men: Julian Lee)

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