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Petróleo nos 100 dólares negativos não é ficção se os tanques encherem

"Claramente, estamos a viver uma crise de gestão de mercado em larga escala e diária", sublinhou Paul Sankey, analista petrolífero no Mizuho Bank, que acertou na previsão de preços negativos do petróleo feita em março. Sankey foi ainda mais longe na terça-feira: "Atingiremos os 100 dólares negativos por barril no próximo mês? É bem possível".

Reuters
23 de Abril de 2020 às 20:00
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Em órbita a centenas de quilómetros acima da Terra, os satélites Sentinel-1 mostram por que motivo a cotação do petróleo nos EUA caiu abaixo de zero e por que razão grande parte do mundo pode ir pelo mesmo caminho.

 

O satélite recebe sinais de radar vindos dos enormes tanques de metal que armazenam petróleo, e esses dados são usados para calcular a quantidade de crude guardado. A mensagem de retorno é alarmante: a capacidade de armazenamento de petróleo está quase esgotada.

 

É algo inédito, e o mercado só agora está a começar a avaliar o significado disso. Especialistas dizem que o espaço para armazenar petróleo pode acabar numa questão de semanas. Como resultado, a cotação do petróleo pode cair para perto de zero em muitas regiões do mundo e, nalguns casos, os preços poderão ficar negativos.

 

Florian Thaler, da Oilx, empresa de "research" que usa dados de satélite, diz que a capacidade global de armazenamento dos tanques pode ficar esgotada "no fim de maio ou começo de junho".

 

O caos no mercado de petróleo dos EUA na segunda-feira pode dar pistas sobre o cenário global, caso outros tanques comecem a encher. Também mostra que o mercado deve antecipar o pico de armazenamento, em vez de esperar para depois afundar quando o limite for ultrapassado. Alguns produtores de petróleo reformularam contratos para impedir que os preços entrem em território negativo.

 

Na terça-feira, a onda de vendas continuou. Os contratos de futuros do Brent – negociado em Londres e referência para a Europa – para entrega em junho perderam 15%, sendo negociados perto de 16 dólares por barril, o nível mais baixo em quase 21 anos. Os principais fluxos de petróleo da Europa e de África, que são negociados com desconto em relação à referência Brent, serão vendidos abaixo de 10 dólares e até a menos de 5 dólares nalguns casos.

"Claramente, estamos a viver uma crise de gestão de mercado em larga escala e diária", sublinhou Paul Sankey, analista petrolífero no Mizuho Bank, que acertou na previsão de preços negativos do petróleo feita em março. Sankey foi ainda mais longe na terça-feira: "Atingiremos os 100 dólares negativos por barril no próximo mês? É bem possível".

 

O mercado dos preços negativos não tem fundo e, depois desta semana, tudo é possível. Uma certeza é que os dados de satélite mais recentes mostram uma enorme saturação. Cerca de 50 milhões de barris de petróleo são armazenados semanalmente, o suficiente para abastecer Alemanha, França, Itália, Espanha e Reino Unido juntos.

 

Na Índia, a capacidade de armazenamento de combustível das refinarias atingiu 95%, de acordo com as autoridades de três processadoras estatais. A Nigéria cortará a produção porque não tem onde guardar petróleo, comentou Mele Kyari, responsável pela estatal de petróleo NNPC, em entrevista a um jornal local.

 

As refinarias de petróleo não têm comprado crude porque não há procura por gasolina. Alguns produtores têm reduzido a produção, mas outros continuam a bombear. Mesmo alguns dólares são melhores do que nenhum para as empresas endividadas. O petróleo não tem para onde ir, exceto para armazenamento.

 

Os dados dos satélites podem até estar a subestimar a quantidade de armazenamento realmente disponível. Muito espaço vazio já foi alugado por traders.

 

"Poderemos ter preços negativos, e bastante negativos", comentou, por seu lado, Pierre Andurand, fundador do fundo de cobertura de risco de petróleo com o mesmo nome. "O petróleo é um perigoso mercado de negociação neste momento", acrescentou.

 

Visto do alto, o mercado petrolífero parece um sistema global e altamente interconectado. Mas a realidade é que este mercado é um conjunto de pequenas e grandes ilhas, todas elas ligadas através de estreitas conexões. O que importa não é quando a capacidade mundial de armazenamento estiver esgotada, mas sim quando cada uma dessas ilhas, ou hubs regionais, atingir a sua capacidade – ou ameaçar estar perto disso.

 

No mercado norte-americano, tudo se resume a Cushing, em Oklahoma, que é o ponto de entrega dos contratos de futuros do WTI. A cidade, que se autodenomina de "entroncamento dutoviário mundial", acolhe uma dúzia de "viveiros de tanques" com capacidade suficiente para guardarem perto de 80 milhões de barris.

 

Quando o contrato do WTI expira, os traders com posições longas recebem petróleo de Cushing e têm de encontrar um local para armazenar os barris ou têm de os despachar. Se tiverem posições curtas (aposta na queda) no contrato, isso significa que têm de entregar petróleo.

 

Os preços afundaram na segunda-feira porque os traders que detinham contratos para entrega em maio tentaram desfazer-se desses contratos antes de expirarem (na terça-feira), pois não tinham tanques para armazenar o crude. Na pior altura dessa sessão, houve quem pagasse 40,32 dólares por barril para evitar ter de ficar com petróleo em mãos.

 

No mercado do petróleo físico, os traders chegaram mesmo a oferecer preços ainda mais negativos. A Plains All American Pipelines, uma das maiores expedidoras de petróleo dos EUA, exigiu aos produtores de Eastern Kansas Common [outro tipo de crude] que pagassem 55,05 dólares por barril se quisessem vender os seus contratos.

 

"O armazenamento em terra é muito limitado", referiu Bem Luckock, co-responsável pela negociação de petróleo no Transfigura Group.

 

Entre outras regiões de armazenamento que em breve poderão ficar com a capacidade esgotada temos também Roterdão, um hub da refinação para a Europa Ocidental, para várias ilhas das Caraíbas e para Singapura.

 

(notícia original: Why Oil at Negative $100 Isn’t a Crazy Bet Anymore)

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