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Peso de metais nos carros vale ouro e carrega nos custos
O “rally” nos preços dos metais acalmou, muito à conta da menor procura pela indústria automóvel devido à queda da produção com a escassez dos “chips”. Mas, terminada a crise, a maioria dos metais industriais vai voltar a crescer. E os custos dos carros também.
A recente escalada dos preços dos metais de base e preciosos foi mais um fator de tensão para o mercado automóvel, que usa estas matérias-primas em muitas das suas componentes. E apesar de os metais preciosos estarem agora com preços mais moderados do que há alguns meses, não deixam de ser um peso suplementar no custo de fabrico de um carro. Já a maioria dos metais industriais mantém-se em níveis elevados, o que, a juntar à escassez de “chips”, deixa a indústria automóvel mais pressionada.
De entre os metais de base, o cobre – usado para o cablagem e agora bastante procurado para o fabrico das baterias dos carros elétricos – é o que apresenta maior potencial de subida. “Estimamos que a procura por cobre para os transportes aumente em torno de 5% a 6% ao ano, nos próximos cinco anos, e que cresça entre 3% e 4% nesse mesmo período para as redes de eletricidade, levando a um aperto estrutural no mercado, especialmente se outros setores, como a construção e maquinaria industrial, continuarem também a expandir-se”, sublinha uma nota do UBS.
Os restantes metais não ferrosos transacionados no London Metal Exchange – zinco, alumínio, níquel, chumbo e estanho – têm visto as cotações a consolidar-se desde maio, mas a maioria das dinâmicas de mercado continua a apontar para um cenário de aperto da oferta, especialmente nos EUA, frisa o “research” do banco suíço. Isto muito à conta dos stocks, que permanecem baixos. “Antecipamos uma redobrada pressão sobre os inventários nos próximos meses, já que há um aumento sazonal da procura na Europa e nos EUA.
“Os investidores não devem subestimar a questão da oferta, que tem sofrido perturbações”, refere o UBS. Um dos exemplos é o da produção de alumínio – a maioria dos motores automóveis são agora feitos de ligas de alumínio, já que é um metal cerca de 40% menos denso do que o aço, permitindo reduzir o peso do carro –, que tem diminuído na China devido à sua tentativa de cumprir as metas ambientais a que se propôs. E a oferta de cobre também permanece apertada, nomeadamente devido à incerteza política nas regiões produtoras do Chile e do Peru.
Relativamente ao níquel, bastante procurado para as baterias dos carros elétricos, o UBS prevê que o seu uso nas baterias aumente na ordem de 6-7% ao ano durante os próximos cinco anos e que isso sustente os preços.
Também os inventários de zinco – usado, por exemplo, como revestimento dos parafusos para proteger da corrosão – têm estado mais baixos e, se a tendência prosseguir, as cotações deverão voltar a subir. Já o estanho, que foi o metal do LME com melhor desempenho no primeiro semestre de 2021, atingindo máximos de uma década, a Fitch considera que a sua oferta se deverá manter fraca até ao final do ano, uma vez que o ritmo lento a que a sua produção foi recuperando depois dos confinamentos decorrentes da pandemia, sobretudo nas regiões produtoras da Indonésia e Malásia, foi em muito superado pela rápida retoma da procura.
O único dos seis metais de base que viu os seus stocks aumentarem recentemente foi o chumbo – ao qual se recorre para o fabrico e reciclagem de baterias.
E os metais preciosos?
O paládio, a platina e o ródio, usados nos exaustores automóveis para a extração dos gases de escape, têm estado sob forte pressão, já que a escassez de “chips” provocou paragens na produção automóvel, levando a uma menor procura por estes metais preciosos.
As fabricantes automóveis consomem em torno de 80% dos cerca de 10 milhões de onças de paládio consumidos anualmente, 90% do milhão de onças do mercado do ródio e 40% da procura anual de 8 milhões de onças por ano de platina, o que torna este último metal menos vulnerável à escassez de “chips”, refere a Reuters.
O paládio afundou de um máximo histórico acima dos 3.000 dólares por onça em maio para cerca de 2.000 dólares atualmente, o ródio caiu também de um recorde – atingido em março, muito perto dos 30.000 dólares/onça – para 12.000 dólares, e a platina está agora nos 950 dólares quando em fevereiro atingiu máximos de sete anos, nos 1.336 dólares. E enquanto a crise no mercado automóvel durar, os preços destes metais continuarão sob pressão, apesar do seu uso também na joalharia e outras indústrias. Mas a platina poderá sair a ganhar quando tudo regressar à normalidade.
Uma vez que o paládio tem tido um desempenho superior ao da platina nos últimos anos, é provável que isso alimente a sua substituição por platina nos catalisadores automóveis durante os próximos anos, fazendo descer o seu preço, refere Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do UBS, noutra análise. “O paládio custa 2,4 vezes mais do que a platina e os novos conversores catalíticos com menos paládio já se perfilam no horizonte”. Recorde-se que a alemã BASF anunciou, em março de 2020, a invenção de um novo catalisador que substituirá entre 20% e 50% do paládio atualmente usado por platina, por ser mais barata.
A platina está a negociar no mais baixo nível desde novembro de 2020, mas “antevemos que os preços subam nos próximos 12 meses, à medida que a procura por catalisadores automóveis for aumentando e conforme a substituição do paládio por platina for ganhando força”, salienta Staunovo.
A escassez de “chips” “impacta sobretudo os mercados da América do Norte e da China, sendo por isso mais negativo para o paládio, que é usado nos carros a gasolina. Mas a menor produção de automóveis na Europa também impacta a procura por platina para os catalisadores nos veículos a diesel”, diz o UBS. Quando esta crise terminar, os preços destes metais vão ficar mais caros porque haverá uma maior procura. E, nessa altura, também os custos da produção automóvel vão voltar a subir.
Quanto ao ouro, os menores receios de que a Fed se decida já por começar a retirar os estímulos poderão dar um impulso ao metal, mas com a previsão de um dólar mais forte em 2022 “será uma questão de tempo até os preços recuarem de novo, pelo que mantemos um preço-alvo de 1.600 dólares para meados de 2022”, diz o UBS. Também a prata deverá ceder, dado o seu excedente no mercado físico, com o UBS a cortar o “target” para 20 dólares nos próximos 6 a 12 meses. O ouro e a prata são utilizados nas placas de circuito eletrónico.
“Research” do banco suíço sobre matérias-primas
Análise da agência sobre o estanho
Analista de matérias-primas do UBS