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Prata, ouro, cobre, soja e milho brilham em ano turbulento para as matérias-primas
O ano foi turbulento para as matérias-primas, em plena pandemia de covid-19, mas a maioria termina 2020 com saldo positivo. Entre as exceções esteve o petróleo. A prata, a soja e o cobre subiram ao pódio das maiores valorizações anuais.
O índice de commodities da Bloomberg, apesar de ceder 3,77% entre janeiro e dezembro, muito à conta do petróleo, encerrou o ano a somar perto de 30% face aos mínimos de abril, quando os confinamentos decorrentes da pandemia de covid-19 "dizimaram" a procura.
Pela positiva, foram vários os destaques, nomeadamente prata e ouro, cobre, milho e soja.
Prata e ouro nos píncaros
No que diz respeito aos metais preciosos, os holofotes incidiram sobre a prata – que foi a matéria-prima que mais subiu em 2020, muito à conta do seu estatuto de valor-refúgio e da aposta numa melhoria da procura industrial.
A prata acabou assim por ter melhor desempenho do que o ouro, visto ser uma alternativa de investimento mais barata. Fechou a rondar os 16,61 dólares por onça, com um ganho anual de 44,99%.
"A prata poderá vir a ser um mercado primordial na vanguarda das tendências favoráveis na eletrificação e na flexibilização quantitativa, com os dados técnicos a apontarem para um ‘bull market’ em formação", refere a Bloomberg.
Já o ouro avançou 25,10% no acumulado de 2020, muito perto dos 1.900 dólares por onça. Tratou-se do seu maior ganho anual numa década e passou por 12 meses turbulentos, com os ganhos de dezembro a serem estimulados pela queda do dólar para mínimos de abril de 2018 – já que o metal amarelo é negociado na nota verde, como a maioria das matérias-primas, o que aumenta a sua atratividade para quem negoceia noutras moedas.
O ouro atingiu um recorde em agosto, com os investidores a recearem que uma onda sem precedentes de estímulos por parte de muitos bancos centrais e governos levasse a um aumento da inflação – o que provocou uma maior procura por este metal como cobertura de risco.
Posteriormente, com as vacinas contra a covid-19 a injetarem otimismo nos mercados financeiros, o ouro perdeu parte do encanto para os investidores – cujo apetite pelo risco aumentou – mas a debilidade do dólar ajudou a manter os seus preços sustentados.
Dr. Cobre, o melhor dos metais industriais
Nos metais industriais, o cobre foi o que mais sobressaiu, tendo até aos últimos dias do ano disputado com a soja o segundo melhor desempenho de 2020 entre as "commodities".
Historicamente, o cobre tem sido um indicador do crescimento económico, sendo mesmo considerado o único metal com doutoramento em Economia – razão pela qual é apelidado de Dr. Cobre. Com a recuperação que começou a fazer-se sentir em pleno verão, por conta da reabertura das economias, este metal não ferroso seguiu de vento em popa na bolsa. E apesar dos novos confinamentos, decorrentes da segunda vaga de covid-19, o cômputo anual foi risonho.
O também chamado "ouro vermelho" fechou o ano no patamar dos 7.847,5 dólares por tonelada, a subir 27,11% desde janeiro.
O mercado assistiu assim à mais forte escalada em mais de uma década das cotações deste metal, com o apetite da China a levar a uma valorização de quase 70% do cobre desde os mínimos de março – em plena pandemia de covid-19.
Além disso, os stocks de cobre nos armazéns registados nas principais bolsas – o LME, a bolsa de futuros de Xangai e o Comex [bolsa de mercadorias) nos EUA – estão em queda, o que sustenta ainda mais os preços.
Assim, as expectativas de um défice da oferta, a depreciação do dólar e o papel do cobre nas tecnologias verdes alimentaram os recentes ganhos.
Alguns bancos e investidores já fizeram comparações com a escalada de inícios de 2000, quando o forte aumento das encomendas por parte da China conduziu a um superciclo das matérias-primas.
"Temos todos os sinais indicadores de um superciclo", comentou este mês à Bloomberg TV o diretor do departamento de análise de "commodities" do Goldman Sachs, Jeff Currie, aludindo aos máximos de vários anos dos metais, ao dólar fraco, ao petróleo no patamar dos 50 dólares por barril e ao aumento global da liquidez.
Numa nota de research de 17 de dezembro, o Goldman apontava já para o início de um circuito de retorno positivo entre as matérias-primas, o dólar e o crescimento dos mercados emergentes – que também já levou, no passado, a um "bull" [movimento de subida] estrutural nos mercados. Já o BlackRock estima que o cobre atinja máximos históricos no auge deste novo ciclo de subidas.
Os restantes cinco metais de base – zinco, alumínio, estanho, níquel e chumbo – também terminaram o ano em alta.
Soja em grande nas oleaginosas
Já nas commodities agrícolas, a soja terminou o ano a rondar os 12,84 dólares por alqueire no mercado de Chicago, depois de chegar aos 12,882 dólares, naquele que foi o valor mais alto desde 2 de junho de 2014.
No acumulado dos 12 meses, disparou 35,24%, sendo assim a melhor "performer" entre as matérias-primas, a seguir à prata.
Esta oleaginosa foi sustentada pela forte procura, especialmente em dezembro, tanto para alimentos como para óleos. Uma greve dos processadores de soja na Argentina, maior exportadora deste produto, também ajudou aos ganhos em bolsa.
Milho com maior série de ganhos em 33 anos
Ainda no setor agrícola, destaque também para o milho, que registou na reta final do ano a mais longa escalada dos últimos 33 anos, animado pela maior procura por parte da China e pelas condições meteorológicas adversas [o fenómeno climatérico La Niña] em regiões chave de plantação deste cereal na América do Sul.
Em Chicago, os preços deste cereal fecharam o ano em máximos de 18 meses e estabeleceram o maior ano anual da última década. No acumulado do ano, o milho escalou 16,6%.
Na sessão de 31 de dezembro, os futuros para entrega em março subiram para 4,79 dólares por alqueire – o preço mais elevado desde junho de 2019. Tratou-se da 14.ª sessão consecutiva no verde, naquele que foi o mais longo ‘rally’ desde setembro de 1987.
Os preços dos produtos agrícolas, em geral, encerraram o ano com nota positiva. O índice da Bloomberg para a Agricultura avançou 22%, o maior ganho anual desde 2010.