Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Vença as suas dívidas

Ganham entre 501 a 1.000 euros por mês, são sobretudo mulheres, trabalham por conta de outrém e têm um agregado familiar composto por dois ou três elementos. São estes os "novos pobres" de Portugal. Famílias da classe média...

Vença as suas dívidas
30 de Abril de 2009 às 10:02
  • 7
  • ...

O excesso de créditos e o crescimento do desemprego levaram várias famílias aos organismos de defesa do consumidor, no primeiro trimestre de 2009. Faça um plano orçamental, suspenda o recurso ao crédito e poupe. Evite o sobreendividamento



Ganham entre 501 a 1.000 euros por mês, são sobretudo mulheres, trabalham por conta de outrém e têm um agregado familiar composto por dois ou três elementos. São estes os "novos pobres" de Portugal. Famílias da classe média que contraíram entre dois e 13 créditos e que vivem, maioritariamente, em Lisboa e no Porto. Os dados são de um projecto de investigação do Observatório do Endividamento dos Consumidores, de Dezembro de 2008, liderado por Catarina Frade.

Ao Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores (GOEC) já chegaram, no primeiro trimestre de 2009, 453 pedidos de ajuda. "O consumidor que recorre ao GOEC é, essencialmente, do sexo feminino, casado ou em união de facto e tem entre 35 e 50 anos", explica Sandra Lopes, economista e técnica do gabinete, cuja missão é a de aconselhar os consumidores na gestão orçamental e no recurso ao crédito. "Na maior parte dos casos, as famílias têm crédito à habitação (68%), mas uma boa parte dos consumidores possui apenas créditos pessoais e cartões (42%). Em média, contraem seis créditos", conclui Sandra Lopes.

O desemprego e a deterioração das condições laborais também levam várias famílias à porta do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS), da Associação Portuguesa Para a Defesa do Consumidor, Deco. "O motivo para o não pagamento das dívidas mais referido é o desemprego, seguido de doença de elemento do agregado familiar e deterioração das condições laborais", explica Natália Nunes, do GAS. A investigação liderada por Catarina Frade mostra que as dívidas "não-crédito", como aquelas que são originadas pelos encargos com serviços básicos, telecomunicações móveis, seguros e despesas correntes em bens alimentares e de educação têm vindo a pesar mais no orçamento familiar, mesmo de quem não possui empréstimos.

Um estudo da seguradora Cardif, de 2005, revelava que 60% dos portugueses considerava o recurso ao crédito "uma solução prática para financiar as suas necessidades". "Em Portugal, passou-se de uma taxa de endividamento de pouco mais de 18%, em 1990, para uma taxa de 130%, em 2007, uma das mais elevadas de toda a União Europeia", lê-se no projecto de investigação do OEC.

O crédito representa uma oportunidade de participar no mercado e de assegurar um lugar dentro do grupo social com o qual os indivíduos se identificam ou ao qual aspiram pertencer. Mas os imprevistos acontecem. "É possível que os rendimentos deixem de ser suficientes para fazer face às despesas, decorrentes de uma situação de desemprego ou doença. Quando surgem as primeiras dificuldades de pagamento de prestações, muitas pessoas deixam de abrir cartas que julgam ter avisos de pagamento, não contactam as entidades de crédito e o valor das dívidas tende a aumentar", conclui Natália Nunes.



CINCO PASSOS PARA EVITAR O SOBREENDIVIDAMENTO

1. Faça contas
Elabore um orçamento em que clarifique a capacidade financeira do agregado familiar no presente e a médio prazo. Anote as despesas fixas da habitação, energia, telefone, água, gás e Internet. Por exemplo, se o seu agregado familiar tem rendimentos mensais de 2.500 euros e paga 400 euros de prestação ou renda da casa, vai precisar de, pelo menos, 600 euros para pagar despesas fixas.
Despesas mensais fixas: €600
Rendimento disponível: €1.900

2. Estabeleça prioridades
Faça uma listagem de prioridades de consumo e identifique, à partida, as compras que podem ser adiadas. Alimentação, educação, transportes e saúde são prioridade. Aos 1.900 euros que que sobraram da simulação referida no ponto anterior, subtraia 300 euros em alimentação, 200 em combustível e 100 para eventuais necessidades terapêuticas. Gasta 600 euros por mês.
Despesas prioritárias: €600
Rendimento disponível: €1.300

3. MOdere o recurso ao crédito

Recorra ao crédito para antecipar o consumo, apenas se for considerado indispensável e compatível com a capacidade financeira do agregado familiar. Assim, prosseguindo a simulação, comprar um carro novo pode exigir-lhe uma prestação mensal de 400 euros que irá directamente para o banco.
Crédito: €400
Rendimento disponível: €900

4. Poupe 10% dos rendimentos
Estimule o hábito da poupança, independentemente do valor, e torne-o num objectivo ambicioso. O ideal é conseguir poupar 10% dos rendimentos totais do agregado familiar. Mas, se conseguir poupar dois euros por dia, no final poupou quase 2,5% dos rendimentos mensais que cobrem uma eventual necessidade.
Poupança mensal: €62
Rendimento disponível: €838

5. Aconselhe-se com profissionais
No que toca a decisões financeiras, antes de agir, aconselhe-se com entidades independentes. No sítio www.deco.proteste.pt, pode verificar se a situação financeira lhe permite contrair mais créditos, no simulador "Como gerir o orçamento familiar". Segundo as contas da Deco, a família que o Negócios utilizou como exemplo, não corre risco de sobreendividamento, porque tem uma taxa de esforço (proporção do rendimento de um agregado familiar afecto ao pagamento de um empréstimo, em percentagem) inferior a 35%. Mas a associação alerta para uma eventual subida das taxas de juro ou outros imprevistos que possam desequilibrar o orçamento mensal.
Taxa de encargos globais: 72%
Taxa de esforço no crédito: 32%


QUE FAZER EM CASO DE EMERGÊNCIA

1. Peça ajuda
Solicite apoio independente. O Gabinete de Apoio ao Sobreendividado dá-lhe informação e aconselhamento e pode ajudá-lo no contacto com as entidades de crédito. O Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores ajuda-o a gerir o seu orçamento familiar.
GOEC - 21 392 59 42
GAS - 21 371 02 28

2. Mantenha contacto com os credores
Tente negociar planos financeiros adequados e sustentáveis, que consiga cumprir. Juntos devem encontrar uma solução: não deixe deixar arrastar o problema.

3. Suspenda o recurso ao crédito

Nunca contraia um crédito para pagar prestações de outro. A consolidação de créditos deve ser utilizada apenas para "suavizar" o pagamento da dívida do agregado por mais anos, assegurando um reequilíbrio financeiro do orçamento familiar.

4.Reduza os gastos
Totalize as despesas e defina as que pode anular ou reduzir. Aplique essas mudanças imediatamente. Se anular a subscrição de um serviço de Internet que mal usa ou deixar de tomar o pequeno-almoço fora de casa, pode gerar uma poupança anual de 840 euros. Se a sua mensalidade de Internet rondar os 30 euros e o pequeno-almoço dois euros, poupa 70 euros por mês.

5. Siga o seu plano orçamental
Elabore um orçamento rigoroso para evitar que se endivide em demasia, e aplique-o rigorosamente. No plano que referimos no texto em cima, uma família com 35 mil euros de rendimentos anuais e dois créditos ainda não corre risco de sobreendividamento.


Ver comentários
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio