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Um tigre, dois tigres, três tigres

Os anúncios que passam nas estações de rádio sobre créditos para aquisição de automóvel ou de casa estão cheios de informação bem intencionada mas absolutamente inútil. É o caso dos elementos, obrigatórios por lei, que surgem no final dos "spots" publicitários...

04 de Dezembro de 2009 às 09:33
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Os anúncios que passam nas estações de rádio sobre créditos para aquisição de automóvel ou de casa estão cheios de informação bem intencionada mas absolutamente inútil. É o caso dos elementos, obrigatórios por lei, que surgem no final dos "spots" publicitários. Deviam servir para esclarecer os consumidores sobre características essenciais dos financiamentos anunciados, mas são lidos a um ritmo alucinante. Isto permite a quem paga o espaço poupar uns cobres e fingir que cumpre a legislação, tranquilizando a boa consciência de quem se lembrou de inventar esta ridícula façanha e de lhe dar a força de lei.

Se estes anúncios servissem para alguma coisa, não seria certamente para elucidarem quem tem dúvidas, mas apenas para funcionarem como base para um qualquer júri escolher o locutor capaz de dizer "um tigre, dois tigres, três tigres" mais depressa e sem se enganar. Quem se lembrou de tamanho disparate deve ter achado que o estado da literacia em Portugal estaria tão em baixo e os níveis de irresponsabilidade tão elevados que os potenciais clientes não só tomariam decisões sobre o seu dinheiro a partir de "spots" radiofónicos, como ficariam perfeitamente informados com a nota de rodapé, lida em batida de corridinho.

Este é um apenas um exemplo caricato da forma preguiçosa como se tem encarado em Portugal problemas sérios como a escassez de formação e informação sobre os produtos financeiros que estão disponíveis no mercado português. Mas, também, sobre a indiferença com que as autoridades, incluindo sucessivos governos, foram encarando a supervisão comportamental. De tal forma alheados da realidade que foram descansando em cima de legislação e actuações comprovadamente ineficazes que acabaram por estourar nas mãos de muitos clientes.

Um ano após a nacionalização do BPN e do colapso do BPP, há quem aguarde, ainda, soluções para os dois casos. E, apesar das promessas feitas em cima da fogueira da crise financeira, pouco ou nada mudou na regulação, que permita acreditar que há mais motivos para confiar hoje do que existiam há 12 meses. Como não se pode esperar que a supervisão seja perfeita e que nada lhe escape, apesar de se lhe dever exigir que actue com este objectivo, não deixa de ser alarmante que o combate à iliteracia financeira se mantenha nas mãos de meia dúzia de entidades que vão fazendo aquilo que podem, sem meios, nem apoios. E, no entanto, nas rádios prossegue a competição para se perceber quem diz correctamente TAE ou TANB a velocidade supersónica.

joaosilva@negocios.pt
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