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Tensão nos mercados

A tensão que estamos a assistir no sistema financeiro dos EUA é sintomática de um sistema que tem muitos activos financiados por níveis de alavancagem excessivos. A diminuição dos níveis de alavancagem alcançou um ponto em que se criaram determinados desequilíbrios.

26 de Setembro de 2008 às 00:21
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Não obstante, conclui-se claramente das actuações e comentários recentes que os bancos centrais consideram que o sector privado deveria assumir as consequências dos seus actos, em vez de ser resgatado por instituições públicas.

Deste modo, as empresas e instituições financeiras apressaram-se a aumentar os seus níveis de liquidez. Historicamente, a preferência em manter liquidez dura pouco tempo, embora a história demonstre que qualquer "normalização" da preferência por manter liquidez não gera necessariamente um impulso nas acções. A ironia radica no facto de existir muita liquidez, embora não se encontre nos locais adequados e esteja longe do alcance dos que mais necessitam. O mercado de reporte (repo) será fundamental, uma vez que oferece financiamento aos principais agentes do sistema financeiro. Como assinalou um analista, se este mercado se esgotar, o dano poderá ser superior ao registado até ao momento. Em resumo, a situação actual tem menos a ver com o preço do crédito e mais com a sua disponibilidade.

É fácil esquecer que os últimos dados económicos foram positivos para a economia dos EUA. De facto, o índice Citigroup Economic Surprise situa-se mesmo no seu nível máximo desde Agosto de 2007. Os dados imobiliários publicados há duas semanas foram melhores do que o previsto. O inquérito à confiança do consumidor do Michigan ultrapassou surpreendentemente as previsões, embora as vendas a retalho tenham registado debilidades. Não obstante, os dados do mercado de trabalho continuam a ser motivo de preocupação. Neste sentido, os salários não agrícolas contraíram-se durante oito meses consecutivos e os pedidos de subsídio de desemprego ascenderam a 440.000 durante as últimas quatro semanas. Além disso, a descida publicada esta semana de 1,1% entre meses na produção industrial foi avassaladora, tal como o inquérito Empire. A forte descida de dia 12 de Setembro das vendas a retalho pode ser um sintoma de que o abrandamento está a chegar.

Apesar destes problemas, a Europa preocupa-nos mais, dado que está a abrandar muito rapidamente. Após uma contracção no PIB real de 0,2% entre trimestres no segundo trimestre, parecem prováveis mais descidas no terceiro trimestre, o que situaria a Europa numa situação de recessão técnica. De facto, os indicadores utilizados pela nossa equipa de divisas mostram claramente que é o momento para o BCE relaxar a sua política monetária. No entanto, provavelmente não o irá fazer, devido aos seus temores relativamente às pressões sobre os salários num mercado laboral ainda no limite da capacidade. Devido à falta de liquidez de vários sistemas bancários europeus, o abrandamento económico poderia causar facilmente algumas vítimas importantes, especialmente tendo em conta a rigidez actual da política monetária.

As boas notícias são o facto de as taxas de inflação geral muito provavelmente estarem a atingir máximos a nível global e começarem a descer para o final do ano. Tal deveria eliminar um grande obstáculo para que os bancos centrais efectuem o relaxamento da sua política monetária. As nossas estimativas consideram que, enquanto os mercados de trabalho constituírem um sério risco inflacionista segundo os bancos centrais, o grande impacto negativo no crescimento (PIB) pode aliviar rapidamente esses temores. Em todo o caso, a deflação parece uma ameaça maior neste momento do que há uns meses.

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