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Nem todas as obrigações são iguais (I)

Investir em rendimento fixo nunca é fácil. Embora seja geralmente considerada uma classe de activos mais segura e defensiva, podem haver grandes variações de retorno ao longo das suas diferentes classes. Nos 12 meses até ao...

26 de Maio de 2009 às 10:38
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Investir em rendimento fixo nunca é fácil. Embora seja geralmente considerada uma classe de activos mais segura e defensiva, podem haver grandes variações de retorno ao longo das suas diferentes classes. Nos 12 meses até ao fim de Março de 2009, por exemplo, as obrigações estatais na Europa foram a classe de activos com melhor desempenho, com retornos de 7,7%.

Isto durante um período desastroso para as acções (-36,8%). O mercado monetário também revelou uma boa actuação, com retornos de 4,6%. Em contraste, as obrigações 'investment grade' emitidas por empresas caíram 3,3% e as obrigações 'high yield' (de elevado rendimento) caíram uns alucinantes 23,7%.

Apesar destas diferenças, as vantagens a longo prazo dos activos de rendimento fixo mantêm-se: por hábito, demonstram uma menor volatilidade (e são mais seguras do que as acções), geram um fluxo de rendimento constante e são boas formas de diversificação do património líquido. Estas propriedades defensivas aliadas a um contexto económico de grande incerteza fizeram renascer o interesse desta classe de activos.

De seguida tentaremos fazer cair por terra alguns dos mitos e delinear um guia de investimento, passando por uma discussão dos contextos em que cada uma das classes de rendimento fixo teve um melhor desempenho. Desde logo se percebe um fio condutor - à partida conseguimos prever com bastante certeza a direcção que os nossos investimentos vão tomar consoante haja inflação ou deflação. Com deflação, as obrigações do Estado e as obrigações de alta qualidade emitidas por empresas oferecem as melhores oportunidades.

Havendo inflação, as obrigações 'high yield' e as indexadas à inflação deveriam à partida ter uma melhor actuação. Mas com uma perspectiva económica e de inflação mais incerta do que nunca, acreditamos que o elemento dominante em qualquer estratégia de investimento deve ser a diversificação.

1. Dinheiro - na curva descendente?
Tendo o Banco Central Europeu descido a taxa de juro para 1,25%, os investidores estão tímidos em relação a deixarem o seu dinheiro no banco com retornos tão baixos. Contudo, um baixo retorno sobre o investimento já não é mau em caso de deflação.

Pontos positivos: Preservação do capital, baixa volatilidade, liquidez (retirar o dinheiro caso necessário), eventualmente positivo em caso de deflação (o poder de compra real aumenta).

Pontos negativos: Ganhos baixos, e eventualmente mau em caso de inflação se os bancos centrais forem lentos a subir as taxas.

Veredicto:
Baixas taxas de juro do dinheiro oferecem um forte incentivo para investi-lo noutro sítio.

2. Obrigações do Estado - o vencedor do ano passado?

O facto de, desde a introdução do euro, as obrigações estatais na Europa terem um melhor desempenho do que as acções ou as obrigações emitidas por empresas surpreendeu alguns peritos em investimento. Dando uma olhadela fora da Europa, o tempo de duração deste desempenho superior das obrigações do Estado é realmente impressionante - no Reino Unido já vem desde meados dos anos 80.

Mas após uma sólida actuação em 2008, conseguirão as obrigações do Estado ter um bom desempenho, apesar dos já baixos rendimentos (p. ex. obrigações a 10 anos a 3,2% na Alemanha)? Alguns comentadores do mercado defendem que as obrigações do Estado são uma bolha e oferecem 'risco sem retorno' - se as taxas de rendimento aumentam, os investidores perdem à medida que o valor do seu fluxo de rendimento fixo se perde. Mas há muitas razões para acreditar que ainda há valor nas obrigações do Estado - o BCE tem margem para cortar as taxas ainda mais, o crescimento económico continua lento e num contexto deflacionário estas obrigações oferecem retornos reais atractivos. O Japão é o melhor exemplo disto, e apesar do seu crescente défice governamental, os investidores continuaram satisfeitos a investir em activos com retornos de menos de 2% num contexto de deflação.

A questão do 'Quantitative Easing' (Facilitação Quantitativa) lança mais achas para a fogueira. Trata-se de um método do banco central para aumentar a circulação de moeda comprando activos como dívidas do Estado ou títulos hipotecários de bancos. Embora os bancos centrais dos EUA e do Reino Unido já tenham começado a comprar obrigações do Estado, ajudando a apoiar estes preços, será à partida menos provável que na zona euro o Banco Central Europeu venha a comprar obrigações do Estado devido a preocupações quanto ao favorecimento de certos países e a subsidiação cruzada.

Uma outra complicação tem a ver com a oferta e a crescente emissão de obrigações do Estado, que resulta do aumento dos défices orçamentais. Já vimos leilões de obrigações do Estado a falhar na Alemanha e Reino Unido, e podemos esperar mais casos destes. Há também alguma preocupação no ar quanto à capacidade dos governos conseguirem pagar as suas dívidas. Tipicamente, se os governos controlam a impressão de moeda, então provavelmente estarão mais inclinados a imprimir dinheiro do que a faltar às suas dívidas; na Europa, contudo, a situação é bem mais complexa devido à adesão ao euro.

Pontos positivos: Bom desempenho no seio dum fraco crescimento económico e deflação, continua vivo o apetite dos investidores por activos 'seguros'

Pontos negativos: Inflação, aumento da oferta de obrigações, preocupação com o crédito de países deficitários.

Veredicto: Continuam a ser uma cobertura útil contra o risco e poderão ter uma actuação razoável se as condições económicas piorarem, mas provavelmente encontrarão melhor valor noutros sítios. É de esperar um ano turbulento para as obrigações do Estado.

Por Erick Muller, Head of Fixed Income Product na Fidelity International

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