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Contas ordenado - A tentação que requer cuidado redobrado
Ter dois ordenados disponíveis em vez de um pode ser uma tentação. Mas é necessária cautela. Não fique dependente do salário de avanço e faça contas aos juros que vai ter que pagar.
Ter um salário de avanço disponível na conta pode ser uma verdadeira tentação. Ao abrir uma conta-ordenado pode beneficiar desta vantagem. Porém, nem tudo é positivo. A utilização deste crédito automático acarreta normalmente elevados juros, que podem pesar na sua carteira, pelo que a utilização deste “plafond” deve ser bem ponderada.
As contas-ordenado, que se caracterizam pela domiciliação do vencimento num banco, têm vindo a ganhar popularidade nos últimos anos. Ao contrário das contas correntes, nas contas-ordenado, o banco antecipa o salário, havendo mesmo instituições que creditam na conta um descoberto até duas vezes o vencimento do cliente, como é o caso do Banif e do Barclays. Numa altura em que os encargos das famílias portuguesas não param de crescer com a subida dos preços e o aumento dos juros, nomeadamente no crédito à habitação, o recurso ao salário de avanço fornecido pelo banco é muitas vezes o meio encontrado para conseguir fazer face a todas as despesas. Mas a utilização desse valor não é isenta do pagamento de juros e os bancos cobram TAEG (taxa anual de encargos efectivos global) elevadas.
Nos dez maiores bancos do mercado nacional, as taxas cobradas variam entre os 9,5% e os 24,16%, enquanto a Euribor a seis meses está actualmente nos 4,882%. O Investidor Privado foi fazer as contas de quanto poderá pagar. Aplicando a taxa de juro mais alta entre os bancos analisados, se tiver um salário de 1.000 euros e todos os meses recorrer ao vencimento de avanço disponibilizado pelo banco, pagará 241,6 euros de juros no final do ano. No caso de ser aplicada a TAEG mais baixa, o encargo será de 95 euros ao final de 12 meses.
Para evitar estas situações de dependência, João Fernandes, economista da Deco/Proteste, aconselha a que não se utilize o crédito. “Ainda assim, se utilizar deverá não o tornar um hábito e evitar acumular dívidas”. Apenas uma “necessidade muito premente” pode justificar o seu uso. O economista lembra que, no caso das contas-ordenado, o crédito fica limitado ao salário. Contudo, “se acrescer outro crédito, obviamente aí, torna-se uma situação mais grave”.
Catarina Frade, investigadora do Observatório Nacional do Endividamento dos Consumidores (OEC), realça que “o perigo de descontrolo é semelhante ao dos cartões de crédito e a antecipação deve ser sempre uma situação excepcional e não sistemática, de curta duração e por montante reduzido”.
A investigadora considera que seria importante “uniformizar regras claras quanto a estas contas, nomeadamente montantes máximos permitidos de antecipação, para evitar que uma pessoa pudesse esgotar imediatamente o salário no dia em que o recebe, devido a antecipações que foi fazendo”. Para Catarina Frade, a solução poderia passar por limitar o crédito automático a 50% do vencimento ou adaptar “uma escala diferenciada em função do montante auferido a título de salários”.
João Fernandes lembra que as taxas de juro destas contas são, “em média, mais altas”, salientando, por isso, que para uma situação em que se pretende adiar o pagamento de despesas mensais, o cartão de crédito se apresenta como uma hipótese mais económica, face às contas-ordenado. Os cartões de crédito têm a possibilidade de não haver pagamento de juros, caso seja devolvido o valor utilizado num prazo que varia entre 20 e 50 dias, enquanto que nas contas-ordenado são sempre cobrados juros.
Prós ... |
... e contras |
Isenção de despesas Possibilidade de antecipar ordenado Descontos no crédito |
Efeito “bola de neve” Taxas de juro elevadas Dívida descontada automaticamente |
As taxas de juro dos 10 maiores bancos
O Barclays é o banco que aplica os juros mais baixos, enquanto a TAEG cobrada pelo Banif pode chegar aos 24,16%.
Fonte: sites dos bancos e linhas de apoio ao cliente.
Caso pretenda utilizar o crédito automático disponibilizado pelo banco, não se esqueça de verificar qual é a instituição que lhe oferece as taxas de juro mais baratas. O Investidor Privado comparou os preços, através da informação recolhida nos “sites” das instituições e do contacto telefónico com as linhas de apoio. O Barclays, o BPI e a CGD estão entre os bancos que cobram as TAEG (taxa anual de encargos efectiva global) mais baixas, praticando juros de 9,5%, 9,93% e a partir de 9,99%, respectivamente. No lado oposto da tabela, as taxas aplicadas pelo Santander podem chegar até aos 19,80% e atingir os 24,16% no Banif.