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Bens agrícolas - Investir nas matérias-primas do futuro
A subida dos preços dos bens agrícolas pode criar oportunidades a quem arrisca investir.
Muito se tem debatido no palco mundial sobre a subida inevitável dos preços dos alimentos. Quer pelo aumento da população mundial ou pela produção crescente de biocombustíveis, hoje é quase um dado adquirido que a conta do supermercado vai ficar mais alta. Um rombo para os orçamentos familiares, sem dúvida. Mas do prejuízo é possível fazer uma oportunidade. É necessário aceitar uma boa dose de risco e reservar uma pequena fatia da carteira de investimentos, para poder aproveitar o potencial e a diversificação dos bens alimentares como classe de activos emergente no panorama financeiro internacional.
Dos cereais à pecuária e ao sumo de laranja, os produtos agrícolas são matérias-primas quase tão importantes numa carteira diversificada como o petróleo e os metais. O potencial de valorização que oferecem é semelhante, enquanto a menor correlação com os ciclos dos mercados de acções e obrigações é uma mais-valia. Isto porque também nas “commodities” agrícolas a relação entre a procura e a oferta é uma condição para a subida dos preços.
Este mercado sofreu nos últimos anos profundas mudanças estruturais. O uso de bens agrícolas na produção de combustíveis “verdes” explodiu, ao mesmo tempo que a população mundial duplicou em apenas 30 anos, atingindo os 6,5 mil milhões em 2006. É previsível que este número não abrande, dado o forte crescimento demográfico dos países emergentes. Espera-se que, até 2050, a população mundial chegue os nove mil milhões. Também a melhoria da qualidade de vida faz antever alterações nos hábitos de consumo, com a maior procura de alimentos ricos em proteínas e mais consumo de carne.
Mas o que torna os bens agrícolas num activo em ascensão são os constrangimentos na produção. Os “stocks” de muitos produtos alimentares estão em valores mínimos, reflectindo a diminuição da terra de cultivo e a maior urbanização. Existem, ainda, factores climatéricos pontuais, como se viu este Verão com a seca no Sul da Europa e na Austrália, que impulsionaram a subida dos preços.
Não faltam factores para justificar o potencial de rentabilização deste mercado. Contudo, trata-se de um sector com volatilidade alta, que tem a desvantagem adicional de não ser muito estudado pelos bancos de investimento. Há muito pouco “research” sobre as “commodities” agrícolas. Daí que as gestoras aconselhem uma exposição máxima entre 2,5% a 5% numa carteira diversificada e um prazo mínimo de investimento de cinco anos.
Em Portugal, a opção de escolha é reduzida. Existem apenas dois fundos de investimento especializados neste sector. O DWS Invest Global Alternatives e o Parworld Agriculture, lançado na semana passada. O primeiro tem uma estratégia centrada, sobretudo, em acções de empresas cujo foco do negócio é a indústria agrária ou a produção e comercialização de equipamento agrícola. No último ano, o fundo da DWS valorizou 33,98%, segundo dados da Bloomberg, registando, no mesmo período, uma volatilidade de 15,10%.
A estratégia seguida pelo Parworld Agriculture, gerido pelo BNP Paribas, é sobretudo focada na replicação de dois índices bolsistas: o S&P Goldman Sachs Agribulture and Livestock e o Dow Jones AIG Agriculture. Constituído em Março passado, este fundo tem uma rentabilidade próxima de 15% desde essa data.