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Acções dos mercados emergentes: depois da queda

O ano que passou foi o pior de sempre para as acções dos mercados emergentes (EME), com esta classe de activos a recuar mais de 54% em termos de dólares americanos. Contudo, em termos comparativos, ficaram...

12 de Maio de 2009 às 15:18
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O ano que passou foi o pior de sempre para as acções dos mercados emergentes (EME), com esta classe de activos a recuar mais de 54% em termos de dólares americanos. Contudo, em termos comparativos, ficaram longe do pior a que já se assistiu. No ano passado, as EME tiveram um desempenho inferior às acções globais em 12%. Contudo, em 1998 as EME assistiram a um desempenho inferior em 47%, além de um desempenho inferior relativo de 26% em 1997. A diferença entre o período de 1997/98 e o actual é que o primeiro foi desencadeado por uma crise nas EME que pôs em causa a validade do modelo de investimento para os investimentos no mundo emergente. Pelo contrário, as quedas de 2008 foram provocadas por uma crise económica mundial.

A actual crise financeira com origem nos Estados Unidos teve impacto nas acções dos mercados emergentes devido ao facto de o mundo estar mais aberto e interligado que nunca. Quer do ponto de vista do comércio global, da migração, dos fluxos de capital, da dispersão de Internet, da penetração das comunicações móveis ou das viagens, isto é a globalização no seu pleno, impulsionada pelo crescente fluxo de informação entre os países. Este fluxo de informação é muito menos cíclico que o comércio e está a ajudar a disseminar o conhecimento dos benefícios e das possibilidades da abertura económica e política em todo o mundo em vias de desenvolvimento.

Esta globalização é o suporte estrutural da tese de investimento que está por trás do nosso optimismo segundo o qual o desempenho superior a longo prazo das acções dos mercados emergentes repetir-se-á nos próximos dez a vinte anos. Num mundo no qual o capital, o trabalho e a informação podem fluir de forma mais livre que no passado, é altamente improvável que se mantenha a anomalia através da qual as nações desenvolvidas do G7 constituem 66% do PIB global e 77% dos mercados accionistas globais, mas menos de 12% da população mundial. A longo prazo, tal como nos últimos 20 anos, cada indicador de actividade humana, demográfico, de urbanismo, de educação, de consumo ou de actividade económica no geral tenderá a reflectir o crescente peso e importância do mundo em vias de desenvolvimento.

Num mundo no qual o capital, o trabalho e a informação podem fluir de forma mais livre que no passado, é altamente improvável que se mantenha a anomalia através da qual as nações desenvolvidas do G7 constituem 66% do PIB global e 77% dos mercados accionistas globais, mas menos de 12% da população mundial.
O modelo estrutural para as acções dos mercados emergentes, suportado pela globalização, assenta sobre dois pilares específicos à dinâmica do desenvolvimento económico a longo prazo: o primeiro pilar é a infra-estrutura, que é a base da capacidade física que permite aos países operarem na economia moderna; e o segundo pilar é o consumo pessoal.

Estes pilares reforçam-se mutuamente, uma vez que as infra-estruturas sob a forma de estradas, portos, redes de comunicação, casas, escolas, fábricas e outras instalações urbanas permitem a urbanização e as consequentes melhorias de produtividade que transformam agricultores de subsistência em modernos consumidores, produzindo e consumindo a riqueza que permite o investimento de capital para criar novas infra-estruturas.

Além disso, a criação de uma população urbana proprietária de imóveis irá, inevitavelmente, produzir as alterações políticas que promoverão sistemas políticos estáveis e robustos que, por sua vez, irão estimular o crescente investimento e consumo interno e reduzir a fuga de capital. Este processo tem estado a desenvolver-se na Ásia e na América do Sul e começa a ocorrer, em África. Nada do que aconteceu em 2008 ameaçou estas tendências a longo prazo.

Perversamente, a crise demonstrou a força e o poder da globalização, explodindo o mito da "desacoplagem", popular em determinados Mercados Emergentes no final de 2007.

Desde o início da melhoria estrutural nas economias emergentes, no final dos anos 80, ocorreram quatro significativos mercados em baixa, sendo as excessivas intervenções por parte dos governos em matéria de fixação de preços e de taxas de câmbio um factor recorrente nos anos 90. No actual mercado em baixa dos EME, com excepção para a Rússia e Argentina, os governos não contribuíram negativamente para a venda generalizada. Desta vez, o crescimento e aparente queda dos preços das mercadorias, a rápida repatriação de capital investido em carteiras estrangeiras (revertendo os fluxos de entrada recordes de 2007) e o impacto do colapso do crédito de especuladores internos foram os factores chave. Todos estes são factores cíclicos que, embora graves, não alteram as fundamentais estruturais subjacentes.

Globalmente, as acções dos mercados emergentes oferecem exposição às regiões com mais rápido crescimento do mundo que permanecem muito sub-representadas pelos mercados accionistas globais e que são os maiores beneficiários da globalização. Embora enfrentem os mesmos desafios cíclicos que as empresas do mundo industrializado, as empresas emergentes oferecem retornos e taxas de crescimento mais elevados com menores níveis de dívida que os seus pares do primeiro mundo. Estão também bem posicionadas para beneficiarem dos temas gémeos do investimento em infra-estruturas e aumento de consumo interno, que esperamos que se mantenham durante muitas décadas.

O risco a longo prazo para esta previsão seria uma inversão da globalização e um regresso ao restrito comércio bilateral dos anos 60, aos controlos de capital e à era pré-Internet de informação limitada. Acreditamos que todos estes sejam improváveis. Há acentuados ciclos em redor desta tendência secular, mas este risco cíclico, na nossa opinião, não é a preocupação prevalecente quanto ao crescimento económico, que cria uma oportunidade de aquisição. Pelo contrário, o principal risco é a perspectiva de uma maior valorização do USD, que prejudicaria tanto os valores dos activos dos mercados emergentes como restringiria os fluxos de liquidez para o mundo industrializado.

Importa reconhecer a característica cíclica de uma classe de activos que pode oscilar entre retornos de +40% em 2007 e de -54% em 2008, que uma volatilidade ainda maior de retornos a nível de país e de título único. Contudo, 25 anos de experiência de investimento ensinaram-nos que as melhores oportunidades surgem quando o medo é a principal emoção do investidor. Este parece, certamente, ser o sentimento prevalecente entre os investidores no início de 2009.
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