Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Um negócio de 3,6 biliões de dólares? Foi comunicado na SEC mas é falso

Horas depois do fecho dos mercados em Nova Iorque, no dia 1 de Fevereiro, um morador de Chicago chamado Antonio Lee declarou que tinha passado a ser o homem mais rico do mundo.

António Lee comunicou à SEC que tinha recebido uma oferta de 3,6 biliões de dólares pela sua empresa
25 de Março de 2017 às 09:30
  • ...

Aos 32 anos, o pintor divorciado e pai de três filhos afirmou que a empresa que controla a Google, a Alphabet, comprou a sua empresa de arte dando em troca acções que valeriam mais do que as fortunas combinadas de Bill Gates (Microsoft), Warren Buffett (Berkshire Hathaway) e Jeff Bezos (Amazon).

 

Claro que não era verdade, mas naquele dia, Lee conseguiu colocar a informação na base de dados Edgar, da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (Securities and Exchange Commission, ou SEC), onde são registadas transacções financeiras que movimentam centenas de milhares de milhões diariamente.

 

Há mais de três décadas que a SEC recebe documentos regulatórios através de meios digitais praticamente sem questionar. São submetidos aproximadamente 800.000 formulários todos os anos, ou 3.000 por dia útil. Mas, no coração do capitalismo americano, uma vulnerabilidade pouco conhecida é que o governo não analisa esses documentos e raramente remove os relatos que se sabe que são falsos.

 

"A SEC não consegue pará-los", disse Lawrence West, que já foi director associado da comissão. "A instituição só pode punir depois quem apresentou o documento e remover o documento do sistema. Portanto, o leitor tem de ficar atento."

 

O Congresso americano já soou o alarme. A SEC, que se recusou a fazer comentários para esta reportagem, afirma que quem apresenta os documentos é responsável pela veracidade das informações e que poucos foram expostos como mentira. Submeter informação falsa deixa o culpado vulnerável a acusações de fraude civil pela SEC ou mesmo processo criminal pelo governo federal.

 

Alguns casos geraram custos reais. Em 14 de Maio de 2015, o búlgaro-americano Nedko Nedev submeteu um formulário à SEC avisando que estava efectuar uma oferta pela Avon Products. As acções da fabricante de cosméticos dispararam 20% antes da suspensão das negociações e de a empresa negar a notícia. Nedev foi indiciado por um tribunal federal, acusado de manipulação dos mercados e outras infracções.

 

Imitador de Buffett

 

Documentos falsos continuam a entrar no sistema da SEC. Em Setembro de 2015, uma entidade de Singapura autodenominada LMZ & Berkshire Hathaway submeteu dois formulários regulatórios nos quais afirmava ter participações de 10% na empresa de energia Phillips e 66% na gigante de alimentos Kraft Heinz. A Berkshire, de Warren Buffett, é a maior accionista dessas duas companhias. Os documentos eram assinados por Loreto M. Zamora.

 

Em Novembro, o tal Zamora voltou a atacar, fazendo uma oferta falsa pela Fitbit, fabricante de pulseiras que monitorizam práticas desportivas. A suposta interessada, ABM Capital, listava um endereço em Xangai. A Fitbit nega ter recebido essa oferta. A Berkshire não respondeu a solicitações de comentário da reportagem.

Ver comentários
Saber mais Bloomberg SEC
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio