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"Temos medo de inspeções do Governo". Receio na Moody's antes do corte de "outlook" da China
Com receio da reação de Pequim, os funcionários da agência de notação dos escritórios da China foram aconselhados a ficar em teletrabalho.
Foi num clima de medo que os funcionários da Moody's procederam ao corte de "outlook" para a evolução da dívida soberana chinesa na terça-feira. Antes da publicação da avaliação, a agência de notação recomendou que o pessoal dos escritórios de Xangai e Pequim trabalhasse a partir de casa, avança esta quinta-feira o Financial Times. "Não nos disseram o motivo, mas toda a gente sabe porquê. Temos medo de inspeções do Governo", disse ao jornal um dos trabalhadores.
O FT diz que também os analistas de Hong Kong foram aconselhados a evitar viagens para a China continental.
O objetivo do trabalho remoto nesta situação seria evitar que as autoridades questionassem vários funcionários de uma só vez, aproveitando o facto de estarem concentrados no mesmo sítio - isto num cenário, considerado improvável, de uma "rusga" à agência. Esta é a interpretação dos funcionários entrevistados pelo FT, ainda que a Moody's não o tenha confirmado - nem negado. "O nosso compromisso com a confidencialidade e integridade do processo de rating é absoluto e, por isso, não podemos comentar discussões internas, caso existam, relacionadas com ratings de crédito ou emitentes específicos", disse um porta-voz.
Na terça-feira, a Moody's explicou que a redução do "outlook" reflete a possibilidade cada vez maior de as autoridades estatais terem de providenciar apoio financeiro aos governos e empresas locais com elevados níveis de endividamento. Esta ajuda financeira deverá gerar riscos na qualidade orçamental, económica e institucional da economia chinesa.
A avaliação teve logo repercussões no mercado. O índice das chamadas "blue chips" - as cotadas mais valiosas - chinesas caiu na quarta-feira para mínimos de cinco anos, acompanhando os receios de mais nuvens negras no horizonte económico do país.
A recomendação dada aos funcionários vem evidenciar um desconforto crescente das empresas estrangeiras, que se têm queixado de ser alvo de rusgas, detenções de pessoal ou proibições de entrada no país, uma situação que foi agravada pelo agudizar das tensões entre os Estados Unidos e a China.