Na Premier League inglesa dois em cada cinco ex-jogadores passam por dificuldades financeiras graves num prazo de cinco anos. Apesar de ainda não existirem estudos detalhados, em Portugal o cenário não é muito diferente.

Para impedir que os futebolistas passem, durante ou após o fim da carreira, por situações financeiras delicadas o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) contactou o Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF) para, em parceria, traçarem uma estratégia que levasse a literacia financeira aos relvados.

A táctica deste projecto foi apresentada esta quarta-feira, 19 de Julho. E passa por três eixos. Lúcia Leitão, a representante do Banco de Portugal na CNSF, explicou a estratégia. Numa primeira fase, diagnosticar a literacia financeira e as necessidades dos profissionais de futebol. De seguida, sensibilizar os futebolistas para a importância de uma gestão financeira adequada. E promover a formação financeira, sendo concedida para esse efeito formação de formadores que possam actuar dentro das quatro linhas junto dos futebolistas.

O programa destina-se aos jogadores de camadas jovens, futebolistas no activo e atletas que já se tenham retirado. Para embaixador da iniciativa foi escolhido Rui Jorge. O seleccionador de sub-21 explicou que "é de extrema importância preparar-se o pós-carreira para fazer face a algumas contrariedades" que possam surgir.

E as palestras dos internacionais mais jovens deverão ter também espaço reservado para a formação financeira, com Tiago Craveiro, director-geral da Federação Portuguesa de Futebol, a garantir que nas selecções jovens seria concedido tempo para este tipo de formações.

Os fora-de-jogo financeiros

Joaquim Evangelista (na foto) considera esta iniciativa como fundamental. "Somos confrontados com cada vez mais casos de jogadores em bancarrota".  O presidente da direcção do SJPF observa que entras as principais causas estão relações com amigos ou familiares, processos de divórcio, gestão incorrecta dos recursos financeiros e maus conselhos de investimento.

E alerta para a importância de os futebolistas prepararem o seu futuro devido às características específicas da profissão que concentra "a riqueza num curto prazo de tempo e que tem imprevisibilidade de rendimento", o que pode tornar difícil de gerir a situação financeira em tempos de crise.

O objectivo é aumentar o conhecimento dos futebolistas para diminuir o número de casos de situações financeiras graves após o fecho da carreira.

O plano de treinos

Após o lançamento da parceria foi definida uma espécie de metodologia de treino. Numa primeira fase, até Setembro deste ano, será feito um estudo de diagnóstico sobre os conhecimentos financeiros dos futebolistas.

Dos resultados desse estudo sairão os conteúdos de formação que mais se adequem à realidade dos futebolistas. Seguir-se-ão acções de sensibilização, como dedicar algumas jornadas dos campeonatos profissionais ao tema da formação financeira, a par de iniciativas de formação para jogadores.

O projecto de educação financeira dos futebolistas culminará com a realização de um seminário sobre a educação e gestão financeira dos futebolistas, em Outubro ou Novembro de 2008. A iniciativa insere-se no âmbito do Plano Nacional de Formação Financeira, lançado em 2011 pelo Banco de Portugal, Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

Este plano, conhecido por "todos contam", tem actuado em parceria com entidades como o Ministério da Educação para incentivar a literacia financeira nas escolas, e com o IAPMEI e Turismo de Portugal para promover a formação financeira de empresários e gestores de pequenas e médias empresas.