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Passa a outro e não ao mesmo: o Goldman, o veterano e o ex-menino-prodígio
Sob o sol ardente da Sardenha, executivos de topo do Goldman Sachs embarcaram no iate de 223 pés.
Em Agosto de 2015, Michael Daffey e John Storey levaram as suas esposas para uma missão de cortejo de um cliente improvável: Lars Windhorst, um alemão com uma trajectória polémica que afastou muitos parceiros de negócios no sector financeiro.
Naquela altura, a reputação de Lars Windhorst estava a ser restaurada. O Goldman Sachs estava pronto para discutir um relacionamento – que acabou por meter alguns dos seus profissionais mais reconhecidos num imbróglio jurídico. A pergunta central na disputa é quem foi responsável por permitir uma operação realizada em 2016 — supostamente proposta por Windhorst — que expôs o banco a milhões de dólares de potenciais perdas.
Windhorst, outrora um menino-prodígio que já tinha enfrentado o estouro da bolha das empresas dot.com e a crise financeira, nega qualquer envolvimento.
Nos meses que se seguiram ao encontro no seu iate, Windhorst aumentou a sua relação com o banco. Foram realizadas operações com acções e títulos envolvendo as suas afiliadas, embora o departamento de compliance resistisse a um relacionamento mais estreito, de acordo com pessoas com conhecimento sobre o assunto. Um ano depois, foi realizada a transacção problemática com uma empresa de publicidade digital. Uma investigação interna provocou a demissão de Chris Rollins, que trabalhou no banco durante 16 anos.
Rollins, que assumiu recentemente a presidência da corretora BTIG na Europa, entrou com um processo contra o Goldman Sachs Group num tribunal federal de Manhattan, alegando ter sido usado como bode expiatório para gestores acima dele que cultivaram o relacionamento com Windhorst.
O processo movido por Rollins descreve atitudes de alguns dos principais executivos do banco na Europa, incluindo Jim Esposito, actualmente co-responsável pela área de negociação de activos financeiros, e Richard Gnodde, à frente da divisão internacional. O banco afirma que o caso não tem mérito.
Num comunicado, o Goldman argumenta que Rollins sabia que a instituição tinha receio de lidar com o investidor (que não é identificado pelo nome no processo) e que determinadas autorizações seriam necessárias antes da execução da operação em questão. Alistair Kellie, porta-voz de Lars Windhorst, "nega veementemente" que seja ele a pessoa implicada da queixa.
Tropeços
Hoje com 41 anos, Windhorst ficou famoso ainda adolescente, na década de 1990, quando acompanhou o chanceler Helmut Kohl durante uma viagem oficial pela Ásia. Antes de completar 30 anos, ele já tinha ganho e perdido uma fortuna e chegou a declarar falência pessoal. Mas em 2015, dava festas no Museu de História Natural em Londres e no seu enorme iate no Mar Mediterrâneo.
Windhorst cortejou o Goldman Sachs e outros bancos de Wall Street durante anos, tentando estabelecer um relacionamento mais próximo para investimentos e negociação de activos. Finalmente, estes esforços estavam a dar certo.
Nos meses seguintes, o Goldman Sachs fez parte de um trio que angariou 1,2 mil milhões de dólares para a Etihad Airways e afiliadas. Junto com o banco estavam as corretoras ADS Securities e Anoa Capital, que tinham ligações com Windhorst.
Segundo o processo, no final de 2015, o Goldman Sachs já tinha aberto uma conta em Nova Iorque para o fundo de investimento Sapinda, de Windhorst, mas o departamento de compliance não aprovou uma outra conta em Londres por causa do passado do investidor.
Responsável pelas vendas de acções na Europa, Storey procurava formas de trazer Windhorst como cliente, de acordo com fontes próximas da situação. Em meados de 2016, surgiu uma oportunidade lucrativa.
O fundo de Windhorst comprou uma participação de 20% na Buwog, uma empresa de imóveis na Áustria, e tentou catapultá-la em poucas semanas, através do Goldman Sachs. A transacção foi executada por Rollins e gerou lucro para o Goldman Sachs.
Corretora do Oriente Médio
Inicialmente, um comité do Goldman que faz parte do sistema de compliance não deu a aprovação para a transacção, mas segundo consta no processo, esta postura mudou após uma reunião que envolveu executivos sénior como Daffey, Gnodde e Michael Sherwood, co-responsável pela área internacional.
Em Agosto de 2016, Windhorst conversou com Rollins sobre uma operação que envolveu uma empresa de publicidade digital da qual ele era sócio, a RNTS Media, de acordo com as mesmas fontes. Windhorst propôs que a ADS Securities, corretora com sede nos Emirados Árabes e que tinha actuado na operação com a Etihad, entrasse como compradora da participação se o Goldman Sachs aceitasse actuar na corretagem, segundo as pessoas, que pediram anonimato.
A ADS Securities deixou de pagar por acções da RNTS, deixando o Goldman Sachs com uma conta de 85 milhões de dólares. A ADS afirma que não pode comentar o caso.
Investigação interna
O banco começou a investigar. Logo de seguida, Windhorst foi envolvido noutras disputas judiciais, que já foram resolvidas, e as suas empresas foram reestruturadas.
Na queixa, Rollins afirma que a operação com a Buwog demonstra a disposição do banco de trabalhar com Windhorst, acrescentando que não sabia de qualquer restrição à transacção com a RNTS. Segundo o documento, após uma audiência disciplinar encabeçada por Esposito, Rollins foi demitido em Fevereiro de 2017 por violar as supostas restrições.
Rollins afirma que o Goldman Sachs actuou injustamente ao colocar a culpa nele para evitar uma investigação sobre o que fizeram os seus superiores e o próprio departamento de compliance, impedindo assim um escândalo maior.
(Texto original: Top Goldman Traders Caught Up in Tango With Flamboyant Financier)