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De um prémio de 100 milhões para a cadeia: a ascensão e a queda de um trader
Christian Bittar já foi um dos traders mais bem pagos do Deutsche Bank. O génio da matemática recebeu um bónus de quase 90 milhões de libras (102 milhões de euros) em 2008. Hoje, aos 46 anos, está preso no Reino Unido.
Christian Bittar declarou-se culpado num tribunal de Londres, a 2 de Março, por conspirar na manipulação da taxa de juro de referência conhecida como Euribor. A sentença de Bittar será decidida após o fim de um outro julgamento, no terceiro trimestre.
Foi um momento importante na investigação do Ministério Público britânico que durou seis anos. Bittar é um dos negociadores de activos financeiros mais famosos condenados no caso. "Não seria correcto comentar neste momento", afirmou David Savell, advogado que representa Bittar pelo escritório londrino Locke Lord.
Quando o escândalo chegou às manchetes após a crise financeira mundial, há uma década, o foco inicial estava nos bancos, que pagaram aproximadamente nove mil milhões de dólares em multas por manipular a taxa de referência de empréstimos interbancários em Londres (Libor) e a sua contraparte em euros. A seguir, os procuradores foram atrás dos traders que conduziram a fraude, como Bittar e Tom Hayes, do UBS Group, que foi o primeiro a ser condenado no inquérito das autoridades britânicas.
O Deutsche Bank foi multado em 2,5 mil milhões de dólares em 2015 por não impedir a manipulação de taxas de juros e Bittar figurava notavelmente nos documentos das autoridades. Identificado como "Gestor B" pela Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido e como "Trader Três" pelo Departamento de Justiça dos EUA, Bittar foi acusado de participar na conspiração para a definição da Euribor.
Bittar já era famoso no meio financeiro de Londres muito antes de o escândalo vir à tona.
Bittar fez uma fortuna para o Deutsche Bank no mercado de juros de curto prazo durante o caos de 2008. A sua estratégia foi apostar que as taxas dos empréstimos em euros a três e seis meses subiriam mais depressa do que as taxas para operações de um mês. E correu bem quando o Lehman Brothers Holdings faliu, em Setembro de 2008, e os bancos se recusaram a conceder empréstimos aos seus concorrentes a não ser por períodos curtíssimos.
Só naquele ano, Bittar recebeu um bónus de 90 milhões de libras. Mas não nasceu em berço de ouro. Cresceu no Senegal e depois frequentou uma universidade de primeira linha em França, segundo duas pessoas que pediram anonimato.
Após a licenciatura, Bittar foi trabalhar como analista quantitativo no Société Générale em Paris, foi promovido a trader e depois contratado pelo Deutsche Bank em Londres. Mais tarde, foi transferido para Singapura pelo banco alemão.
Mr. Basis Point
Colegas no banco apelidaram-no de Mr. Basis Point (Senhor Ponto Base) por causa das apostas em variações ínfimas nos juros de curto prazo.
Mesmo depois de enriquecer, continuou a morar com a esposa e os filhos numa casa em Londres modesta para os padrões do meio em que circulava. O seu carro era discreto, assim como as suas roupas. Chegava ao trabalho todos os dias às 6:30 da manhã.
Apesar dos prémios gigantescos, Bittar diversas vezes insistiu com os seus superiores em ser aumentado. Ameaçava despedir-se e trabalhar para um hedge fund se as suas exigências não fossem atendidas, de acordo com um ex-colega.
Mas o fim foi rápido para Bittar quando começaram as investigações sobre a manipulação de taxas nos EUA e Reino Unido. Foi demitido em Dezembro de 2011.
O seu cargo dava direito a uma percentagem dos lucros que ele gerava para o banco. Quando foi demitido, perdeu cerca de 40 milhões de euros em ações que não podia vender. Logo após a demissão, foi trabalhar para o hedge fund BlueCrest Capital Management, mas ficou lá pouco tempo.
No acordo de 2015, o Departamento de Justiça dos EUA afirmou que o "Trader Três" (Bittar) foi o negociador de derivados que mais deu lucro ao banco entre 2003 e 2010.
(Texto original: From a $126 Million Bonus to Jail: The Fall of a Star Trader)