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Comboio de Wall Street deixa S&P 500 em máximos históricos e valoriza 50% desde março

O índice de referência norte-americano junta-se ao Nasdaq Composite e renova máximos históricos, apesar da incerteza em torno da recuperação económica.

Reuters
18 de Agosto de 2020 às 15:08
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Depois de vários dias a ameaçar, o S&P 500 atingiu esta terça-feira o valor "intraday" mais elevado de sempre. Pouco depois da abertura da sessão em Wall Street o índice transaciona acima dos 3.393,52 pontos, superando assim o anterior recorde histórico fixado a 19 de fevereiro, antes de a pandemia se ter feito sentir nos mercados bolsistas em todo o mundo.

O índice composto pelas 500 maiores empresas norte-americanas acumula já uma valorização superior a 50% desde os mínimos do ano fixados em a 23 de março.

Esta repentina subida marca a recuperação mais rápida da história desde um período de "bear market", quando um ativo ou índice cai mais de 20% desde o último pico máximo, tendo demorado apenas menos de cinco meses a conseguir esse feito. O último máximo anterior estava em cerca de oito meses, e quando o preços das ações estava muito mais baixo, em 1982. 

Para além do S&P 500, o índice de referência em Wall Street, também o tecnológico Nasdaq Composite voltou a renovar máximos de sempre nos minutos iniciais desta sessão, negociando pela primeira vez acima dos 11.200 pontos. Este ano, o Nasdaq valoriza quase 40% e desde o início de 2019, acumula um ganho de quase 80%.

O atual suporte orçamental e monetário fornecido pelo governo e pela Reserva Federal dos Estados Unidos, que tem comprado todos os ativos possíveis no mercado, tem dado apoio às bolsas de Wall Street, permitindo ao S&P 500 acompanhar o caminho da recuperação registada em 2009, no recuperar da última grande crise financeira.

Contudo, o grande protagonista desta esguia recuperação é o setor tecnológico, devido sobretudo aos ganhos das gigantes como a Apple, a Amazon, a Microsoft e a Alphabet, dona da Google. Este desempenho muito superior aos restantes setores tem levantado questões quanto à sustentabilidade dos mercados bolsistas, trazendo de volta os fantasmas da bolha das dot.com, que rebentou no início deste séculoApesar de existirem muitas semelhanças entre os dois períodos históricos, as diferenças levam os analistas a pensar que a mesma bolha não rebenta duas vezes.

Robert R. Johnson, professor da área financeira da Heider College of Business, no Nebraska, nos EUA, usa a frase do escritor norte-americano (com pseudónimo) Mark Twain, falecido no início do século XX, para explicar ao Negócios a atual corrida às ações de algumas cotadas do setor tecnológico: "A História nunca se repete, mas de vez em quando rima."

Esta boa prestação dos mercados em todo o mundo, e nos Estados Unidos em particular, tem também por base o ambiente de taxas de juro negativas, como explica ao Negócios, Thomas Shohfi, professor assistente no instituto de Rensselaer, em Nova Iorque, explicando que os mercados de ações são "muito mais aliciantes", tendo em conta o patamar dos juros de dívida soberana. Os juros a dez anos dos EUA negoceiam nos 0,6%, enquanto os da Alemanha seguem nos -0,5%.

Warren Buffett, o investidor mais conhecido do mundo e dono da Berskeshire, assumiu que tem estado enganado este tempo todo, numa conferência de imprensa, tendo dito que "elas [taxas de juro] vão estar negativas por muito tempo. É melhor ter ações, alguma coisa sem ser títulos de dívida".

Isto depois de ter tirado mais de um quarto do dinheiro que tinha no banco norte-americano Wells Fargo e cerca de 61% do rival JP Morgan, na mesma altura que comprava uma nova posição na empresa Barrick Gold, mineradora de ouro, de acordo com um comunicado do regulador dos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission.
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