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Aumento do risco de Portugal atira Bolsa para queda de 5%

A bolsa portuguesa sofreu hoje uma violenta queda de 4,98% - a mais acentuada desde Novembro de 2008 e a 13ª pior de sempre - devido à subida do nível de risco da dívida pública portuguesa e à especulação dos investidores de que Portugal não será capaz de controlar as contas públicas. O PSI-20 registou o quarto pior comportamento em todo o mundo, numa sessão em que Madrid liderou as perdas ao ceder perto de 6%.

04 de Fevereiro de 2010 às 16:42
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A bolsa portuguesa sofreu hoje uma violenta queda de 4,98% - a mais acentuada desde Novembro de 2008 e a 13ª pior de sempre – devido à subida do nível de risco da dívida pública portuguesa e à especulação dos investidores de que Portugal não será capaz de controlar as contas públicas. O PSI-20 registou o quarto pior comportamento em todo o mundo, numa sessão em que Madrid liderou as perdas ao ceder perto de 6%.

Com todas as cotadas do índice português a caírem mais de 1%, o PSI-20 terminou nos 7.442,99 pontos, o nível mais reduzido desde o início de Agosto do ano passado. A descida de 4,98% foi a 13ª maior de sempre do índice português, desde que este foi criado em 1993.

A queda diária da bolsa de Lisboa foi a quarta mais acentuada em todo o mundo. Budapeste (4,52%), Varsóvia (5,77%) e Madrid (5,94%) apresentaram quedas mais acentuadas. Foi aliás a preocupação com as contas públicas de Portugal, Espanha e Grécia (Atenas recuou 3,3%) que motivaram as perdas nos mercados accionistas em todo o mundo.

Se de manhã os índices europeus perdiam menos de 1%, no fecho de Lisboa já cediam mais de 2%. Em Wall Street os índices apresentam também fortes perdas, com os investidores a temerem o contágio da crise da Grécia – já bem evidente em Portugal e Espanha – a outros países da área do euro.

Os receios dos investidores reflectiram-se na forte subida das “yields” das obrigações do tesouro e no aumento do CDS para níveis recorde.

A banca foi o sector mais castigado, mas as quedas foram generalizadas. A REN, com uma queda de 1,91%, registou a descida mais ténue do PSI-20. Foram 14 as cotadas a desceram mais de 5%, com a queda mais intensa a ser protagonizada pela Sonae Indústria (9,49%).

Na banca o BES e o BPI desceram mais de 7% e o BES caiu 5%. Na construção Teixeira Duarte, Brisa e Mota-Engil caíram mais de 6%.

“Não me lembro de uma situação semelhante”
António Seladas
Analista do Millenium


Os analistas consideram que o Governo português terá que dar sinais aos mercados de confiança e mostrar que o país vai reduzir o défice para 3% do PIB em 2013.

António Seladas, director de investimento do Millennium BCP manifestou à Lusa a sua preocupação relativamente à situação do mercado português pelo facto de o que está a motivar a queda do PSI 20 serem factores "exógenos" ao mercado.

"A estabilização dos mercados será difícil. O Orçamento de Estado não chegou. É necessário algo mais credível porque estas situações não são fáceis de gerir", avisou.

“Não me lembro de uma situação semelhante à que estamos agora a viver", disse Paulo Rosa, da LJ Carregosa, acrescentando que o poder político não deverá nesta altura "subestimar o mercado de capitais", nem assumir uma posição de ataque às agências de 'rating'.

"Temos que aliviar a tensão e dar confiança aos investidores estrangeiros que conseguiremos baixar o défice para os 3 por cento através de medidas concretas", acrescentou.

A “preocupação relativamente ao corte do ‘rating’ da dívida portuguesa” é o que está a levar o índice nacional a registar as perdas da sessão de hoje, segundo explicou ao Negócios um especialista do Millennium BCP.

“Com esta descida [dos preços das acções] é possível que algumas empresas ajustem [ao corte do ‘rating’] antes do corte do ocorrer”, avançou o especialista que adiantou que mesmo assim, a ocorrer, a redução da classificação da dívida portuguesa poderá espoletar um efeito de “panic selling”


“O foco [dos investidores] está a mudar para Portugal e Espanha, onde os planos de redução do défice são menos ambiciosos do que o da Grécia”, comentou à Bloomberg Kornelius Purps, analista da UniCredit Markets. “O factor de risco nos mercados de crédito é a crise de confiança nos países periféricos da Zona Euro” adiantou o analista Stefan Kolek à agência de notícias Bloomberg.

Pressão na dívida

O nervosismo relacionado com o mercado português teve início ontem e resultou de uma conjugação de factores negativos: o Comissário dos Assuntos Económicos e Monetários, Joaquim Almunia, afirmou ontem que os problemas que afectam a Grécia são também partilhados por outros países, como Portugal e Espanha; o ICGP vendeu apenas 300 milhões de euros numa emissão de bilhetes do tesouro, quando tinha antecipado colocar 500 milhões e, por outro lado, repetiram-se as declarações sobre a debilidade da economia portuguesa.

Os investidores estão assim a demonstrar fortes preocupações com a dívida portuguesa, mas também com a da Grécia e de Espanha, exigindo uma maior rentabilidade para comprar estes títulos.

No fecho da bolsa nacional a “yeild” das obrigações do tesouro portuguesas a 10 anos subia 4 pontos base para 4,704%, o nível mais elevado dos últimos 11 meses.

Por outro lado, o “credit default swap” da dívida portuguesa a 10 anos subiu para um recorde. Tudo sinais que os investidores estão a atribuir um maior risco às suas aplicações em Portugal, que tiveram um forte impacto na negociação das acções das empresas, também elas penalizadas pelo aumento dos juros da dívida pública.

A propósito do comportamento dos mercados, Teixeira Santos considerou que os investidores estão a penalizar Portugal depois de a Grécia sair do centro das atenções. Os mercados estiveram “muito focados numa presa. A Grécia parece ter-se desembaraçado [e os investidores] agora viraram-se para outra. Viraram-se para nós”, afirmou o ministro, acrescentando que “sem razão”, pois “não temos nada a ver com a Grécia”.

Teixeira dos Santos até mandou uma mensagem que poderia acalmar os mercados, mas não surtiu o efeito. O plano português para conter o défice "não será menos ambicioso que o grego, ajustado à realidade, que é diferente", disse.


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