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A vida noturna de um trader condenado por “insider trading”
Choucair foi condenado por "insider trading", tendo sido acusado de usar o fascínio do Tramp e o "estilo de vida glamoroso" para convencer Fabiana Abdel-Malek, então diretora de compliance do UBS Group, a passar informações confidenciais que lhe renderam 1,4 milhões de libras (1,6 milhões de euros).
"Conhece o Walid", pergunta a jovem rececionista na discreta entrada da 40 Jermyn Street, no sofisticado bairro de Mayfair, em Londres.
A resposta pode determinar se entra ou não no Tramp, um clube privado famoso por "50 anos de libertinagem de celebridades" que foi visitado por Frank Sinatra, pelos Beatles e pela cantora Rihanna. O clube voltou a ganhar notoriedade como o epicentro do maior caso de informação privilegiada de Londres dos últimos anos.
Se a resposta for "sim, eu conheço Walid", a pessoa pode ter acesso a um clube exclusivo que se intitula "o lugar favorito de Londres para o mau comportamento" e o site Londonist descreve o clube como "discoteca hedonista em Mayfair, onde estrelas de cinema e deuses do rock vieram beber".
O Walid em questão é Walid Choucair (foto à esqueda), corretor e membro de longa data do clube, que foi condenado num caso de informação privilegiada por um júri de Londres na semana passada.
Os promotores alegam que Choucair, de 40 anos, usou o fascínio do Tramp e o "estilo de vida glamoroso" para convencer Fabiana Abdel-Malek, então diretora de compliance do UBS Group, a passar informações confidenciais que lhe renderam 1,4 milhões de libras (1,6 milhões de euros) com operações. Abdel-Malek também foi condenada no caso.
Os dois foram condenados a três anos de prisão pela juíza Joanna Korner, que determinou que cumpram pelo menos metade do tempo na cadeia. Choucair e Abdel-Malek planeiam recorrer, de acordo com os seus advogados.
Uma visita ao clube nos últimos meses e no final do ano passado, durante um julgamento anterior que terminou com um júri suspenso, revelou uma pouco do estilo de vida de Choucair fora do tribunal. Embora muitas vezes tenha ido ao tribunal com casacos de capuz, no Tramp liderava a banda do clube, tocando guitarra, cantando e entretendo amigos.
Depois de a rececionista cruzar os dados do convidado por telefone com o nome de Walid ou outro membro, a pessoa é encaminhada por um lance de escadas sob o olhar atento do gerente David Fleming, que pode expulsar observadores indesejados e garante que a regra de décadas do clube seja seguida: o que acontece no Tramp, permanece no Tramp.
Fleming, uma testemunha no julgamento que confirmou a tendência de Choucair de esbanjar dinheiro desde 2001, despertou o interesse do júri quando disse que o seu clube já recebeu três atores de James Bond simultaneamente e que também era um ponto de encontro da princesa Diana e Dodi Fayed.
Embora haja menos frequentadores do que há meia década, disse Fleming, a taxa anual para sócios ainda custa cerca de mil libras por ano, acima das 10,5 libras quando o clube foi aberto em 1969. O fundador Johnny Gold escreveu um livro chamado "Tramp’s Gold" 30 anos depois, com prefácio do ator e frequentador assíduo Michael Caine.
Champanhe e snacks
Os promotores alegam que, em 2013 e 2014, Choucair recebeu regularmente Abdel-Malek, os seus amigos e familiares, para noites e aniversários, com contas a ascenderem a 8 mil libras, incluindo garrafas de três litros de champanhe e lanches à meia-noite.
Abdel-Malek (na foto à esquerda) testemunhou que só bebeu uma ou duas taças de champanhe e que dificilmente valeria a pena deitar fora a sua carreira. A mulher de 36 anos, que ainda morava em casa dos pais e ganhava menos de 100 mil libras por ano, disse ao júri que ele nunca a deixaria pagar.
A juíza Korner considerou que ficou "claro que [Abdel-Malek] gostou e fez pleno uso da entrada no estilo de vida que estava a ser liderado por Choucair." "Não há dúvida de que ambas as ações foram deliberadas, desonestas e comprometidas durante um ano."
(Texto original: Inside the Members-Only Tramp Club at the Heart of an Insider-Trading Scandal)