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Recomendações para "comprar" Tesla levantam sobrolhos em Wall Street
Os analistas do Goldman Sachs e do Morgan Stanley adoram as acções da Tesla. Os bancos onde trabalham são clientes frequentes e os timings das recomendações estão a gerar dúvidas em Wall Street.
Patrick Archambault, analista do Goldman Sachs, decidiu recentemente aumentar o "rating" das acções da Tesla de "neutral" para "comprar".
Uma recomendação que gerou algum desconforto em Wall Street, uma vez que surgiu apenas três dias após o banco de investimento ter sido contratado pela fabricante de automóveis para liderar uma emissão de acções da cotada.
O Goldman Sachs refutou qualquer correlação entre o aumento de capital e a subida de recomendação do seu analista, afirmando que os dois departamentos do banco ("research" e vendas) são completamente independentes.
Se a recomendação do analista da Goldman fez muita gente "levantar o sobrolho" em Wall Street, o historial de recomendações do analista do Morgan Stanley é ainda mais "estranho", assinala a Bloomberg.
A Tesla também contratou o Morgan Stanley para organizar o aumento de capital mais recente, tal como tinha feito em Agosto do ano passado para emitir novas acções. Os títulos foram colocados junto dos investidores a 242 dólares cada um. Apenas três dias depois, Adam Jonas aumentou o preço-alvo do Morgan Stanley para a Tesla de 280 dólares para 465 dólares.
O motivo? A Tesla está na linha da frente no fabrico de automóveis sem condutor e tal poderia ajudar a criar um negócio semelhante ao da Uber. Uma justificação um pouco estranha já que a Tesla nunca até agora falou em apostar num serviço concorrente ao da Uber, refere a Bloomberg. A verdade é que as acções da Tesla subiram 7% nos dois dias posteriores à recomendação da Morgan Stanley.
Na notícia que publica esta terça-feira, a Bloomberg assinala que não existem quaisquer indícios de que as equipas de "research" e vendas do Goldman Sachs e do Morgan Stanley tenham violado as regras que exigem uma separação total entre os dois departamentos.
Mas a agência de notícias descreve uma série de acções dos analistas dos dois bancos que tiveram forte influência nas cotações dos títulos. Em Fevereiro do ano passado Adam Jonas duplicou o preço-alvo da Tesla para 320 dólares, devido ao potencial do negócio de baterias da companhia. As acções dispararam 14%.
A 14 de Maio de 2013 o analista da Morgan Stanley já tinha duplicado o preço-alvo da Tesla, depois de a companhia ter anunciado, quatro dias antes, que tinha registado o primeiro trimestre de resultados líquidos positivos. As acções subiram 10% nos dois dias seguintes à publicação do "research".
Até hoje, este acabou por ser o único trimestre em que a Tesla anunciou lucros. Também o analista do Goldman Sachs aproveitou o anúncio de 2013 para elevar o preço-alvo da Tesla de 45 para 61 dólares. Oito dias depois a fabricante de automóveis contratou este banco para liderar uma emissão de dívida.
Entre o primeiro trimestre de 2013 e o primeiro trimestre de 2014 o Morgan Stanley vendeu cerca de 2 milhões de acções da Tesla. No mesmo período o analista deste banco passou o preço-alvo de 47 dólares por acção para 320 dólares por acção. Três dias antes de Adam Jonas ter colocado o preço-alvo da Tesla nos 320 dólares, o Morgan Stanley e o Goldman Sachs lideraram mais uma emissão de dívida da empresa.
As acções da Tesla foram colocadas no mercado, em 2010, a 17 dólares cada uma e hoje estão a negociar acima dos 200 dólares, pelo que quem seguiu estas recomendações não deve estar arrependido. Ainda assim o Morgan Stanley destaca-se pelo optimismo na avaliação, já que tem um preço-alvo de 333 dólares, bem acima dos 250 atribuídos pelo Goldman Sachs.
As recomendações dos dois analistas estão a fazer levantar muitos sobrolhos em Wall Street, mas Patrick Archambault e Adam Jonas não são os únicos que adoram a Tesla, pois são vários os bancos que atribuem preços-alvos superiores.
A euforia dos analistas com a Tesla ajuda a explicar porque o mercado está a avaliar a companhia em mais de 30 mil milhões de dólares. A Tesla só por um trimestre obteve lucros e no ano passado registou receitas de 4 mil milhões de dólares. O valor de mercado é três vezes superior ao da Fiat Chrysler e não está muito distante do da General Motors, que tem lucros anuais de 9 mil milhões de dólares. Um valor que mais do que duplica as receitas da Tesla.