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Wall Street regressa aos dias de "sell-off"
Depois de dias mais calmos, a incerteza e os receios regressaram e a sessão de hoje foi uma "tempestade perfeita", com vários factores a contribuírem para o sentimento negativo. As quedas dos principais índices foram superiores a 3%.
As bolsas do outro lado do Atlântico afundaram nesta sessão de terça-feira, pressionadas pela junção de vários factores: as dúvidas quanto a um acordo comercial EUA-China, a possibilidade de um Brexit desordenado e o estreitamento do "spread" entre as várias maturidades da dívida norte-americana.
O Dow Jones encerrou a cair 3,10% para 25.027,07 pontos e o Standard & Poor’s 500 perdeu 3,24% para 2.700,06 pontos.
Por seu lado, o tecnológico Nasdaq Composite recuou 3,80% para 7.158,43 pontos.
Na sessão de ontem, os investidores congratularam-se com o facto de os presidentes dos EUA e da China, Donald Trump e Xi Jinping, terem acordado no passado sábado – à margem do G20 – tréguas de três meses para que as negociações sobre as relações comerciais decorram num contexto mais tranquilo.
Este acordo veio intensificar a expectativa de que Washington e Pequim consigam chegar a um entendimento que ponha termo à aplicação mútua de tarifas aduaneiras adicionais.
Contudo, foi sol de pouca dura. E muito à conta de Trump. Mas não só. O presidente norte-americano publicou vários tweets, dando a entender que ainda muito caminho a percorrer para um acordo com a China.
"As negociações com a China já começaram. A menos que se decida um prolongamento, terminarão 90 dias após a data do nosso maravilhoso e acolhedor jantar com o presidente Xi na Argentina", começou por escrever Trump. Até aqui, nada que fizesse soar os alarmes. Em seguida publicou que a sua equipa irá trabalhar no sentido de ver se é de facto possível um verdadeiro acordo com Pequim. "Se assim for, esse acordo acontecerá. É suposto a China começar a comprar produtos agrícolas, e mais, de imediato. O presidente Xi e eu queremos que este acordo aconteça, e provavelmente acontecerá", escreveu.
Foi o que escreveu a seguir que alarmou os mercados: "Mas se esse acordo não acontecer, lembrem-se…. Sou um Homem de Tarifas. Quando as pessoas ou países tentam aproveitar a grande riqueza da nossa nação, quero que paguem pelo privilégio de o fazerem. Será sempre a melhor maneira de maximizar o nosso poderio económico. Neste momento estamos a arrecadar milhares de milhões de dólares em tarifas. VAMOS TORNAR A AMÉRICA RICA DE NOVO".
As bolsas, que já estavam debilitadas devido aos receios de uma saída desordenada dos britânicos da União Europeia, ficaram ainda mais desestabilizadas – com o Dow Jones a cair repentinamente 800 pontos.
Além destes dois factores, um outro teve bastante influência: a curva de rendimentos das obrigações norte-americanas está a horizontalizar. Ou seja, os investidores pedem juros para apostar na dívida de curto que estão cada vez mais próximos dos exigidos para o longo prazo. O que costuma indiciar a possibilidade de uma recessão pois os investidores estão a mostrar um maior receio de aplicar o dinheiro no curto prazo.
Os juros da dívida a 10 anos caíram hoje para o nível mais baixo desde meados de Setembro, sublinhou a Reuters. O "spread" entre as "yields" das obrigações a 10 anos e a 2 anos também "encolheram" – ficando com a distância mais estreita desde o início da crise financeira em Janeiro de 2008, "fazendo com que alguns investidores comecem a achar que se está a aproximar um período de contracção económica dos EUA", referiu a agência noticiosa.
A Boeing, a Caterpillar e a Apple estiveram entre as cotadas que mais pressionaram o Dow Jones – com a empresa da maçã a penalizar também fortemente o Nasdaq.
No S&P 500, a banca foi o sector com pior desempenho, arrastada sobretudo pelo Citigroup, Bank of America, JPMorgan e Wells Fargo.
Recorde-se que amanhã os mercados estarão encerrados nos Estados Unidos, em dia de luto nacional pela morte do 41.º presidente do país, George H. W. Bush, no dia 30 de Novembro.