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"Sobrevivente" do Lehman prepara-se para crise de crédito
Gomez-Bravo, que gere 4,5 mil milhões de dólares em ativos de renda fixa, está de partida.
Pilar Gomez-Bravo entende alguma coisa de crises financeiras. Deu dicas sobre o mercado de crédito no Lehman Brothers durante cerca de uma década até ao estouro da última bolha.
Hoje Gomez-Bravo é gerente de portfólio da MFS Investment Management e vê estranhas semelhanças entre a atual corrida por risco e a onda especulativa que a deixou cautelosa na véspera da última bolha.
Gomez-Bravo decidiu vender títulos "junk", de alto risco, remando contra a maré com uma aposta de que o rali da dívida está com os seus dias contados - com o potencial de apanhar de surpresa fundos com milhares de milhões de dólares em ativos alavancados e, muitas vezes, ilíquidos.
"Há uma arte em saber quando ir embora da festa", disse a diretora de renda fixa da empresa para a Europa, numa entrevista. "Na verdade, acabou - as pessoas estão desesperadas e a caçar depois da festa. Provavelmente restam apenas algumas horas."
Gomez-Bravo, que gere 4,5 mil milhões de dólares em ativos de renda fixa, está de partida. A gestora cortou a sua exposição aos títulos de alto rendimento para 10% em relação aos 30% em 2016, num de seis fundos irrestritos com 160 milhões de euros, com ganhos de quase 10% nos últimos 12 meses.
A sua deixa para ir embora da festa surgiu há algumas semanas, quando os spreads médios de títulos de alto rendimento dos EUA caíram abaixo de 375 pontos base, um nível que, no passado, significou retornos excedentes negativos no prazo de um ano. É o mesmo limite que tornou o famoso "touro de crédito" Bob Michele, do JPMorgan Asset Management, em "urso" no mês passado.
Como gestora de uma enorme quantidade de fundos globais de crédito, Gomez-Bravo vê as sempre criticadas opacidade e alavancagem dos emissores de títulos "junk" num ponto crítico.
Mais de um terço das empresas privadas com títulos de alto rendimento na Europa, por exemplo, restringem o acesso a dados financeiros de alguma forma, de acordo com a análise da Bloomberg no início deste ano. Investidores devem receber uma compensação extra de empresas que restringem o acesso aos balanços com sites protegidos por senha, segundo Gomez-Bravo.
Os emissores ainda têm uma certa vantagem nos EUA e na Europa, graças às políticas de juros baixos. Os rumores de que o Banco Central Europeu se prepara para outra ronda de flexibilização quantitativa alimentam o rali - e mascara balanços frágeis.
No entanto, se os investidores saírem da festa cedo demais, correm o risco de deixar os lucros na mesa. Gomez-Bravo está a vender títulos "junk" em alta e a assumir um maior risco político, com investimentos em governos como Grécia e Itália.
"Há mais risco do que recompensa agora", disse.
Quando o Lehman colapsou, Gomez-Bravo era gestora de carteiras no braço de investimentos do banco. Antes disso, foi analista de crédito sénior no Lehman, mas decidiu mudar de cargo em 2006, segundo a própria, devido à frustração com um "espírito animal sem controlo."
Assim como os pessimistas da altura, Gomez-Bravo não previu a gravidade da crise. Em maio de 2007, Gomez-Bravo adotou uma postura de cautela em relação ao risco dos EUA e emitiu alertas sobre a saúde dos balanços corporativos - que repercutem com a intensa procura por rendimento hoje.
(Texto original: A Lehman Survivor Is Prepping for the Next Credit Downturn)