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Pode a "Black Monday" repetir-se?

Há exactamente 30 anos, os índices dos Estados Unidos viviam a maior queda diária de sempre: o Dow Jones caiu 22,6%. Na bolsa de Lisboa, a desvalorização aconteceria na sessão seguinte. Seria hoje possível um recuo desta dimensão num único dia?

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19 de Outubro de 2017 às 08:00
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É frequente na linguagem financeira utilizar o adjectivo "negro" para qualificar uma sessão negativa nos mercados. Mas a verdadeira "segunda-feira negra" aconteceu há exactamente 30 anos. Em Wall Street, o Dow Jones perdeu 23% em apenas um dia. E, em Portugal, a derrocada aconteceu no dia seguinte, terça-feira. Três décadas e muitas crises depois, esta continua a ser a sessão mais "negra" dos mercados accionistas. E os especialistas acreditam que muitas coisas mudaram para impedir um recuo desta dimensão. 

A bolsa de Lisboa tinha, em Outubro de 1987, 91 empresas cotadas, de acordo com os dados disponibilizados pela Euronext Lisbon. Trata-se de mais do dobro do número de empresas que estão hoje na praça portuguesa. Investir na bolsa estava na moda e esse foi mesmo o ano em que ocorreram mais ofertas públicas de venda (OPV) na praça portuguesa.

Foi Cavaco Silva quem veio travar a euforia quando, a 13 de Outubro, afirmou que na bolsa "está a vender-se gato por lebre". Seis dias depois, aconteceria o "crash" em Nova Iorque. Na altura, a bolsa estava fechada às segundas-feiras, pelo que só no dia seguinte se deu a queda. As sessões seguintes foram de pânico para muitos investidores que tinham hipotecado tudo para investir.

Esta euforia é uma das diferenças face ao período actual. O PSI-20, indíce de referência nacional que foi criado em 1992, conta agora com 18 cotadas, isto depois de um período em que foram várias as empresas a sair de bolsa e poucas a querer entrar. Além disso, naquelas sessões negativas, os investidores queriam vender as suas acções, mas não havia quem as quisesse comprar. Hoje em dia, as acções são vendidas mesmo que a um preço mais baixo porque se encontra sempre quem compre.

"O ‘crash’ de 1987 foi resultado da negociação baseada em programas informáticos que estava na altura a começar. Os programas reagiram todos no mesmo sentido e provocaram um desiquilíbrio na negociação", lembra Miguel Athayde Marques. Nos últimos anos, "a negociação baseada em algoritmos tornou-se mais importante e agora temos computadores potentíssimos a fazer negociação, o que tem um potencial de risco enorme", realça o professor de gestão da Universidade Católica.

Mas, frisa o também antigo presidente da Euronext Lisbon, a DMIF II pretende vir a dar uma resposta a "esta tendência de negociação, que já representa mais de 50% das transacções nos principais mercados". "Vamos aprendendo com os erros", pelo que "os reguladores e as bolsas têm vindo a melhorar os seus sistemas de segurança", defende.

"Pode até haver novos ‘crashs’, como já houve, mas dificilmente será daquela forma tão repentina e tão acentuada", acredita Octávio Viana. Nos últimos anos, "foram acautelados uma série de mecanismos para o evitar, nomeadamente a suspensão da negociação quando há variações expressivas", realça o presidente da Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM). Por outro lado, "a juntar à conjuntura macroeconómica, a falta de regras de mercado em alguns produtos criaram as circunstâncias para a queda de 1987", frisa. "O mercado hoje é mais global e comunica muito rapidamente. Comunica de forma eficiente, o que antes não acontecia", conclui.

"A tecnologia e a sofisticação da negociação são hoje muito diferentes do que eram em 1987, mas é importante que haja ética e responsabilidade dos operadores" para evitar novas sessões "negras" nos mercados, conclui Athayde Marques.
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